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Coronavírus

Doentes devem voltar ao hospital para se recuperar consultas em atraso, diz bastonário

27 mai, 2020 - 18:13 • Lusa

Algumas pessoas, como por exemplo os doentes oncológicos, têm de compreender que as suas doenças são muito mais graves, à partida, que a Covid-19, diz Miguel Guimarães.

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O bastonário dos médicos defendeu esta quarta-feira que é preciso passar “uma mensagem muito forte” à sociedade para os doentes não terem medo de ir aos hospitais e se poder recuperar os atrasos nas consultas e cirurgias causados pela pandemia.

As listas de espera no Serviço Nacional de Saúde são “a preocupação principal, não pela lista de espera em si, mas pela condição de que uma coisa chamada medo está a ter nas pessoas”, disse o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, na Comissão Parlamentar de Saúde, onde foi ouvido a pedido do CDS-PP sobre "as medidas de combate à Covid-19".

Por esta razão, “vamos ter que começar a passar uma mensagem muito forte para a sociedade civil de que as pessoas não podem ter medo de ir aos hospitais”, disse.

O bastonário salientou que, “neste momento, as unidades de saúde já estão plenamente organizadas em termos de circuitos covid e não covid”.

O número de infetados internados “é muitíssimo menor” do que era “há três ou quatro semanas” e os doentes prioritários, como os oncológicos, têm que “interiorizar que a sua doença, à partida é muito mais grave que a covid”.

“Sendo a covid-19 potencialmente grave” e nalguns casos fatal, na grande maioria das pessoas não tem essa gravidade”, enquanto uma “doença complicada” como um enfarte agudo do miocárdio, um acidente vascular cerebral ou uma doença oncológica são situações “claramente mais graves” do que a infeção pelo SARS-CoV-2.

Para o bastonário, o atraso que está a haver no diagnóstico, nas inscrições cirúrgicas e nas consultas “é muito preocupante”.

Deu como exemplo, a listas de espera para cirurgia na ARS Norte que era menor há duas semanas do que no fim de fevereiro.

“Isto preocupa-me porque significa que temos muitos, mas muitos doentes para recuperar”, observou.

“E, portanto, nós temos que passar esta mensagem para que os doentes também não continuem a faltar, porque um dos problemas que temos é que as pessoas ainda têm medo de ir às unidades de saúde e em particular aos grandes hospitais”, frisou.

Ainda sobre a retoma da atividade assistencial, afirmou que “é uma questão complexa e que está a ser estudada pela Ordem dos Médicos”.

“Nós não temos ainda um plano global para a retoma” e “temos limitações que vamos ter de resolver”, disse, dando como exemplo o Hospital de São João, no Porto, onde trabalha e onde tem uma limitação de seis doentes pelo período de consulta (manhã ou tarde).

Miguel Guimarães confessou que “gostava de ver mais doentes porque senão é muito difícil” conseguir recuperar, defendendo que, nesta fase, “como disse noutro dia a senhora ministra da Saúde, é necessário utilizar o setor privado ou social” como complementar ao SNS ou então têm de mudar-se as regras.

Admitiu, contudo, ser difícil mudar as regras sobretudo nos hospitais maiores que têm nos períodos de consultas habituais cerca de 20 doentes.

“Nós temos milhares de pessoas no hospital que potencialmente podem passar a infeção e, portanto, temos que conseguir diminuir o número de pessoas que em cada momento está no hospital”, mas vincou que é preciso encontrar um ponto de encontro no sentido de podermos ver mais doentes.

Como propostas apontou “períodos salteados” para “não haver uma grande agregação de doentes nos hospitais” e a limitação de um acompanhante por doente.

Dados avançados na semana passada pela ministra da Saúde, Marta Temido, indicam que desde 16 de março até final de abril, os cuidados primários perderam mais de 800 mil consultas médicas face ao período homólogo de 2019. Nos hospitais ficaram por realizar 540 mil consultas e 51 mil cirurgias.

Portugal regista esta quarta-feira 1.356 mortes relacionadas com a covid-19, mais 14 do que na terça-feira, e 31.292 infetados, mais 285, revelam os dados da DGS.

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