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​Obesidade é um fator de risco em caso de infeção por Covid-19

22 mai, 2020 - 13:35 • Olímpia Mairos

Doentes e profissionais de saúde temem efeito do novo coronavírus no agravamento da obesidade em Portugal.

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A obesidade é uma doença que representa um fator de risco para desenvolvimento de complicações no contexto de infeção por Covid-19. O alerta é do presidente da Associação dos Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO).

Carlos Oliveira considera que “é fundamental lembrar que, tal como a Covid-19, a obesidade também é um problema de saúde pública em Portugal e tem de ser tratada como tal”.

“É urgente retomar cirurgias e consultas, olhar com seriedade para a necessidade de comparticipação do tratamento farmacológico e sobretudo promover os hábitos de vida saudáveis para que quem já tem excesso de peso não agrave o seu problema devido à pandemia”, defende.

Segundo um estudo do Instituto Ricardo Jorge, divulgado no início do ano, mais de metade (62%) dos portugueses são obesos ou pré-obesos. Uma realidade que pode agravar-se na sequência da quarentena e da suspensão de cirurgias e consultas, alertam os especialistas.

A endocrinologista Paula Freitas, que preside à Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), reforça a ideia sublinhando a necessidade de, em Portugal, a obesidade “ser tratada como a patologia grave que é”.

“É preciso um diagnóstico mais atempado e reencaminhamento dentro do sistema de saúde, apostar na promoção de uma melhor educação para a saúde e promoção correta da perda de peso”, defende a preside da SPEO.

A médica endocrinologista considera ainda a “necessidade de uma reestruturação dos programas de tratamento existentes no nosso país”, considerando fundamental “dotar os profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários de conhecimentos sobre o tratamento global da obesidade, mas também de meios físicos e económicos”.

“E todas estas medidas são particularmente importantes neste contexto de pandemia que vivemos hoje”, alerta.

Obesidade infantil vai aumentar

Os dados sobre o impacto da pandemia na obesidade infantil em Portugal, ainda não estão disponíveis, mas as previsões da Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil (APCOI) não são muito positivas. Estima que o confinamento tenha um impacto direto no peso corporal das crianças que se poderá traduzir num aumento médio de 10%.

Segundo o presidente da APCOI, Mário Silva, "vários estudos científicos anteriores à pandemia já tinham demonstrado haver aumento de peso durante os períodos de férias escolares, principalmente entre as crianças que já tinham excesso de peso e obesidade”.

De acordo com os cálculos realizados pela APCOI, se cada criança por dia tiver ingerido em média cerca de 200 a 300 calorias extra, por exemplo, através do consumo adicional de algumas fatias de bolo ou bolachas, sem ter aumentado na mesma proporção o seu gasto energético diário através de atividade física, isso significa que nos últimos dois meses, aproximadamente terão sido acumuladas 12.000 a 18.000 kcal a mais, o que corresponde a um aumento de peso de pelo menos 2 kg.

Já Marisa Oliveira, presidente da Associação Portuguesa dos Bariátricos (APOBARI), mostra a sua preocupação relativamente ao acesso às cirurgias considerando que estas contribuem para tratar muitos casos de forma quase definitiva.

“Graças à cirurgia bariátrica controlamos a obesidade e deixamos de sofrer de inúmeras comorbilidades associadas à doença. Adquirimos uma melhor qualidade de vida e deixamos de ser grupo de risco. É por isso que, mesmo durante a pandemia, é preciso continuar a tratar cirurgicamente as pessoas com obesidade, pois, além de estarmos a tratar esta doença, estamos também a diminuir o risco de complicações em caso de infeção por Covid-19”, defende.

Os profissionais de saúde realçam que, além do risco de complicações em caso de infeção por Covid-19, a obesidade tem “um enorme impacto na saúde, estando associada a mais de 200 outras doenças, como diabetes, dislipidemia, hipertensão arterial, apneia do sono, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, incontinência urinária, e cerca de 13 tipos de cancros, sendo ainda responsável por alterações musculoesqueléticas, infertilidade, depressão, diminuição da qualidade de vida e mortalidade aumentada, o que faz com que represente também um grande fardo do ponto de vista económico, pelos seus custos diretos e indiretos”.

Obesidade provoca e acelera doenças

Segundo Carlos Oliveira da ADEXO, “não é a obesidade que está associada às doenças cardiovasculares, não é a obesidade que está associada à diabetes, não é a obesidade que está associada às doenças respiratórias e apneia do sono. É a obesidade que provoca e acelera todas estas doenças”. Por isso, deve ser “considerada uma doença com tratamento prioritário”, afirma.

Este sábado celebra-se o dia Nacional de Luta contra a Obesidade. ADEXO, APOBARI e APCOI aproveitam a efeméride para solicitar às pessoas com obesidade que sigam “à risca todas as regras de distanciamento social e higiene respiratória, para evitar a infeção por coronavírus, e apelam ao Ministério da Saúde para que o tratamento e prevenção da obesidade não sejam colocados em segundo plano”.

Para assinalar o Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, as organizações lançaram o site “A Verdade sobre o Peso” (www.averdadesobreopeso.com), com informação cientificamente validada sobre os vários fatores que podem influenciar o excesso de peso: genética, hormonas, ambiente, aspetos biológicos e psicológicos de cada indivíduo, sono e stress.

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  • mewtwo
    24 mai, 2020 14:28
    Estar vivo, é o maior e mais importante factor de risco.
  • VITOR GOMES
    22 mai, 2020 PORTO 19:07
    Fator de risco é a compra seja do que for à China. Comprar à China é a mesma coisa que rasgar notas de 500 euros e deitá-las ao lixo. A China é falsa e enganadora.

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