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​Coronavírus. Especialista preocupado com “imprevisibilidade do vírus”

28 jan, 2020 - 10:31 • Carla Fino

Pneumologista considera, ainda assim, que não há razão para alarme. O coronavírus já fez 106 mortos e chegou a dois países na Europa.

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O coordenador do gabinete de crise para o coronavírus criado pela Ordem dos Médicos mostra-se preocupado com a imprevisibilidade do vírus que está na origem do surto que já matou até ao momento 106 pessoas na China. O pneumologista Filipe Froes lembra que o vírus “veio do mundo animal, que passou a barreira das espécies e, portanto, é completamente desconhecido”.

Ainda assim, diz-se tranquilo e lembra que, só neste século, já houve três fenómenos semelhantes a que a comunidade médica e internacional conseguiram dar uma resposta com “resultados muito positivos”.

Nesta entrevista à Renascença, Filipe Froes garante que, nesta fase, “nem o alarmismo, nem a indiferença” são úteis.

O surto de coronavírus já conta com mais de 100 vítimas mortais, milhares de infetados, a lista de novos países a registar casos a aumentar. Há motivos para estarmos preocupados?

Nem o alarmismo, nem a indiferença são úteis nesta fase. Acompanhamos não só o que se passa na China - e estamos a ver que o grosso dos casos ainda estão confinados na China - e sobretudo acompanhar o que vai acontecendo no resto do mundo, e em particular na Europa. Vimos agora que há mais um país, a Alemanha que anunciou um caso. Com base nesta informação, e em colaboração com as autoridades, quer regionais, quer mundiais, devemos manter a nossa postura o mais adequada possível ao ponto da situação, o que significa que nós vivemos neste momento uma situação muito dinâmica.

Há apenas 60 pessoas curadas. Existe alguma explicação médica para esta diferença?

O curado quer dizer que a pessoa foi considerada livre do vírus e provavelmente vai ter que repetir algumas análises para confirmar que está completamente liberta do vírus. O valor mais importante será o das pessoas infetadas - que neste momento são mais de quatro mil - e temos uma centena de mortos. A grande maioria já está numa fase de resolução e provavelmente há muitas pessoas que já estão curadas clinicamente e que aguardam exames de confirmação e por isso ainda não foram dadas como curadas oficialmente.
Como especialista, o que é que mais o preocupa neste vírus?
São duas coisas. A primeira, a imprevisibilidade do vírus. Em princípio, se seguir o percurso que é habitual, à medida que vai aumentando a transmissão, deverá perder algumas das suas características de virulência. Este é um vírus que veio do mundo animal e que passou a barreira das espécies e, portanto, é completamente desconhecido para nós. Tem um processo de adaptação e há aqui um problema de imprevisibilidade da evolução do vírus - o vírus ainda não está estável, pode evoluir para uma forma mais benigna ou, infelizmente, pode evoluir também para uma forma mais maléfica.
A segunda preocupação é a imprevisibilidade dos comportamentos dos seres humanos que muitas vezes, por indiferença ou alarmismo, podem adotar comportamentos que podem pôr todos nós em perigo.
Nessa perspetiva, o que é que o tranquiliza, no meio de toda esta situação neste novo surto?
Eu acho que, neste momento, há mais do que margem, há tudo para ficarmos mais tranquilos. Porquê? Nos últimos 20 anos - desde 2000 até agora - nós já tivemos situações semelhantes quer à escala mais regional, quer à escala mundial.
Só neste século, já nos debatemos três vezes com isto e os resultados foram muito positivos. Infelizmente, não é a primeira vez, nem será a última que isto acontece. Nós agora temos maior capacidade para detetar o que se passa e de acompanhar o que se vai passando. Antigamente durava meses e anos, agora conseguimos fazê-lo em semanas. É certo que vivemos num mundo cada vez mais global e a informação é muito mais rápida, por isso estamos todos a acompanhar o que se passa.
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