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Zona dos Mármores. Universidade de Évora propõe “nova abordagem” para identificar riscos geológicos

02 abr, 2019 - 18:50 • Rosário Silva

A intensa atividade extrativa na zona dos mármores está a provocar alterações na qualidade do meio ambiente afetando a “sua componente geológica, ecológica e paisagística”, admitindo-se até a possibilidade “de inviabilização da exploração.

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As três décadas de experiência no acompanhamento da evolução do sector dos mármores, no Alentejo, permitem à Universidade de Évora “oferecer” ao Governo, o seu amplo conhecimento, transposto, agora, num plano para a Cartografia Geotécnica da região dos Mármores de Estremoz-Borba-Vila Viçosa.

Trata-se de um documento, entregue em mãos, ao primeiro-ministro, António Costa, e que se traduz num contributo para o “Plano de Intervenção nas Pedreiras em Situação Crítica”, recentemente aprovado pelo Governo para executar entre 2019 e 2021.

“Falta associar a todo o conhecimento que se tem da região dos mármores, uma visão holística, incluindo todos os estudos já feitos e complementando a informação com dados que nunca foram ponderados”, propõe Luís Lopes, um dos autores deste estudo com quem a Renascença conversou.

Para este professor do departamento de Geociências da Universidade de Évora, é urgente “uma nova abordagem”, tendo em conta que nos “últimos 30 anos, houve uma grande evolução das condições que o homem induziu no ambiente natural”.

A intensa atividade extrativa na zona dos mármores está a provocar alterações na qualidade do meio ambiente afetando a “sua componente geológica, ecológica e paisagística”, admitindo-se até a possibilidade “de inviabilização da exploração.”

“Estamos a falar de um sector que é o principal mobilizador dinâmico económico local, com as populações a dependerem muito desta atividade que não pode parar”, alerta Luís Lopes.

A cartografia geotécnica, uma ferramenta essencial para o planeamento urbano e regional, que defina limites e potencialidades do meio físico, é a proposta dos geólogos António Pinho, Isabel Duarte e Luís Lopes.

“Temos pedreiras muito pequenas, com poucas possibilidades de avançar em profundidade”, explica o docente para acrescentar que, “caso se insista neste modelo de exploração, vamos aumentar o risco quer das pessoas que trabalham no sector, quer das que circulam à volta.”

Em novembro de 2018, a derrocada parcial da estrada municipal 255, em Borba, fez cinco vitimas mortais. Para aferir da situação real das pedreiras em Portugal e adotar medidas prioritárias, o Governo aprovou o chamado “Plano de Intervenção nas Pedreiras em Situação Critica”.

“Esse plano de intervenção surge por reação a uma situação quase de exceção, não nas ocorrências, mas nas consequências”, recorda o professor.

“O que nós preconizamos é mais uma visão integradora do recurso e tendo em conta estas vertentes: a redução de riscos, a criação de condições de segurança e a exploração de um recurso excecional que Portugal exporta para o mundo e é uma das imagens de marca do país”, alude Luís Lopes.

“Reportando àquela estrada de Borba, ficámos chocados ao ver uma estrada que passava entre duas cavidades profundas. Ora, identificando todas estas situações, o que faz sentido e o que bom senso nos diz é que as devemos evitar e eliminá-las de uma vez”, afirma o geólogo.

À Renascença, Luís Lopes revela que a elaboração da cartografia geotécnica permite, também, avaliar outros parâmetros para a exploração do recurso.

“Em que local existe, onde não existe, para além da sua existência, para o explorarmos, não podemos ter lá outra ocupação do território que o vai inviabilizar, mas vamos precisar de infraestruturas de apoio, de estradas de acesso, de locais para guardarmos os subprodutos que podem ser utilizados noutras industrias”, adita.

“Este é o ordenamento que deve ser feito e há 30 anos que o defendemos, mas não houve possibilidade, capacidade ou até mesmo interesse em colocar no terreno, mas se calhar é agora a altura para o fazer”, acrescenta o responsável do departamento de Geociências da Universidade de Évora.

O plano para a Cartografia Geotécnica da região dos Mármores de Estremoz-Borba-Vila Viçosa foi entregue, no final de março, a António Costa, mas até ao momento “não tivemos qualquer resposta”, adianta Luís Lopes, assegurando que a sua equipa vai continuar “proactivamente e de forma independente” a realizar projetos no território, “dedicados ao desenvolvimento e conhecimento das rochas ornamentais e, neste caso particular, aos mármores”.

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