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​Em Nome da Lei

Tragédia de Outubro podia ter sido evitada, defende comandante afastado pelo Governo

28 out, 2017 - 13:14

José Manuel Moura diz que ninguém deu o "grito do Ipiranga". As autoridades deveriam ter utilizado a rádio e a televisão para alertar a população "que vinha aí um dia complicado” em termos de risco de incêndios.

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Serão as novas medidas aprovadas pelo Governo capazes de evitar novos incêndios trágicos?
Serão as novas medidas aprovadas pelo Governo capazes de evitar novos incêndios trágicos?

As consequências dramáticas dos incêndios de dia 15 de Outubro poderiam ter sido evitadas se tivesse havido um alerta à população, defende José Manuel Moura, o comandante da Proteção Civil que foi afastado pelo actual Governo.

No programa Em Nome da Lei da Renascença deste sábado, José Manuel Moura disse que se as medidas de prevenção adoptadas para este fim-de-semana tivessem sido aplicadas há 15 dias, a tragédia que provocou 45 mortos poderia ter sido evitada.

“Poderia ter feito algum sentido ir à antena ou a tutela ou a estrutura operacional dar o grito do Ipiranga e colocar carga nesse alerta e aí as pessoas estarem mais preparadas para o que aí vinha. Porque é público que três dias antes, o IPMA [Instituto Português do Mar e da Atmosfera] conseguiu dados com uma previsão muita acertada que iria ser o pior dia em termos de condições meteorológicas. O alerta vermelho estava adequado, mas poderia ter havido uma difusão maior usando a comunicação social, as rádios e as televisões, no sentido de alertar que vinha aí um dia complicado.”

José Manuel Moura sublinha que o alerta à população era tanto mais importante quanto se sabe que nestas alturas do ano é normal que nas zonas rurais se façam queimadas.

O ex-comandante nacional da Proteção Civil foi um dos peritos que participou no relatório da Comissão Independente sobre Pedrogão. Na sua primeira entrevista, depois de ter sido afastado, José Manuel Moura, rejeita que tenha sido tendencioso nas críticas feitas à Proteção Civil.

Diz que o relatório elogia o que correu bem e critica o que tem de criticar, e recusa dizer se foi ele que fez este ou aquele capítulo. O relatório é de todos os que nele participaram, sublinha.

Uma das recomendações feitas no relatório é que o Governo compre meios aéreos para o combate aos fogos, em vez de depender do seu aluguer.

José Manuel Moura explica que é muito difícil antecipar ou prolongar a fase Charlie (aquela em que há mais meios e que vigora entre 1 de Julho e 30 de Setembro), porque ela está muito dependente dos contratos de aluguer dos meios aéreos. O futuro tem de passar por adquirir meios próprios, defende.

“Se algumas das recomendações forem seguidas nós caminharemos, com toda a certeza, para nos libertarmos um pouco desta questão das fases. Desde logo se o Estado tiver meios aéreos próprios isso também obriga a ter uma flexibilidade completamente diferente e não estar só agarrado à questão dos meios aéreos alugados”, afirma.

Questionado sobre a intenção do Governo de afastar os bombeiros voluntários dos fogos florestais, o ex-comandante nacional da Proteção Civil diz que a reforma não pode ser feita contra os bombeiros, mas com os bombeiros.

A ideia de colocar os voluntários apenas na proteção das populações e o combate aos fogos florestais ser feito por bombeiros profissionais pelos militares não vai funcionar, defende José Manuel Moura. Portugal deve apostar em ter ao nível local um corpo de bombeiros capaz de fazer o ataque inicial ao incêndio.

Atirar dinheiro para cima dos problemas

A mesma opinião tem Xavier Viegas, especialista em fogos florestais. O autor de um dos dois relatórios feitos sobre Pedrogão Grande diz que criar uma equipa de incêndios florestais não faz sentido, precisamos é de saber aproveitar melhor o conhecimento que temos.

Xavier Viegas diz que o Governo está a atirar dinheiro para cima dos problemas e continua a ignorar que há um quarto pilar no sistema de defesa da floresta que é a população, e para essa não há medidas.

O arquiteto paisagista Henrique Pereira dos Santos é absolutamente crítico das soluções aprovadas pelo Governo na sequência dos incêndios. Diz que continuamos a apostar na ideia errada de que é possível haver um Portugal sem fogos.

O autor do livro “Portugal, paisagem rural” defende que o que seria eficaz para reduzir o número e a dimensão dos incêndios florestais era o governo apoiar atividades económicas de ecossistema que fazem gestão de combustíveis, como a pastorícia ou os resineiros.

O Em Nome da Lei é um programa com edição da jornalista Marina Pimentel, que pode ouvir aos sábados, depois do meio dia, na Renascença.

Comentários
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  • couto machado
    04 nov, 2017 porto 16:41
    Depois de burro morto, cevada ao rabo, como diz o ditado...Entretanto, li no Jornal de Notícias de ontem, que mais de oitenta por cento dos terrenos não estão registados, pelo que se desconhecem os seus proprietários. Meus não são. De quem serão ? É a chamada conversa do uso capião ? Neste contexto, muita boa gente vai beneficiar de ajudas a que não tem direito e assim vamos vivendo neste mundo português.
  • Jorge
    30 out, 2017 Seixal 12:21
    As autoridades deveriam ter utilizado a rádio e a televisão para alertar a população que no dia 15 de Outubro iam deflagrar 523 incêndios, metade ou mais provocados por incendiários. Onde andaram estes cérebros antes de ocorrerem estas calamidades? Estamos fartos de treinadores de bancada. Depois das desgraças, vão a coberto da comunicação social criticar o que devia ou não ser feito. Tudo serve para culpabilizar o governo. Um dia destes ainda hei-de ouvir um cromo qualquer dizer que não chove por culpa do governo.
  • ZÉ!!!!!!
    29 out, 2017 Godim 18:43
    E Tudo isto é lamentável!!!!!
  • joao123
    29 out, 2017 lisboa 03:40
    O que eu sei é que " os boys " que o PS lá pôs em Fevereiro para substituir as chefias que sabiam o que faziam já foram quase todos corridos porque afinal tinham habilitações aldrabadas , tipo "à Sócrates"...Até admira não ter é ardido mais...
  • JR
    28 out, 2017 Lisboa 19:26
    As soluções aparecem sempre depois das coisas acontecerem. É a tristeza sempre do costume neste pobre país.
  • FIlipe
    28 out, 2017 évora 19:24
    Só arde o que dá euros no bolso ! Os postos de gasolina , de gás e as garrafas de gás , não lhe metem fogo por prazer de ver arder ! Metem fogo ao que dá euros na carteira , querem comprar a madeira a preços baixos e a vender como nova a preços de nova , é isto que dá euros . Os multibancos ardem e explodem , tem euros lá dentro ! Estas medidas não evitam os terroristas de atuarem , até agora o Estado incentivou ainda mais o meter fogo na floresta , até deu linhas de crédito para comprarem a madeira ardida . Imagine-se agora o Estado a financiar com linhas de crédito os traficantes de droga . Quanto lucro vai dar o pinhal de Leiria a muita gente ? Só combatem os fogos se meterem na lei a proibição de venda de madeira originaria de fogos criminosos ! Para o ano e avaliar pela pouca chuva e tempo quente ou pagam aos gaiatos tempos livres depois da escola para irem para a mata acampar e com isso vigiar a floresta ou como tropas , forças de segurança e afins enfiados dentro dos quartéis de segunda a sexta das 9h ás 16h , onde maioritariamente se pode concluir que os maiores fogos em Portugal começam sempre ao fim de semana , preparem-se para 2018 trágico !
  • RDVM
    28 out, 2017 braga 18:36
    Este enquanto lá esteve NUNCA nada fez ! Corrido e com dor de corno vem mandar os seus bitaites ! Mais valia estar calado ! Será que este tb não tinha habilitações adequadas/verdadeiras ! Se tivesse vergonha na cara não mais falava do FLOP que foi a proteção civil !
  • Luis Ribeiro
    28 out, 2017 Faro 17:08
    Nos EUA, um dia de 1938 Orson Welles transmitiu a Invasão Marciana da Terra, baseada no livro de HG Hells. Apesar de no inicio da emissao se ter alertado ser uma ficcao, espalhou-se o panico pelo territorio norte-americano. Não sei se este ex-comandante conhece o acontecimento, mas provavelmente se tivesse pensado no que tinha dito percebia que era descabido e sem nexo. Toda a gente sabia das condiçoes anormais daquele dia, fosse no litoral ou interior. Todos sabiamos que estariam criadas condiçoes excepcionais mas nunca NINGUEM poderia prever o cruzamento de um conjunto de factores que nem sequer eram ponderaveis como os ventos do furacao ofelia. Este é mesmo um problema tipico de comandantes: falam muito, mas fazem pouco. E acho que estamos perante um desses exemplos. O que não espanta.
  • juzze do vale
    28 out, 2017 Porto 16:43
    Mais um querer protagonismo...nao podia dizer as entidades competentes? é preciso vir para os jornais? pela boca morre o peixe...vergonha o que se está a passar....ate as proximas eleições os fogos vão continuar com estes incendiários....com dor de cotovelo..
  • troc
    28 out, 2017 evora 16:06
    'Em terra de cego quem tem um olho é rei.' Mas esse tal olho precisa de ver... Ou será apenas mais um súdito por lá! Tu julgarás a ti mesmo – respondeu o rei. – É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio

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