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Blocos fechados, grávidas transferidas. Porque protestam os enfermeiros?

03 jul, 2017 - 10:48

Alguns profissionais foram avisados que vão ser notificados por se recusarem a acompanhar grávidas de risco.

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A unidade de grávidas de alto risco do Hospital São Bernardo, em Setúbal, vai encerrar esta segunda-feira por falta de enfermeiros especialistas, na sequência do protesto contra a falta de pagamento desta especialidade, disse à Lusa uma enfermeira.

De acordo com a enfermeira Susana Surribas, que integra o Movimento Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia (EESMO), as grávidas de alto risco vão ser transferidas para outras unidades do Hospital de São Bernardo ou para o Hospital Garcia de Orta, em Almada.

A urgência de obstetrícia do Hospital São Bernardo está a ser assegurada por médicos devido à recusa de prestação de cuidados diferenciados pelos enfermeiros especializados em obstetrícia, disse à agência Lusa uma enfermeira especialista.

"O serviço de urgência de obstetrícia está a ser assegurado pelos médicos, porque não há nenhum enfermeiro especialista em saúde materna e obstetrícia a prestar cuidados diferenciados", disse Adriana Taborda, também representante do EESMO.

Estes são alguns dos efeitos do protesto levado a cabo por este movimento que decidiu recusar, a partir desta segunda-feira, a prestação de cuidados diferenciados em protesto contra o não pagamento desta especialidade.

"Eu estou há nove anos a prestar cuidados diferenciados, mas recebo como enfermeira generalista, enquanto outros enfermeiros que se formaram depois e que já entraram com contrato de especialistas, auferem salários superiores, com uma diferença de, pelo menos, mais 200 euros", disse Adriana Taborda.

Recusou prestar cuidados específicos, vai ser notificada

Já no Centro Hospitalar Gaia/Espinho, as grávidas de risco ali internadas estão a ser acompanhadas apenas pela enfermeira-chefe, que habitualmente não tem utentes atribuídas.

Joana Gonçalves, enfermeira daquela unidade do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, afirmou aos jornalistas à porta do hospital que, no primeiro turno do dia, a enfermeira destacada para aquele serviço recusou prestar aquele tipo de cuidados, apesar de ter a especialidade.

Essa profissional que se recusou a atender as grávidas de risco, adiantou, "foi já avisada que vai ser notificada" de uma eventual sanção disciplinar, acrescentou Joana Gonçalves.

"As chefias vão notificar o elemento que não assumiu as grávidas de alto risco. A colega é generalista, tem a especialidade, mas comunicou que a partir de hoje não a vai assumir", acrescentou.

Segundo a profissional, que exerce há 10 anos naquele hospital e é, há cinco, especialista em saúde materna, este protesto "não é nenhuma greve" e os enfermeiros nesta situação não estão a recusar estar no posto de trabalho, "simplesmente não vão assumir funções para as quais não foram contratados".

"Sou enfermeira, tenho orgulho em ser enfermeira, adoro ser parteira. Estamos há 10 anos, e eu há cinco, a exercer a nossa especialidade porque queremos, mas também porque fomos incentivadas a isso. Já chega! Estamos aqui para defender a nossa classe, a nossa carreira, e a lutar pelo que acreditamos, que é absolutamente justo e legítimo", sustentou.

Presente no local, Bruno Martins, representante da Ordem dos Enfermeiros, afirmou que os enfermeiros "têm de prestar os cuidados para os quais estão contratados".

Sobre a possibilidade de os enfermeiros que recusarem prestar serviços de especialidade serem alvo de sanções, Bruno Martins reafirmou que "os enfermeiros apenas têm de se preocupar em responder aos cuidados de enfermagem para os quais foram contratados".

Segundo a Ordem dos Enfermeiros, que apoia os profissionais neste protesto, existem cerca de 2.000 enfermeiros que, apesar de serem especialistas, recebem como se prestassem serviços de enfermagem comum.

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