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Novo aeroporto. Montijo "é uma solução de muito bom senso" para Ferreira do Amaral

03 abr, 2017 - 19:15

Em entrevista à Renascença, o antigo ministro das Obras Públicas defende que a opção pelo Montijo tem "vantagens enormes".

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O antigo ministro das Obras Públicas Joaquim Ferreira do Amaral considera que a opção do Montijo para aeroporto complementar à Portela é reveladora de "muito bom senso" por ser "daquelas soluções que os portugueses precisam, que é ter as coisas mais baratas, a funcionar".

Em entrevista à Renascença, Ferreira do Amaral argumenta que a opção pelo Montijo tem "vantagens enormes de todos os pontos de vista", sendo a maior o facto de representar "um investimento relativamente moderado".

Ferreira do Amaral não acredita que venha a ser criada uma ferrovia na Ponte Vasco da Gama, pelo facto de isso implicar a supressão de faixas rodoviárias. E acrescenta: com a opção pelo Montijo, "o transporte de passageiros massivo - transporte colectivo de passageiros através de catamarã de alta qualidade - pode ser posto em execução de um dia para o outro".

Quando se estudou a construção da Ponte Vasco da Gama, a ideia incluía uma componente ferroviária?

Não, nem nunca foi pensada para isso. Não sei se, tecnicamente, isso é adaptável, mas, de origem, não foi pensado assim.

Considera que, tecnicamente, é possível ser lá colocada a ferrovia?

Não sei se é uma questão técnica, que, obviamente, não estudei. Não gostaria de me pronunciar sobre isso, não faço ideia. Mas, parece-me, em todo o caso, que, a por lá um transporte eléctrico, isso teria de ser feito em sacrifício das faixas rodoviárias. Mas, como lhe digo, é uma opinião praticamente amadora. Não estudei o assunto.

E, nesse caso, também haveria questões contratuais que seria necessário alterar…

Sim, mas são questões... Acessórias... Julgo é que, tecnicamente, o problema não está estudado e a única coisa que digo é que não foi pensada de início para isso. Há uma coisa que é certa: para se fazer isso, teria de haver um sacrifício de faixas rodoviárias. Ora, a Vasco da Gama, que tem, actualmente, três vias de cada lado, tem previsto ter mais uma em cada sentido, quando as actuais saturarem. Ou seja, quatro de cada lado.

Não estou a ver como é que se sacrificaria uma faixa rodoviária de cada lado, para ter um transporte eléctrico. Mas, como disse, o assunto não está estudado. Logo se verá.

Em todo o caso, também me parece que não é necessário, porque o transporte de passageiros massivo - transporte colectivo de passageiros através de catamarã de alta qualidade - pode ser posto em execução de um dia para o outro. Não é preciso estarmos aqui preocupados como estávamos no caso de Alcochete, ou como estaríamos no caso da Ota, em encontrar um transporte de massas colectivo. Neste caso, ele já existe e é muito satisfatório.

Construir o aeroporto no Montijo é uma boa opção?

Desde 1984 que é a solução que preconizo. Na altura, ainda era ministro. O que, então, estava em debate era a questão de ser Rio Frio ou ser Ota e eu pensei que o melhor era o Montijo.

Estudei o assunto, ou pedi à ANA para estudar o assunto, e a ANA fez um relatório bastante bom e completo sobre a matéria. Ela própria, a empresa, chega à conclusão de que é a única solução possível, sem o investimento massivo que seria necessário para fazer para um novo aeroporto. Portanto, teria tudo vantagens e não se via qual fosse o inconveniente.

Havia o problema da actividade militar, mas isso era um assunto que também se resolvia. Cheguei a falar com a Força Aérea e, obviamente, eles tinham a maior abertura para encontrar uma solução para esse problema.

As vantagens no Montijo eram enormes de todos os pontos de vista e o maior de todos era o investimento relativamente moderado, sobretudo se comparado com a hipótese de fazer um aeroporto de raiz, que custa uma coisa neste momento quase insultuosa. Outra das vantagens era o acesso a transportes colectivos, porque o Montijo tem esse assunto resolvido, ou poderá tê-lo com a carreira de catamarãs no estuário do Tejo. que é um belíssimo transporte colectivo e não precisa de investimentos grandes para entrar em funcionamento.

Portanto, tudo apontava para que o Montijo fosse a grande solução. A Força Aérea, na altura própria, sabia onde é que fazia os seus aeroportos e o aeroporto do Montijo está muito bem localizado, até por ser numa península, o que impede que aquilo seja abafado pelo crescimento de uma cidade à volta. Vejo com satisfação que se acaba por chegar à conclusão de que, realmente, é tudo o que era de bom senso, que é a melhor solução. O baixo investimento, a proximidade de Lisboa, a facilidade de transportes colectivos - tudo isso recomenda muito fortemente que seja esta a solução a considerar.

É uma solução de muito bom senso e é daquelas soluções que os portugueses precisam, que é ter as coisas mais baratas, a funcionar. Nada de soluções faraónicas, porque não há dinheiro para isso.

Já que fala de "soluções faraónicas", encara como possível que este aeroporto venha a potenciar a hipótese de uma terceira travessia no Tejo?

Acho que é possível. Acho que é sempre possível uma terceira travessia, embora me pareça que não é rodoviária. Uma nova travessia rodoviária seria redundante. Para já.

O que me parece é que no futuro - e não sei quão longínquo será esse futuro - teremos que estar a falar de uma outra travessia ferroviária porque o transporte suburbano rodoviário tem limitações muito grandes, a maior das quais é a capacidade das cidades absorverem esse tráfego. Não estou a ver como é que Lisboa poderia acumular o tráfego de uma nova ponte, não vejo que isso fosse possível. O problema não estaria na travessia, estaria na chegada a Lisboa. Portanto, o que pode estar no horizonte, embora um horizonte que me parece longínquo, é uma nova travessia ferroviária.

Comentários
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  • Fernando Simões
    05 abr, 2017 VNGaia 14:15
    Montijo uma muito má solução. Dizem, entre outros, as universidades, os institutos e os pilotos (não tem condições para a operação de aviões de grande porte que fazem voos intercontinentais). A pista terá de ser aumentada com o impacto negativo na reserva e zona de paisagem protegida do Tejo; há perigo de colisão com aves; afeta, gravemente a reseva natural do Tejo que será sempre sobrevoada, na aterragem ou na descolagem; continuam por fazer os estudos de impacto ambiental; a operação no Montijo, colide/conflitua com a operação da Portela e com os interesses e a operacionalidade da FAP. Todos colocam problemas, só o governo e a ANA (a ANA até se compreende porquê. Há muito dinheirinho em jogo, agora depois de ter sido doada aos privados. O governo nem tanto), assobiam para o lado e não querem ver. A melhor alternativa, por ser definitiva e evitar um novo aeroporto, com os custos associados, seria Beja. O investimento está feito e é necessário rentabilizá-lo, as pistas permitem a operação de qualquer tipo de avião, tem boas condições de operação, orográficas, atmosféricas, etc, tem condições para expansão. Bastava uma boa ligação ferroviária à linha do sul, de forma a permitir a circulação dos pendulares, e ficava a menos de uma hora de distância de Lisboa (só o dinheiro da adaptação do Montijo, dava para comprar muitos pendulares de última geração, para não falar do dinheiro que, com a opção Montijo, a curto prazo, terá de ser investido num novo aeroporto de raiz).
  • duvidoso
    04 abr, 2017 Santarém 23:45
    Cada cabeça sua sentença, por este caminhar a coisa está para durar!
  • Manuel Fernandes
    03 abr, 2017 Barreiro 21:12
    O Sr. Amaral deveria pensar duas vezes antes de emitir esta opinião. Está a falar para defender os interesses da VINCI ou da Lusoponte? Deveria fazer uma declaração de interesses. Porque o Aeroporto no Montijo é incontestável. No local selecionado pelo LNEC, instituição credível e prestigiada. O que é inadmissível é a conversão precipitada da Base Aérea em Aeroporto Complementar da Portela. A pista Norte-Sul é curta e não tem capacidade para albergar os sistemas de apoio à navegação absolutamente necessários para a tornar utilizável. Nem a Força Aérea a usa por essas razões mas também pelo risco de colisão com aves pesadas (Birdstrike) que habitam ou nidificam nos sapais das cabeceiras dessa pista. Colisão que ocorreu e provocou a morte do piloto. Alongar a pista é impossível na direção Norte-Sul. Construir outra pista no sentido NE-SO vai agravar o risco dos corredores aéreos para as populações do Barreiro e Moita. Onde existem milhares de habitações com mais de 40 anos sem qualquer proteção acústica. Sem telhados insonorizados, sem paredes duplas sem vidros duplos. E onde se localizam indústrias químicas (Fisipe e AP) e tanques de combustíveis (LCB Tanquipor. Que, de acordo com a lei das servidões dos Aeroportos teriam de ser deslocalizadas. O que acarretaria custos incomportáveis a jusante. A conversão da BA 6 é uma aberração. Só um aeroporto de raíz construído no local selecionado pelo LNEC tem viabilidade. Fica a maior altitude ASL e logo menos vulnerável à subida...

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