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Marcelo pede "pacto de justiça"

01 set, 2016 - 13:31

Na abertura do ano judicial, o Presidente pediu "plataformas de entendimento" que envolvam parceiros sociais e partidos políticos.

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O Presidente da República defendeu esta quinta-feira que devem ser os parceiros judiciários a abrir caminho a um "pacto de justiça" entre os partidos, possivelmente "delineado por fases ou por áreas", e pediu-lhes que criem "plataformas de entendimento".

Num discurso na sessão solene de abertura do ano judicial, no Supremo Tribunal de Justiça, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que um "pacto de justiça" tem de começar "numa mudança cultural na sociedade" e supõe "um denominador mínimo nos parceiros sociais, antes de chegar aos partidos políticos".

"Ou são aqueles que diariamente contribuem para que a justiça não seja uma ideia vã a encontrarem-se e a entenderem-se, mesmo se por parcelas, assim dando um contributo para a consciencialização social, ou então é mais difícil esperar que sejam os partidos políticos a encetarem esse caminho", considerou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "importa assegurar à justiça a prioridade política duradoura que lhe tem faltado, para o que urge uma mudança cultural, uma mudança alargada de mentalidade na sociedade portuguesa".

"Importa, por isso, também, que os parceiros não partidários no mundo da justiça vão muito mais longe do que já foram e criem plataformas de entendimento que possam fazer pedagogia cívica e servir de base ou, pelo menos, abrir caminho aos partidos políticos, criando condições reforçadas para assim se juntarem a um pacto de justiça, mesmo se delineado por fases ou por áreas", apelou.

Dirigindo-se aos agentes judiciários, Marcelo acrescentou: "Portugal espera de todos os que hoje aqui falaram e de muitos mais que têm uma palavra a dizer na sua vida na justiça e pela justiça que sejam um núcleo fundamental para a prioridade adiada dos acordos imprescindíveis. Contam, para tanto, com o apoio inequívoco do Presidente da República, como sempre, em nome de Portugal".

Procuradora: “A desmotivação dos magistrados prejudica o combate à criminalidade”

A procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, diz que é preciso garantir a “substituição dos magistrados que anualmente cessam as suas funções, cuja média etária é particularmente elevada”.

A actual escassez de magistrados no Ministério Público, implica, segundo a procuradora, “um esforço maior por parte dos que se mantém em exercício” e gera "um ambiente de insatisfação que pode prejudicar os resultados positivos” que foram alcançados no ano passado.

Para Joana Marques Vidal, a falta de magistrados pode também prejudicar o “combate à criminalidade grave e complexa como a corrupção”.

Aproveitando o assunto, anunciou a existência de “um plano, em acção, definido pelo Ministério Público contra a corrupção”, que prevê uma “formação intensiva dos magistrados que desempenham funções na perseguição deste crimes económicos e de corrupção”.

A ministra da Justiça discursou de seguida e respondeu à questão da falta de meios. “Estamos a investir na formação específica de magistrados e oficiais de justiça, principalmente os agentes que trabalham com a investigação da corrupção e grandes fraudes. É preciso insistir, igualmente, no reforço da capacitação da Policia Judiciária, que investiga a criminalidade grave e organizada”, disse Francisca Van Dunem.

Taxa de eficácia de execuções nos 2%

O presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Henrique Gaspar, alertou para dificuldades com que o sistema de justiça está confrontado, como cobrança de dívidas e penhoras. Dificuldades “que medidas de gestão não podem resolver”.

Henrique Gaspar também falava na sessão de abertura do novo Ano Judicial, onde salientou a ineficácia das execuções como uma “consequência agregada de um erro histórico e genético do modelo e dos efeitos devastadores da crise económica”.

Perante esta situação, o presidente do STJ vai exigir o estudo rigoroso dos números e uma profunda reflexão, já que as indicações de instâncias centrais de execução apontam para taxas de eficácia nos 2% ou 3%.

A bastonária da Ordem dos Advogados diz que as custas judiciais são “desproporcionais aos rendimentos das famílias" e "constituem um obstáculo intransponível ao acesso à Justiça".

"Hoje, com uma classe média esmagada por impostos, violentada por cortes e reduções de salários e pensões, não é possível continuarmos indiferentes ao empobrecimento desses cidadãos, exigindo o pagamento de taxas e de custas manifestamente insuportáveis para os seus orçamentos", defendeu, por seu lado.

Comentários
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  • Centralão
    01 set, 2016 Central 17:58
    Na verdade o que o "beato" Marcelo pede (anda a preparar à muito), é um novo "Centrão" dos interesses instalados entre o PS e PPD. Não, para isso não conte comigo, nunca!
  • Luis
    01 set, 2016 Lisboa 14:36
    Abertura do ano Judicial. Todos os anos a mesma coreografia, todos os anos a mesma sonelidade, todos os anos a mesma feira de vaidades, todos os anos as mesmas criticas, todos os anos as mesmas chamadas de atenção todos os anos os mesmos discursos e todos os anos a mesma vergonha relativamente à mesma justiça. Toda aquela gente presente no acto solene e não só custam anualmente muito dinheiro aos Portugueses. Será que toda aquele gente não se sente responsável e envergonhada pela desgraçada INjustiça de que somos vitimas há dezenas de anos? Haja vergonha.
  • rosinda
    01 set, 2016 palmela 14:09
    tenho apendido muito com este presidente da republica fiquei a conhecer a marrabenta e a agora aquela coisa que parece que se chama dabbing nunca pensei que o professor marcelo me ensina-se tanta coisa!
  • Pinto
    01 set, 2016 Custoias 14:03
    A justiça tem de amadurecer, existem juízes que deviam ter avaliação todos os anos, alguns deviam ser expulsos.

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