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Vila Pouca de Aguiar avança com projeto-piloto para integração de refugiados

24 jul, 2020 - 09:25 • Olímpia Mairos

Com o setor do granito em franco crescimento e com falta de mão de obra, Vila Pouca de Aguiar vai integrar refugiados no mercado de trabalho. O projeto é direcionado para 30 famílias, perspetivando-se a chegada ao concelho de cerca de 100 pessoas.

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O concelho de Vila Pouca de Aguiar prepara-se para acolher refugiados no âmbito de um projeto-piloto para integração e trabalho no setor do granito.

A indústria de extração e transformação de granito está em franco crescimento e “só não cresce mais”, diz o presidente da Associação dos Industriais do Granito (AIGRA) porque “o Interior tem falta de mão de obra”.

“Apesar da desertificação e de muita gente nova ter ido para o estrangeiro, continuaram a abrir empresas e estas empresas nos últimos anos foram crescendo devido às regenerações e requalificações urbanas por toda a Europa. O nosso setor está a crescer e não cresce mais por falta de mão de obra”, afirma Mauro Gonçalves.

O empresário conta à Renascença que “ao longo dos últimos dois anos” têm tentado “de todas as formas cativar a população para ingressar no setor”, mas que “não têm sido possível porque já não há mão de obra”.

A solução, diz, teria que passar sempre pela importação de mão de obra estrangeira, o que “não é fácil, dadas as burocracias” e é aqui que surgem os refugiados como uma forte possibilidade.

“Os refugiados são muito mais fáceis de entrar no mercado de trabalho”, afirma o empresário. E é nesse sentido que a associação e a autarquia de Vila Pouca de Aguiar têm vindo a trabalhar e já esta sexta-feira, com a visita das secretárias de Estado da Valorização do Interior, Isabel Ferreira, e das Migrações, Cláudia Pereira, e do representante do Alto Comissariado para as Migrações, José Reis, pode “ficar fechado” um protocolo com vista à implementação deste “projeto pioneiro”.

Trinta famílias da Síria, Iraque e Venezuela

O projeto está delineado para trinta famílias. “Iremos receber cerca de 100 pessoas” da Síria, do Iraque e algumas da Venezuela”, explicita o presidente da AIGRA, acrescentando que o objetivo não se fica só pela importação de mão de obra para fortalecer um setor que neste momento está em crescimento.

Daí só aceitarem “pessoas que venham em família, ou seja, este é também um projeto de integração das pessoas na sociedade e na comunidade”.

“Nós queremos que essas pessoas se instalem no nosso território, se fixem, para que a desertificação não seja tão sentida”, assinala.

As primeiras seis famílias de refugiados que estão a viver no Egito e na Turquia, e são originários, maioritariamente, da Síria e Iraque, poderão chegar a Vila Pouca de Aguiar em setembro ou outubro.

“São famílias com filhos e, neste momento, estamos preparados para os receber, já com os respetivos contratos de trabalho para começarem a trabalhar”, adianta.

Mauro Gonçalves garante que “terão contrato de trabalho, habitação e todas as condições de acessibilidade. As crianças terão direito a frequentar o ensino escolar, transporte e alimentação”.

Em termos de ordenados, numa primeira fase os trabalhadores vão auferir o ordenado mínimo nacional, mas Mauro Gonçalves acredita que “a curto espaço de tempo irão ganhar mais dinheiro”.

Para uma mais fácil adaptação à região, estão previstos cursos de língua portuguesa “para conseguirem comunicar com as entidades patronais”, adianta Mauro Gonçalves, acrescentando que vai ser criado um grupo preparado na Câmara Municipal e na associação com psicólogo e assistente social” para ajudar à integração.

“Estamos a falar de um projeto sério, pioneiro em Portugal, que poderá trazer grandes frutos para o Interior do país”, realça o presidente da AIGRA.

O projeto, para já, contempla o setor do granito, mas há a possibilidade de se estender ao setor da construção civil.

“Acredito que o setor da construção civil e os seus sub-ramos irão aproveitar essas pessoas também, assim como a agricultura e outros setores. Para o ano, estaremos a ver outros concelhos do interior a adotar as mesmas medidas”, conclui o presidente da Associação dos Industriais do Granito.

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  • Os escravos uteis
    24 jul, 2020 Escravatura City 10:04
    Que maravilha, Refugiados a chegar, leia-se mão-de-obra ao preço da chuva e sem poder reivindicativo. Mais uns escravos para explorar. O sonho do patronato português...

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