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Ensino artístico à distância: “É impossível tocar ao mesmo tempo nas plataformas digitais”

20 abr, 2020 - 12:13 • Manuela Pires

Tal como milhares de alunos, também os estudantes de música do conservatório nacional estão a ter aulas á distância. Mas aqui a dificuldade aumenta. Há aulas impossíveis de realizar através das plataformas digitais, como orquestra, coro e música de câmara.

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Inês Kosters, 18 anos , estuda no 12.º ano na Escola de Música do Conservatório Nacional, m Lisboa. Está a terminar o secundário e, ao mesmo tempo, está a preparar as candidaturas ao ensino superior.

Inês já tinha decidido que o futuro passava por estudar no estrangeiro, mas com a pandemia da Covid 19 teve de cancelar viagens à Holanda e à Bélgica, onde iria fazer as provas de ingresso. Mas nada está perdido. "Os professores destas universidades têm sido muito compreensivos e permitem que os alunos enviem vídeos ou possam fazer as audições através do zoom ou outra plataforma”, conta Inês Kosters, em entrevista à Renascença.

A partir de casa, Inês já fez uma prova para Roterdão e outra para Haia. Está a candidatar-se a um curso de canto e a outro de oboé. “No caso do oboé, eles pediram para eu enviar gravações, mas há outras provas de teoria sobre a formação musical e essa foi feita através de uma plataforma que eu já conhecia."

Inês já recebeu uma resposta positiva, mas este é um processo que vai durar muitos meses. Enquanto isso, é preciso acabar o ensino secundário. Inês está a estudar, mas ainda não sabe como é que vai fazer a prova de aptidão artística necessária para finalizar os estudos. Desde que a escola fechou que grava vídeos com o telemóvel e envia para os professores. “Mas não é a mesma coisa, o som é mau e nós precisamos de tocar com outras pessoas”. Aliás, há aulas impossíveis de realizar, como, por exemplo, orquestra, coro ou música de câmara porque o “atraso é muito grande e não permite qualquer sincronização entre os vários instrumentos”, desabafa.

Dar aulas de violeta à distância

Ricardo Mateus é professor de violeta na Escola de Música do Conservatório Nacional e está a dar as aulas a partir de casa. Dividiu o dia com a companheira, que é professora de violino: ele dá as aulas de manhã, ela da parte da tarde.

Mas é um quebra-cabeças tentar dar uma aula a vários alunos através das plataformas digitais. “O som é muito mau porque é comprimido, depois o atraso é enorme e impossibilita tocarmos ao mesmo tempo. Nós tínhamos pianistas acompanhadores nas salas de aula, mas isso não é possível, os alunos não podem tocar com mais ninguém”, relata Ricardo Mateus em entrevista à Renascença.

Mas há mais dificuldades. As plataformas digitais “encurtam a quantidade de informação que transportam, o que faz com que nos instrumentos mais graves os microfones cortem as frequências mais graves e também as mais agudas e deixa-se de ouvir”, acrescenta Mateus, concluindo que a qualidade sonora da música é praticamente inexistente.

Apesar das dificuldades, Ricardo Mateus encontrou alternativas pedindo aos alunos para enviarem vídeos uma vez por semana. Diz que desta forma “consegue-se uma melhor qualidade sonora, mas não posso corrigir no mesmo instante. No fim de todas as aulas, vejo todos os vídeos e só passados uns dias posso falar com eles, através de um telefonema, de um e-mail, ou de uma aula 'online'”.

O professor do Conservatório Nacional acredita que a maioria dos seus alunos, já de si muito motivada, está a estudar mais, mas não pode aferir a qualidade do trabalho porque essa avaliação só pode ser feita presencialmente.

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