07 jul, 2020 - 18:33 • Ana Carrilho
Veja também:
O maior impacto que esta pandemia vai ter é ao nível da arquitetura dos próprios espaços, refere a diretora executiva da Lionesa, Eduarda Pinto, em conversa com a Renascença. E deixa a imagem: “vamos voltar aos escritórios dos anos 50, com secretárias muito grandes e uma ocupação por metro quadrado inferior á que tínhamos”.
Com o distanciamento imposto pela pandemia, as empresas não poderão ter no mesmo espaço as pessoas que tinham antes. Portanto a lógica terá de ser a de não haver postos de trabalho fixos; “cada colaborador chega e ocupa a secretária livre”. Por outro lado, é necessária alguma rotatividade, turnos, dias de teletrabalho, outra gestão dos recursos humanos, afirma Eduarda Pinto.
A Lionesa é o grande centro de negócios do Porto. Instalado em Matosinhos, tem cerca de 120 empresas e mais de cinco mil colaboradores. Mais de 60% das empresas são da área das tecnologias e inovação. Algumas, multinacionais que têm ali a sua base portuguesa.
Com o confinamento, quase todos os trabalhadores passaram ao regime de teletrabalho mas segundo Eduarda Pinto, por esta altura, cerca de 20% das empresas já regressaram à atividade no centro de negócios, embora sem a totalidade dos funcionários, “há cerca de 300-500 pessoas a trabalhar”. A perspetiva da gestora é que até setembro, 50 a 60% dos colaboradores voltem, “depois é navegação à vista, vamos ver como correm as coisas”.
Entretanto, todas as empresas se têm preparado para o regresso, assim com a própria Lionesa. As intervenções dão cumprimento às orientações da Direção Geral de Saúde, mas também há um fomento do uso dos espaços exteriores.
Com equilíbrio, teletrabalho faz todo o sentido
Para a maior parte das empresas instaladas na Lionesa, sobretudo as tecnológicas, o teletrabalho já faz parte das rotinas. Para outras, foi uma novidade. “E se 60% das empresas nacionais usou o teletrabalho pela primeira vez, por força da pandemia, há aqui um percurso e uma aprendizagem a fazer”, frisa Eduarda Pinto.
Para a gestora, tem que haver uma linha a separar o profissional do pessoal. E com horários. “Durante o confinamento, as pessoas achavam que estávamos disponíveis a qualquer hora para fazer uma reunião, marcavam em cima do momento, a qualquer hora e em qualquer. Como experiência, ficou claríssimo que só faz com que piore a vida pessoal das pessoas. Numa altura em que se discute a saúde física e mental das pessoas, isto não tem nada de bom. Mas foi numa situação extrema de pandemia!”
No entanto, Eduarda Pinto considera que, com equilíbrio, o teletrabalho pode ser uma ferramenta extremamente útil e produtiva. “Uma ou duas vezes por semana, no máximo porque o trabalho de equipa é muito importante para reter talento”.
A diretora executiva da Lionesa considera que há algumas questões a regulamentar, mas é, sobretudo, uma questão cultural. “Nós, latinos, temos muito aquela ideia do controle, precisamos de ter os trabalhadores perto de nós, para os controlar. Mas é preciso perceber que as pessoas não precisam de estar no escritório para produzir. A confiança não se faz por via do controle. Vai levar algum tempo”.