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Presidente da Cáritas de Lisboa ignora inquérito do MP e defende contas da instituição

09 mar, 2017 - 10:56

José Frias Gomes não foi notificado de abertura de inquérito por denúncia de burla qualificada. Cáritas Diocesana reage à manchete do "Público": depósitos bancários não são "escândalo".

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A Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) desconhece a abertura de um inquérito no Ministério Público, depois de uma denúncia que aponta a prática do crime de burla qualificada ao presidente da instituição, José Frias Gomes, e ao responsável pelas Finanças do Patriarcado de Lisboa, o cónego Álvaro Bizarro.

À Renascença, José Frias Gomes alega total desconhecimento dos factos referidos esta quinta-feira numa investigação do “Público”. A denúncia, escreve o jornal, terá dado origem, em Janeiro, a um inquérito no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa.

Segundo o jornal, o inquérito judicial – que tem como visados o presidente da Cáritas de Lisboa e o responsável pelas Finanças do Patriarcado de Lisboa – teve por base uma denúncia de dois advogados e um notário na qual se aponta para a prática, entre outros, do crime de burla qualificada por parte dos denunciados.

O “Público” escreve que, juntamente com a denúncia, foram entregues ao DIAP numerosos documentos relativos a factos alegadamente ocorridos nos últimos anos.

“Eu não fui notificado de nada, não sei rigorosamente de nada, pelo que estou completamente às escuras", critica José Frias Gomes à Renascença. "Sei por um jornalista – e acho isto inacreditável – que, eventualmente, há uma denúncia – não sei se queixa ou denúncia qualquer – e que os departamentos de justiça irão avaliar se isso tem pernas para andar."

“É com isto que me vejo confrontado. É isto que hoje vejo no jornal. Não sei o que dizer, o melhor é não dizer nada mais”, acrescenta.

Questionado pela Renascença, o Ministério Público confirma a recepção de uma participação. "A mesma deu, desde logo, origem a um inquérito, que se encontra em investigação no DIAP de Lisboa. A participação deu entrada na Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa no dia 17 de Janeiro de 2017. No dia 20 de Janeiro de 2017 foi registada e autuada como inquérito no DIAP de Lisboa”, respondeu a Procuradoria-Geral da República.

A Renascença contactou também o Patriarcado de Lisboa, que não presta declarações, uma vez que o cónego não foi notificado do "suposto inquérito judicial".

Montantes no banco cobrem ano e meio de salários

A abertura de um inquérito por parte do Ministério Público é parte de um trabalho do jornal “Público” sobre as contas da CDL.

Segundo o jornal, a CDL retém cerca de dois milhões de euros em depósitos bancários há dez anos – uma almofada financeira mantida “apesar das suas queixas sobre falta de meios”. Esta é uma situação independente da abertura do inquérito no MP.

Em comunicado divulgado durante a tarde desta quinta-feira, a CDL afirma que o artigo do "Público" “apouca e mediocriza” o trabalho de “voluntários e colaboradores”.

“Tornar escândalo os montantes, ainda que os valores estejam actualmente incorrectos por excesso, do que a instituição detém em contas bancárias, e que se encontra ao serviço da Igreja Diocesana e de projectos em curso ou futuros, desconhece simplesmente o esforço dedicado de direcções anteriores e a acção socio-caritativa da CDL”, afirma a instituição.

“Esses montantes pouco mais cobrem que ano e meio a dois anos de salários dos quase 50 trabalhadores”, diz a CDL, que garante ter as suas contas “absolutamente em dia”.

À Renascença, Frias Gomes garante que as contas da Cáritas de Lisboa "estão claras, transparentes e escrutinadas". "Qualquer apoio que recebemos, emitimos um recibo e qualquer apoio que damos é registado num relatório social das pessoas que foram apoiadas, quando é que foram apoiadas e com quanto", precisa.

[Notícia actualizada às 17h15]

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    09 mar, 2017 TERRADOMEIO 19:01
    Mas não percebo... enfim, por enquanto, que decerto acabarei por perceber, em que é que consiste a burla afinal: em meter e manter donativos no banco, em nome da instituição? Ou, como se subentende do artigo, a existência desse dinheiro em "stand by" e a render juros, nada tem a ver com a burla (qualificada) que foi denunciada? Por gente do foro, note-se, não por um contabilista qualquer... É melhor esperar pelos desenvolvimentos. Oxalá não venha aí mais um trauma, mas com certeza o MP não pegaria no assunto se não houvesse, pelo menos, cheiro a esturro pelo ar.
  • José da Maia
    09 mar, 2017 Maia 17:54
    Quem são os 2 advogados e o notário? Ter dinheiro de parte para a garantia de pagar salários é uma obrigação, ou não? E quando os donativos não são suficientes, como se garante o normal funcionamento da Instituição? Eu sonhei que o Público era diferente, que estava acima do esgoto. Enganaram-me bem ! NUNCA MAIS compro tal coisa....
  • Luis
    09 mar, 2017 Lisboa 13:44
    De certeza que está inocente e com a consciência tranquila. Para alé disso é bom não esquecer que é um que também tem uma grande "elevação de carácter.
  • Otário cá da quinta
    09 mar, 2017 coimbra 12:06
    Ó meu caro Fernando, ninguém vai ao mato sem corda, pois por amor ninguém perde tempo com os outros e todos querem ocupar esses lugares. Mas diz bem, AS CONTAS SÃO TRANSPARENTES e eu que sou um cegueta, até não consigo ver coisa nenhuma através de tais transparências. O QUE ACHO DE CURIOSO, É QUE NESTE PAÍS DE TANTOS INQUÉRITOS FEITOS AO LONGO DESTES QUARENTA ANOS, só têm dado para andar a entreter certa MALTA que lá se vão arranjando e bem com tantas inquirições que fazem! Meu caro Fernando, quem se lixa, é o senhor, eu e os papalvos deste país. SAÚDE.
  • FERNANDO
    09 mar, 2017 PONTE DE LIMA 11:26
    A ser verdade é triste e lamentável quanto grave. Para mim é uma Instituição de referência e das que dou alguma ajuda (gostaria até de dar mais), incluindo via IRS ... porque fazem um excelente papel social no país e a quem mais precisa, pobres, desempregados etc. .... Vou estar atento ! ....

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