Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Morreu o músico Pedro Barroso

17 mar, 2020 - 15:54 • Ricardo Vieira , Maria João Costa , com Lusa

Com uma discografia com mais de 30 discos, Pedro Barroso tinha completado 50 anos de carreira no último ano. Cantor de intervenção, era conhecido no universo musical como “o último trovador português”.

A+ / A-

O músico, cantautor e trovador Pedro Barroso morreu na segunda-feira à noite. O cantautor tinha 69 anos.

A notícia foi revelada pelo filho, Nuno Barroso, numa mensagem divulgada esta terça-feira na rede social Facebook.

"Lamento informar o falecimento do meu pai António Pedro da Silva Chora Barroso", escreveu o filho.

Pedro Barroso encontrava-se internado "em fase terminal" desde o passado dia 7 de março, tinha informado, anteriormente, Nuno Barroso.

"Viva quem canta" ou "Menina dos Olhos de Água" são alguns dos temas bandeira do cantautor nascido em Lisboa, em 1950.

Pedro Barroso, o último trovador

Com uma discografia com mais de 30 discos, Pedro Barroso tinha completado 50 anos de carreira no último ano. Cantor de intervenção, era conhecido no universo musical como “o último trovador português”.

Nascido em 1950 em Lisboa, numa família de Riachos, Torres Novas, onde viveu desde a infância, e que sempre considerou a sua terra natal, Pedro Barroso teve também uma carreira fora das fronteiras portuguesas. Costumava dizer que se não tivessem sido as cantigas “não tinha conhecido mundo”. Atuou em países como Brasil, Espanha, França, Bélgica, Suécia, Suíça, Luxemburgo, Hungria, Alemanha, Canadá, Estados Unidos ou na China.

Os seus primeiros passos no mundo artístico foram através do Teatro Radiofónico onde se estreou em 1965, tinha então 15 anos. Mas Pedro Barroso era também artista plástico e pintor. "Irei dedicar-me mais ao Pedro Chora, pintor, que é uma outra faceta minha, e ao Pedro Barroso, escritor” disse quando há 10 anos celebrou 40 anos de carreira musical.

Recentemente tinha terminado as gravações do álbum "Novembro", em que assumia o seu adeus à música. O álbum está pronto a ser editado. Fernando Matias, o editor adiantou à Lusa que o CD inclui um dueto com o músico Patxi Andión, que morreu num acidente em dezembro último.

Estudou música na Fundação Musical Amigos das Crianças, para onde entrou em 1959, prosseguiu-os como autodidata, e retomou-os na década de 1980, com a pianista Maria Luísa Bruto da Costa.

Em 1964, através da escritora Odette de Saint-Maurice, fez teatro radiofónico na ex-Emissora Nacional, altura em que, influenciado, por cantores franceses como Barbara, Gilbert Bécaud, Charles Aznavour, Edith Piaf, George Brassens e Leo Ferré, começou a compor e a cantar.

Estreou-se em 1969 no programa televisivo "Zip-Zip", acompanhado por Pedro Caldeira Cabral (guitarra portuguesa) e Pedro Alvim (viola). O primeiro disco, o EP "Trova-dor", saiu em 1970.

Nesse ano iniciou uma colaboração como músico e ator com o Teatro Experimental de Cascais, onde se manteve até 1974. Durante esse período dirigiu igualmente o Orfeão Académico de Lisboa (1970-1973).

Sem nunca esconder a oposição à ditadura do Estado Novo, nas suas composições, após o 25 de Abril de 1974 participou ativamente nas Campanhas de Dinamização Cultural do Movimento das Forças Armadas (MFA), pelo país.

Licenciado pelo Instituto Nacional da Condição Física, em 1973, estudou também Psicoterapia Comportamental. Lecionou a disciplina de Educação Física, no ensino secundário, durante mais de 20 anos. Entre 1986 e 1990, orientou ateliers de psicoterapia comportamental, no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa.

Em 1982, foi autor e apresentador, na RTP1, do programa "Musicarte", ao qual se seguiu, em 1988, no mesmo canal, "Tempo de Ensaio".

Na altura tinha já lançado o seu primeiro álbum, "Lutas Velhas Canto Novo" (1976), ao qual se seguiu um segundo LP, "Água Mole em Pedra Dura" (1978), que incluía um poema de José Saramago ("Afrodite"/"Nasce Afrodite, Amor, Nasce O Teu Corpo"), musicado por si.

Colaborou em projetos musicais de Ildo Lobo, do fadista João Chora e da cantora Simone de Oliveira. Abriu a década de 1980 com o LP "Quem Canta Seus Males Espanta", distinguido com o Troféu Karolinka no Festival Menschen und Meer (Pessoas e Mar, em tradução literal), da antiga República Democrática Alemã. Em 1988 editou "Pedro Barroso".

Nesta época trabalhou também com Maria Guinot (1945-2018), José Jorge Letria, atual presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), e participou no álbum "100 anos do 1.º de Maio" (1986). Em 1990, editou o álbum "Longe d'Aqui", a que se seguiram "Cantos d'Antiga Idade" (1994), "Cantos d'Oxalá" (1996) e "Criticamente" (1999).

"Crónicas da Violentíssima Ternura" datam de 2001, a que se seguiu "De Viva Voz", em 2002. Em 2004 assinalou 35 anos de carreira com "Navegador do Futuro" e, em 2009, os 40 com "Sensual Idade". Em 2012 publicou "Cantos da Paixão e da Revolta".

Nas suas canções, Pedro Barroso musicou também poetas portugueses como Cesário Verde e Sophia de Mello Breyner Andresen, e o Prémio Nobel José Saramago. É ainda autor dos livros "Contos Falados" (1996), "Das Mulheres e do Mundo" (2003), "Contos Anarquistas" (2009), "Memória Inútil de Mim" (2012), "Palavras Malditas" (2013).

Promoveu o chamado "Manifesto sobre o estado da Música Portuguesa", que viria a abrir caminho à legislação em vigor, sobre quotas de emissão.

Foi homenageado, em 2008, na Gala "Vozes de Abril", da Associação 25 Abril, no Coliseu de Lisboa. Foi distinguido com prémios nacionais e no estrangeiro, e recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores, em maio de 2017. Nesse ano lançou o álbum "Artes do Futuro", e atuou no Teatro Tivoli, em Lisboa, e no Coliseu do Porto.

Deu o último concerto a 20 de dezembro de 2019. Na véspera escreveu na sua página oficial, na rede social Facebook: "Sim. Corto a 'jaqueta de forcado' amanhã [dia 21], no velho Teatro Virgínia, pelas 21:30 - com testemunho de 600 cúmplices [espectadores]; e quero dizer com isto, que cesso atividade como músico, não me retirando obviamente, nem como homem das ideias, nem das artes, nem das palavras. E da diferença. Não abandono a intervenção crítica, nem a cidadania, pelo menos enquanto o último neurónio mo permitir".

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Rosa Alexandre
    17 mar, 2020 Sesimbra 16:52
    A melhor voz masculina de Portugal calou-se... Foi um gosto todos estes anos acompanhada por sua música... Descanse em Paz.

Destaques V+