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Ordem dos Médicos considera “gravíssimas” afirmações da bastonária da Ordem dos Enfermeiros

28 fev, 2016 - 23:49

Ana Rita Cavaco disse na Renascença disse que a eutanásia já é de alguma forma praticada nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde com médicos que sugerem essa solução para alguns doentes.

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Bastonária dos Enfermeiros. "Eutanásia já é praticada nos hospitais públicos"
Veja as declarações polémicas da bastonária dos Enfermeiros. "Eutanásia já é praticada nos hospitais públicos"

A Ordem dos Médicos reage de forma contundente às declarações da bastonária da Ordem dos Enfermeiros na Renascença e vai enviá-las para a Inspecção Geral das Actividades em Saúde, para o Ministério Público e para os próprios órgãos disciplinares da Ordem dos Enfermeiros.

Este sábado, no programa “Em Nome da Lei”, Ana Rita Cavaco disse que a eutanásia já é de alguma forma praticada nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde com médicos que sugerem essa solução para alguns doentes.

A Ordem dos Médicos considera essa afirmação “gravíssima”, uma vez que envolve médicos e enfermeiros na alegada prática encapotada de crimes de homicídio.

Em comunicado, a Ordem dos Médicos diz ainda que é “intolerável a desconfiança” que vem lançar sobre os profissionais de saúde e que não denunciar um crime, também é cometer um crime.

A Ordem, liderada por José Manuel Silva, diz ainda que irá enviar o teor das declarações de Ana Rita Cavaco para a Inspecção Geral das Actividades em Saúde, para o Ministério Público e para os próprios órgãos disciplinares da Ordem dos Enfermeiros.

Leia o comunicado na íntegra:

Comunicado da Ordem do Médicos na sequência das gravíssimas declarações da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros

"A Ordem dos Médicos foi surpreendida por declarações da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros que, num programa radiofónico, afirmou taxativa e assumidamente que a “eutanásia” já é praticada nos hospitais portugueses e que terá visto médicos sugerirem a administração de insulina a doentes em situação terminal para lhes causar o coma e provocar a morte, mesmo sem ‘pedido’ do doente!
Independentemente das posições individuais relativamente à legalização da “eutanásia”, o teor destas declarações é extraordinariamente grave, pois envolve médicos e enfermeiros na alegada prática encapotada de crimes de homicídio em hospitais do SNS.
Assim, considerando que:

a) Se a Ordem dos Médicos não se pronunciasse sobre estas declarações estaria a legitimá-las implicitamente,

b) A forma como as declarações são proferidas transmite a ideia de que a eutanásia possa ser uma prática relativamente comum e tacitamente aceite e praticada por médicos e enfermeiros, o que certamente irá prejudicar gravemente a confiança dos doentes e dos seus familiares nos profissionais de saúde do SNS,

c) Estas declarações não podem passar em claro com a ligeireza com que foram proferidas, pois são difamatórias e atentam contra a dignidade de médicos e enfermeiros, pelo que devem ser provadas ou inequívoca e formalmente desmentidas. Não é tolerável que alguns comecem a dizer que já se pratica “eutanásia” nos hospitais porque ‘outros’ o afirmaram. Ou viram ou não viram, ou praticaram ou não praticaram, ou conhecem casos concretos ou não conhecem.

d) Não denunciar um crime, se presenciado ou de conhecimento concreto, é cometer um crime,

e) As palavras assumidamente proferidas pela Senhora Bastonária da Ordem dos Enfermeiros podem enquadrar-se numa violação muito grave do Estatuto e Código Deontológico da Ordem dos Enfermeiros,

A Ordem dos Médicos vem informar que:

1 - Desconhece concretamente qualquer caso de “eutanásia” explícita ou encapotada nos Hospitais do SNS ou noutras instituições de Saúde, pelo que considera que os portugueses devem manter a total confiança nos profissionais de saúde.

2 - Irá enviar as declarações da Senhora Bastonária da Ordem dos Enfermeiros para a IGAS, para o Ministério Público e para aos órgãos disciplinares competentes da Ordem dos Enfermeiros, para os procedimentos tidos por convenientes.

3 – Considera que o debate sobre a “eutanásia” deve continuar para um correcto esclarecimentos das pessoas, até porque continua a verificar-se uma grande confusão de conceitos, nomeadamente entre eutanásia e distanásia.

Comentários
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  • António Rocha
    02 mar, 2016 Vila Nova de Gaia 21:29
    Sra bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Sou enfermeiro desde Julho de 1980, e em toda a minha carreira de dedicação aos doentes, ( agora pacientes), nunca vislumbrei ou assisti a qualquer acto médico em colaboração com qualquer Enfermeiro. Sempre lutamos lado a lado com o doente em prol da vida. A Sra não sabe o que isso é. Por isso não fale do que não sabe. Mostrou ser possuidora de ignorância crónica. Envergonhou todos os Enfermeiros que diariamente nos nossos hospitais, lutam com o doente a favor da vida. Se tem dignidade demita-se. Saiba que provocar um coma por conveniências clínicas, é uma terapêutica e nunca eutanásia. A morte tem o seu lugar próprio, a sua hora, e devemos estar preparados para a receber. Mas nunca para a provocar. Os doentes sempre mereceram o nosso maior respeito e dedicação e por muito que lhe custe, sempre será assim. É a ordem natural das coisas, que nenhuma bastonária mal preparada, pode alterar. Repito, demita-se!
  • António patronilho
    01 mar, 2016 Lisboa 01:12
    Em 23 anos de profissão tenho conhecido médicos. Enfermeiros e auxiliares completamente dedicados aos utentes. Desconheço as intenções da Sra Bastonaria e sua experiência. Porém, também acredito e todos sabemos que a linguagem nos possamos enganar - o que eventualmente pode acontecer a todos nós.. Deixo algumas questões : é mentira que nos ACES, alguns médicos se recusam fazer Domicilios? É mentira que alguns médicos se recusam a ir às enfermarias quando são chamados de noite ou fim de semana? É verdade que alguns medicos prescrevem médicacão pelo telefone, recusando-se deslocar-se à beira do doente? É mentira que alguns médicos dormem toda a noite num quarto? Atencao: cuidado de não fazer generalizacoes. Se os enfermeiros denunciarem estas situações, o que lhes aconteceria?
  • Ana Cristina
    29 fev, 2016 14:47
    Sou enfermeira há 18 anos, no SNS, e jamais vi ou sequer ouvi algo semelhante ao descrito. Trabalhamos arduamente para salvar vidas, não para lhes pôr fim. Sinto-me envergonhada pelas declarações da Sra. Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, não me sinto representada pela actual Direção e considero fundamental que a Sra Bastonária peça demissão e se convoquem eleições rapidamente. Espero que a opinião pública perceba que este infeliz e falso comentário reflecte apenas a pessoa que o proferiu e não os profissionais que diariamente e dedicadamente defendem a saúde dos cidadãos.
  • carlos cunha
    29 fev, 2016 coimbra 14:25
    Estas questões na área da ética e deontologia /prática são sempre muito delicadas e sensíveis. Se se faz, se não se faz, como se faz....cada caso será um caso...o sofrimento, a dor...estes casos têm de ser discutidos na altura própria com os intervenientes adequados, não a opinião pública por si só.Porquê? porque a opinião pública não detém conhecimentos suficientes para julgar estas situações. E tanto não detém, que ao opinar está sujeita a julgar inadvertidamente com o seu senso comum. A srª bastonária claro, entusiasmou-se com a conversa e disse o que não deveria ter dito. Pois situações como esta são do foro particular e cada um tem de responder por elas, ou decidir por si. Penso que foi um momento infeliz, como muitos que todos nós temos quando falamos demasiado. Devemos ser mais pautados na linguagem e não lançar para a discussão pública temas, deveras difíceis de julgar pela sociedade, pelo menos desta forma. Cuidar é difícil, cuidar bem mais difícil é! E isto serve para todos os profissionais de Saúde quer sejam enfermeiros ou médicos!!!!!!!!!!!! Não há necessidade de atirar culpas de uns para os outros. Nesta vida todos erram!! Venha daí um a dizer que é perfeito....
  • paulo
    29 fev, 2016 porto 13:35
    Não é questão de assumir ou não. Nenhum, mas repito, nenhum médico pode apoiar a eutanásia. É contra o código deontológico. Nenhum médico pode actuar em alguma medida com o objectivo de por ao fim a vida de um paciente. Isto nem devia ser um debate. Cuidado paliativos sim. Tirar toda a dor possível, sim. Isso são cuidados paliativos. Mas eutanásia nunca.
  • Dário Cruz
    29 fev, 2016 Coimbra 11:58
    INQUALIFICÁVEL ... Ainda bem que a O.M. já accionou medidas de apuramento de responsabilidade desta enfermeira indigna do lugar que desempenha. Espero que seja punida à medida do grave delito que acaba de cometer...
  • nmartins
    29 fev, 2016 coimbra 11:53
    Voltamos à conversa do aborto antes da legalização " é proibido mas pode se fazer". Hipocrisia ao mais alto nivel, é o que os sr's/sra's bastonarios sabem fazer. Os direitos dos utentes são relegados para segundo plano. Quem nunca foi aliciado para fazer uma terapia/cirurgia por um sr doutor do sns para ser feita a nivel privado? Quem nunca teve a sensação que os dentistas são autenticos mercenarios que fazem de modo a ter de ir ao dentista 1 vez por mes? Porque é que a Bastonaria dos enfermeiros proibiu um socorrista de administrar um injeção de insulina, quando qualquer atrasado mental consegue dar a si proprio. Não se conseguia formar socorristas a faze lo? É preciso um enfermeiro? Quem pensar que eles se preocupam com os utentes, está redondamente enganado, só se preocupam com os da classe? NOTA: Há medicos e enfermeiros extremamente competentes e dedicados à causa mas esses não tem direito de antena, tem de trabalhar.
  • PEDRO FERREIRA
    29 fev, 2016 VALONGO 11:51
    Gravíssimo é não ter coragem de o assumir. Um senhor tão bem parecido e com tanta falta de honestidade intelectual.
  • João
    29 fev, 2016 Portalegre 11:45
    A propósito de não estar aprovada a eutanásia gostaria de saber senhores jornalistas quantas pessoas são enviadas anualmente de volta para casa para morrer em situações deploráveis/horrendas devido à falta de recursos...
  • Teresa
    29 fev, 2016 Porto 11:20
    E de uma assentada a Senhora Bastonária acusou os enfermeiros de serem uns assassinos. Grande defesa que os mesmos têm... Depois venham chorar por não serem respeitados e valorizados.

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