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Ministro dos Negócios Estrangeiros encara vitória de Trump com "expectativa e confiança"

09 nov, 2016 - 09:05

Augusto Santos Silva reagiu na Renascença à eleição de Donald Trump como novo Presidente dos Estados Unidos. “Não creio que os nossos concidadãos que vivem nos Estados Unidos tenham algum elemento de preocupação”, afirmou.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros mostra-se confiante na continuidade da política externa norte-americana, mas admite aguardar “com muita expectativa a definição das prioridades da nova administração”.

Entrevistado no Carla Rocha – Manhã da Renascença, Augusto Santos Silva diz também que há outras matérias sobre as quais Donald Trump, o Presidente eleitos dos Estados Unidos, ainda não clarificou a sua posição. É o caso do compromisso com a agenda do desenvolvimento sustentável.

Donald Trump venceu Hillary Clinton com grande margem de delegados no Colégio Eleitoral e poderá mesmo ultrapassar o número de votos conseguido por Barack Obama.

Que palavras lhe ocorrem para caracterizar este desfecho eleitoral?

Respeitamos a decisão do povo norte-americano, que elegeu Donald Trump e, portanto, é o Presidente eleito dos Estados Unidos, será o chefe da nova administração norte-americana com a mesma lealdade e o mesmo empenho com que temos trabalhado com todas as administrações norte-americanas.

O laço entre Portugal e os Estados Unidos é muito forte historicamente, tem sido reforçado nos tempos mais recentes, designadamente por via da cooperação na área da segurança, da economia e da ciência e tecnologia. Portugal e os Estados Unidos são parceiros no campo multilateral, seja nas Nações Unidas, seja na Aliança Atlântica, seja nas ligações também muito fortes e estreitas entre os Estados Unidos e a União Europeia.

Do ponto de vista diplomático, é inatacável o que acaba de referir, mas teremos de reconhecer que é uma grande surpresa o que se passa nos Estados Unidos. Que explicações encontra para o que se passou? Estarão os Estados Unidos ainda mal preparados para ter uma mulher como Presidente, por exemplo?

Não me compete a mim fazer esse tipo de apreciações. O que noto é que os Estados Unidos apresentaram-se como uma sociedade profundamente dividida e tomei boa nota das palavras do novo Presidente eleito, quando disse que seria Presidente de todos os norte-americanos e que contribuiria para a unidade nacional, porque parece evidente que, quer ao longo da campanha quer por este resultado, que nós assistimos a uma divisão ideológica, cultural, social muito profunda na sociedade norte-americana.

Não é a primeira vez que isso sucede, os Estados Unidos não são o único país em que isso sucede – em Portugal também já tivemos eleições que dividiram muito os portugueses – e os vencedores e os vencidos dessas eleições souberam rapidamente reparar as fracturas e reconstruir a unidade nacional.

Acredita, portanto, que Trump acabará assim por se institucionalizar no âmbito do sistema político americano, é isso?

A campanha eleitoral acabou ontem e eu, que já fiz muitas campanhas eleitorais, sei distinguir o que é o registo de uma campanha eleitoral e o que é depois o registo de uma governação. O que posso dizer como ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal e um dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia é que nós aguardamos com muita expectativa a definição das prioridades da política externa da nova administração. E confiamos que essas prioridades se situem em continuidade com as grandes opções que têm norteado a presença dos Estados Unidos no mundo, designadamente o compromisso com o multilateralismo, o compromisso com a Aliança Atlântica, o compromisso com a agenda dos objectivos do desenvolvimento sustentável e com a agenda das alterações climáticas e o Acordo de Paris e compromisso com o direito internacional – essas são opções que têm norteado a acção dos Estados Unidos no mundo, são também opções que têm unido Estados Unidos e União Europeia e, no plano bilateral, Estados Unidos e Portugal.

Aguardando, como disse, com expectativa pelas prioridades da nova administração, confio que se situem em continuidade com as grandes opções que referi.

Das suas palavras, transparecem bastantes dúvidas e alguma incerteza sobre o que poderá ser o futuro.

As duas palavras que utilizei são expectativa – porque, como sabe, ao longo da campanha o então candidato Donald Trump não foi inteiramente inequívoco na definição da sua política externa, até porque a campanha foi muito dominada por questões de política interna – e confiança, no sentido em que os Estados Unidos são um grande país, as suas instituições são muito fortes e, tal como em Portugal, as políticas de Estado pautam-se pela continuidade.

Tendo em conta o discurso xenófobo de Trump nesta campanha, pensa que a comunidade portuguesa nos Estados Unidos terá algo a recear?

Não, não creio. Há características muito importantes que é preciso ressaltar. Uma é a multiculturalidade da sociedade norte-americana que é, em grande parte, uma sociedade de imigrantes, de gente que aportou a América vinda de várias regiões do mundo e assim fez a América – aquilo que os americanos vêem como o ‘melting pot’.

A segunda característica é o profundo enraizamento que se tem sedimentado, ao longo de várias gerações, da comunidade portuguesa residente nos Estados Unidos. São várias centenas de milhares de pessoas que se caracterizam pela sua natural e fácil integração na sociedade americana e pelo seu contributo para a economia e o bem-estar dos Estados Unidos e eu acho que estas duas características não estão em causa. Não creio que os nossos concidadãos que vivem nos Estados Unidos ou os seus filhos e netos tenham algum elemento de preocupação.

Obrigada.

Comentários
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  • O povo não esquece..
    09 nov, 2016 lisboa 21:20
    Pois está bem abelha.,, só sei é que os criminosos iraquianos continuam aqui muito bem instalados... Mas deixa estar que o povo Português não se vai esquecer desta...
  • Mario
    09 nov, 2016 Portugal 14:44
    Caso fosse outro diria o mesmo. Então quando fica resolvido o caso do crime cometido pelos filhos do Embaixador? Este ainda deve andar a ver se descobre como se faz uma conduta de ética. Mas ainda não há comprimidos para a inteligência.
  • Joao Vieira
    09 nov, 2016 Grande Lisboa 12:21
    Sondagens falharam! BREXIT / TRUMP etc. Acabaram as tentativas de Manipulação dos POVOS! E, agora UE?! E, Jornalistas / TVs / Radios - em Portugal e UE! Como ficam, depois disto tudo?! Políticos do velho sistema ! ? Obama fraco no Mundo, dá nisto! Bem visto no exterior e pumba! Já tinha acontecido ao Gorbatchev na Russia! Tudo vai mudar... Campanha pessoal e fora de partidos politicos, tal como Marcelo R. Sousa, triunfa! Até que enfim, vamos assistir à mudança de muitos mitos e paradigmas que se iam contruindo nesta velha Europa! Como, dizia o Papa até os animais já tinham mais importancia que o Homem!...
  • asilva
    09 nov, 2016 adelaide 10:34
    Trump o inicio do fim dos "ratos" na media.... mas que grande pontape no cu dos expertes politicos a volta do Mundo.... media manipulou as polls e em menos de 24 horas Mr.Trump ficou o Presidente dos USA... inacreditavellllllllllllll
  • Francisco
    09 nov, 2016 Espinho 10:24
    Mas alguém lhe perguntou alguma coisa? Os EUA não sabem onde fica o nosso cantinho. Somos pequenos demais para eles, não te preocupes, também não vais ficar muito tempo...

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