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​Portugal gasta em saúde mental apenas a terça parte do que deveria

25 mai, 2020 - 19:18 • José Carlos Silva

As contas são do director do Programa Nacional de Saúde Mental. Miguel Xavier considera que o ano de 2020 seria o da mudança nesta área e de reformas que a pandemia está irremediavelmente a atrasar.

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O director do Programa Nacional de Saúde Mental, Miguel Xavier, considera que Portugal apenas gasta um terço do que devia na área da saúde mental

Miguel Xavier diz que o ano de 2020 seria o da mudança nesta área e de reformas que a pandemia está irremediavelmente a atrasar.

O director do Programa Nacional de Saúde Mental insiste: “Há uma evolução, embora ténue. Mas há um grande apoio do governo”.

Com a pandemia da Covid 19, os problemas de saúde mental dos portugueses vieram à tona de água e, com eles, as fragilidades do sistema de saúde para tratar destes casos.

Miguel Xavier não esconde que à semelhança de muitos outros países, Portugal está longe de investir o que devia na saúde mental. As contas são simples, e apresentadas pelo próprio: “O impacto da saúde mental - em termos da carga global das doenças - ronda em Portugal os 15 por cento. O que significa que devíamos investir 15 por cento do dinheiro da saúde, na área da saúde mental. O único país que anda lá perto é a Inglaterra com 14 por cento. Nós não gastamos mais de 5 por cento”.

Depreende-se pelo que diz este especialista, que há muito por fazer. O ano de 2020, devia ser excepcional na opinião de Miguel Xavier porque tinham sido garantidas “no Orçamento Geral do Estado, medidas que eram cruciais para a reforma da saúde mental. O azar que tivemos, foi este, o da emergência da Covid logo em Fevereiro. Porque eu estou convencido que teriam sido dados passos importantíssimos para a reforma da saúde mental em Portugal, porque pela primeira vez estava tudo escrito e tudo previsto no Orçamento Geral do Estado”.

Miguel Xavier, acredita que ainda não é demasiado tarde, que ainda será possível dar um forte impulso às reformas, mas tudo depende da evolução da pandemia.

O especialista tenta aliviar a sensação de que o país está mergulhado numa enorme loucura. Lembra que numa primeira fase, os psiquiatras perderam muitas primeiras consultas, desmarcadas por força da obrigação de “ficar em casa”. Pelo oposto, as segundas consultas aumentaram muito, comparando com igual período do ano passado, realizadas sobretudo por meios informáticos, portanto, à distância.

Acrescenta que para os psiquiatras há nesta altura como que dois grupos prioritários: Quem tem casos graves para resolver; e os profissionais de saúde, desgastados, com rotinas rompidas, muitos próximo do “burnout”.

Aos restantes, todos nós, os que sentem mais forte as ondas desta tremenda tempestade, aconselha o recurso aos centros de saúde, às equipas, aos psicólogos se aí os houver, e ao médico de família.

Nem tudo é mau...

Miguel Xavier reconhece que a Covid 19 pode ter ajudado a reduzir o estigma do cidadão face ao psiquiatra e à psiquiatria.

"Tudo o que servir para colocar a saúde mental na agenda médiática é positivo para retirar o estigma. Até porque as pessoas acabam por perceber, ouvindo falar que há muitas pessoas com sintomas depressivos e sintomas de ansiedade, que não são diferentes dos outros”, remata

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