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Crise afectou a saúde mental? Sim, um em cada três portugueses sofre de perturbações

25 nov, 2016 - 07:40

Estudo revela que a crise económica fez disparar os casos, sobretudo, entre os jovens e os homens. Cresceu o uso de antidepressivos e ansiolíticos.

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Um terço dos portugueses já sofre de ansiedade ou depressão. Os problemas de saúde mental aumentaram com a crise económica, atingindo 30% da população em 2015, contra menos de 20% em 2008. Estudo nacional revela há mais jovens afectados e mais homens a consumir ansiolíticos.

Trata-se dos resultados preliminares do projecto “Crisis Impact”, que estuda os efeitos da crise económica sobre a saúde mental das populações em Portugal, e que será apresentado esta sexta-feira, durante o Fórum Gulbenkian de Saúde Mental.

O estudo, da autoria de José Caldas de Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, baseia-se numa actualização do estudo de 2008-2009, permitindo comparar os dados do início da crise com os do final de 2015.

A conclusão que mais ressalta do estudo é o “aumento significativo da prevalência de problemas de saúde mental durante este período”, evidenciando uma relação estreita com os factores sociais e económicos resultantes da crise.

Segundo os dados preliminares, os problemas de saúde mental passaram de uma prevalência de 19,8% em 2008, para 31,2% em 2015, um aumento que se verificou em todos os níveis de gravidade, mas sobretudo nos casos de maior gravidade.

Mais jovens afectados

Desta vez a crise foi mais longe e houve uma evolução mais acentuada entre os mais jovens (dos 18 aos 34 anos).

Nos problemas ligeiros passou-se de 13,6% para 16,8% (um aumento de três pontos percentuais), nos problemas moderados de 4,4% para 7,6% (3,2 pontos percentuais), e nos problemas mais graves de 1,8% para 6,8% (5 pontos percentuais).

A prevalência de problemas de saúde mental em 2015 foi elevada entre as mulheres, os idosos, os viúvos e separados e as pessoas com baixa escolaridade.

Quanto à relação destes problemas com a crise económica - nomeadamente a diminuição de rendimentos, o desemprego, a privação financeira e a descida de estatuto socioeconómico – o estudo demonstra que estão significativamente associados, revelando igualmente elevados padrões de perturbações depressivas e de ansiedade.

Mais de 40% das pessoas da amostra do estudo reportaram descida de rendimentos desde 2008, cerca de metade por corte de salários e pensões, 14% por desemprego, 6% por mudança de emprego e 5% por reforma.

Os que referem não ter rendimentos suficientes para pagar as suas despesas são quase 40% da amostra e apresentam uma prevalência significativamente mais elevada de problemas de saúde mental do que as que não sentem privação financeira.

A situação agrava-se quanto maior é a privação, sendo especialmente marcada no grupo de pessoas que não conseguem pagar as despesas básicas (comida, electricidade, água) e que têm dívidas. Pelo contrário, a existência de um elevado suporte social e o viver em bairros onde as pessoas se sentem seguras e bem integradas provaram ser factores protectores em relação ao risco de ter problemas de saúde mental.

Homens consomem mais ansiolíticos

No que respeita ao uso de medicamentos, acompanha a tendência crescente da prevalência de problemas mentais, tendo-se verificado uma subida progressiva das percentagens de pessoas que usam psicofármacos, sobretudo antidepressivos e ansiolíticos.

Em valores absolutos, o uso destes medicamentos é muito mais elevado entre as mulheres, mas verificou-se um aumento particularmente elevado no consumo por parte dos homens, especialmente ansiolíticos.

Relativamente aos tratamentos, nos últimos cinco anos 27,9% das pessoas procuraram ajuda, sobretudo junto dos médicos de medicina geral, seguidos dos psiquiatras e psicólogos.

No geral, o sistema de saúde revelou capacidade de resposta, embora com alguns problemas a nível do acesso aos cuidados e sobretudo a nível da continuidade e da qualidade dos cuidados.

Se entre 70% e 80% das pessoas conseguiram ter acesso a cuidados, apenas 40% tiveram acesso aos cuidados adequados, sendo as dificuldades em cobrir os custos e em marcar consultas os principais obstáculos apontados.

Coordenador lamenta suspensão de reforma

O coordenador do estudo sobre o impacto da crise na saúde mental lamentou que Portugal não tenha aproveitado "para fazer as mudanças que devem ser feitas", sustentando que o plano nacional de reforma para o sector foi suspenso.

"As crises são momentos que se devem aproveitar para fazer as mudanças e as reformas que devem ser feitas. No princípio da crise, tinha-se começado a implementar um plano de reforma da saúde mental, aprovado em 2008. O que aconteceu é que, em 2011, o plano foi suspenso", afirmou o professor universitário José Caldas de Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, instituição que realizou o estudo.

José Caldas de Almeida foi coordenador nacional para a Saúde Mental, tendo sido responsável pela aplicação do Plano Nacional de Saúde Mental, entre 2008 e 2011.

Para o docente da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, "a saúde mental deixou de ser uma prioridade dos governos", quer dos anteriores de direita, quer do actual de esquerda, atendendo a que "todo o esforço de reforma, de reestrutura dos serviços foi suspenso".

Segundo o psiquiatra, medidas que constavam no Plano Nacional de Saúde Mental, como o desenvolvimento de serviços de comunidade, para acompanhamento de doentes, com equipas multidisciplinares, "foram interrompidas".

José Caldas de Almeida enalteceu, no entanto, "o profissionalismo muito grande, a dedicação" de médicos e enfermeiros, que evitou "o colapso" do sistema de saúde na resposta ao aumento das perturbações mentais.

"O sistema aguentou-se, não deu de si, não houve nenhuma situação dramática", advogou, salientando o "aumento significativo" do número de consultas, muito embora, apontou, a redução do orçamento para a saúde mental e a diminuição de médicos e enfermeiros nos serviços públicos, a "paragem de novas contratações".

O coordenador do estudo sublinhou que, apesar da capacidade de resposta do sistema de saúde, as dificuldades no acesso a consultas e a tratamentos adequados aumentaram entre 2008 e 2015.

Comentários
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  • Eborense
    25 nov, 2016 Évora 17:43
    Pelo que se viu hoje na Assembleia da República eu diria que em cada dois portugueses, dois sofrem de perturbações mentais.
  • Luis Santos
    25 nov, 2016 Almada 13:50
    Isso agora vamos ter que pensar melhor. Foi a crise que afetou a saúde mental, ou foi a saúde mental de alguns que afetou e provocou a crise? O que acham?
  • FR
    25 nov, 2016 Portugal 13:14
    Só em coimbra a académica recebeu quase 500mil do nada então a nivel nacional os clubes e clubecos quantas dezenas de milhoes terao sido... prefiro que dêm aos animais que a atletas que nao contribuem nada mas quando ficam doentes vão entupir o sistema de saúde que eu poderia usufruir, que produzo objetivamente mais que eles todos juntos...abaixo a arte e o desporto
  • 25 nov, 2016 12:12
    ´Claro que as PESSOAS fiquem doentes, depois de percebermos que a GRANDE QUANTIDADE DE LADRÕES, VIGARISTAS E DEMAGOGOS SÃO AQUELES QUE SE INTITULAM classe (MER.A) politica e a porcaria de justiça não existe para ESSA SEITA, se é isto democracia, poder roubar o povo e o país e não haver castigo então ponham a democracia no cú e venha a ditadura, por esse facto serão menos a roubar e mais a serem castigados.
  • Maria Mapepa
    25 nov, 2016 Algarve 11:43
    ... e o Estado Portugues a querer sacar ainda mais do Ti Ze pagante.
  • 25 nov, 2016 11:21
    políticos e gestores são lambões insaciáveis, gananciosos que quanto mais têm mais querem, são ocos por dentro, têm falta de valores dignos e saciam-se a sugar dinheiro aos pobres. Um gestor bancário ou um gestor de uma empresa de novelas, ou um apresentador de televisão ganharem mais de 30 mil euros por mês, num país onde há pessoas a sobrevier com menos de 200, significa que temos muitos lambões insaciáveis. era correr toda a gente a salários entre os 500 e os 1000 euros e acabava-se a tortura psicológica aos pobres. Diz aqui que os comentários não "podem violar os princípios fundamentais dos direitos do homem"... e esta porcaria desta democracia que é uma fábrica de miséria intelectual e humana, onde as leis são feitas para dar garantias apenas às elites que se prostituem por dinheiro, não é violar nada? Vivemos numa prostituição global, tudo se faz em funçaão do dinheiro. A comunicação social nomeadamente a televisão é um dos maiores veículos de lixo intelectual para entorpecer consciências.
  • cãozoada
    25 nov, 2016 lisboa 11:11
    Quem dá um milhão de euros para canis, está no seu juízo perfeito??? cães e gatos abandonados de veriam ser abatidos, são um perigo para a saúde publica!!!! com tanta miséria, gastam um milhão dos impostos dos portugueses nisto???
  • jmsm
    25 nov, 2016 lisboa 11:07
    A prova disto, é a AR.
  • Jaime Macedo
    25 nov, 2016 Lisboa 11:03
    Se eu empurrar alguém para a doença sou criminoso. Os políticos e gestores são inimputáveis. Tenho a suspeita que Pedro Passos Coelho gostou de fazer o que fez e que o fez com prazer apesar de tentar disfarçar. Quem não se lembra do comunicado ao país das medidas de austeridade em que dizia que era a comunicação mais difícil que alguma vez tivera que fazer. Horas depois foi apanhado a cantar a "Mimi" no espetáculo de Paulo de Carvalho. Lágrimas de crocodilo. Acho que o nome que se dá às pessoas que não têm qualquer sensibilidade relativamente aos outros é sociopata.
  • rosinda
    25 nov, 2016 palmela 10:59
    Os politicos que contribuiram para crise deviam ser reponsabilizados!

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