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Palavra de ministro: não voltarão a faltar neurocirurgiões nos hospitais de Lisboa

23 dez, 2015 - 10:44

A garantia surge na sequência da morte de um homem de 29 anos, depois de três dias à espera por uma cirurgia urgente ao cérebro. Movimento de Utentes dos Serviços Públicos culpa cortes no sector da saúde.

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O ministro da Saúde garante que a falta de neurocirurgiões ao fim-de-semana nos hospitais de Lisboa, nomeadamente no de São José, não voltará a acontecer. Adalberto Campos Fernandes reconhece que os cortes na saúde foram longe demais.

"Temos consciência de que nos últimos anos o país foi sujeito a constrangimentos financeiros em áreas que deveriam ter sido poupadas", afirmou esta quarta-feira, durante uma visita ao Instituto Português de Oncologia, em Lisboa.

O ministro reagia assim ao caso da morte de um jovem de 29 anos, que deu entrada de urgência no Hospital de São José com um derrame cerebral. A morte ocorreu por falta de assistência médica especializada: aguardou três dias por uma operação considerada urgente. "É incompreensível o que aconteceu e não pode voltar a acontecer",

Explicando que pediu ao hospital para apresentar até esta quarta-feira um "relatório circunstancial dos factos" e que já foi também pedida uma inspecção com carácter de urgência à Inspecção Geral das Actividades em Saúde (IGAS), Adalberto Campos Fernandes lembrou que a situação dos neurocirurgiões, que não trabalham ao fim-de-semana, tem mais de dois anos e afirmou que o problema em causa não é apenas de falta de meios, mas sim de organização. "Não é apenas uma questão de natureza financeira e de recursos. No país, o Norte e o Centro funcionam sem problemas. Trata-se claramente de um problema de organização dos meios".

Nesse sentido, garantiu que a partir de agora estarão equipas completas de prevenção ao fim-de-semana para que o caso não se repita.

O caso levou à demissão do presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, Cunha Ribeiro, e dos presidentes dos conselhos de administração dos centros hospitalares Lisboa Central e Norte.

Falta de meios humanos e financeiros

Numa declaração sem direito a perguntas, lida ao início da noite de terça-feira, o presidente da ARS, Luís Cunha Ribeiro, anunciou a sua demissão e a de Teresa Sustelo, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central, bem como de Carlos Martins, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte.

“Nos últimos anos, por cortes que tivemos na área da saúde, estes hospitais não tiveram possibilidade de ter recursos humanos para dar respostas a situações de doentes como este. Esta situação está reposta e, a partir deste momento, foi-nos autorizado pela equipa do Ministério da Saúde que ambos os hospitais e ambos os presidentes dos conselhos de administração assumiram que passa a haver respostas para situações deste género”, afirmou.

Esta quarta-feira, à Renascença, o Movimento de Utentes dos Serviços Públicos, que inclui o sector da saúde, insistiu que os trágicos acontecimentos no Hospital de São José são consequência dos sucessivos cortes no sector.

“O que nós esperamos é que a situação que durou estes últimos quatro anos, principalmente, e que agravou muitíssimo o Serviço Nacional de Saúde”, seja alterada, afirma à Renascença Cecília Sales, daquele movimento.

“Temos ideia de que a reforma hospitalar tem de ser revista. Os cortes nos investimentos, quer nos recursos humanos quer em materiais, etc, dão depois este resultado extremamente negativo”, conclui.

A morte do jovem de 29 anos já motivou a abertura de um inquérito por parte do Ministério da Saúde.

[Notícia actualizada às 17h30]

Comentários
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  • Joana Meira
    23 dez, 2015 Porto 22:51
    O ministro está a fazer demagogia barata pq sabe mto bem q a morte deste jovem não se ficou a dever aos cortes na Saúde mas sim à falta de organização do HSJ e da ARSL, até pq os mesmérrimos serviços funcionam 24 sb 24 horas, 365 dias por ano nos outros centros hospitalares de referência onde a tutela superior é a mesma. Se o Hospital de S. José não tinha condições para aceitar o doente para ser operado deveria ter informado Santarém e esta unidade teria encaminhado o doente de helicóptero para outro Hospital, nomeadamente em Lisboa Norte ou Coimbra, onde chegaria em 2 horas, e poderia ter sido resolvida a situaçao de emergência em q estava. Tb se deveria apurar q esforços foram feitos para contactar a equipa em falta e lhe dar conta da gravidade da situação. Pelo q conheço dos profissionais de saúde, tenho a certeza que os q integram tal equipa não se recusariam a operar se lhes fosse relatada a situação de gravidade q estava a pôr em causa a vida do doente. E das duas, uma: ou o HSJ não informou a tutela intermédia da situação gravíssima em q se encontrava nos fins de semama ou a ARS de Lisboa sabia de tal situação e não esteve à altura para a resolver, uma vez que no Norte e Centro a questão não se apresenta. E outra bacoquice são as palavras do Bastonário da Ordem dos Médicos q só sabe dizer mal do SNS (q é um dos melhores do mundo) e, que se saiba, tb nunca tinha alertado para a situação. Em assuntos desta gravidade era bom q houvesse algum recato até se apurar a
  • ANA
    23 dez, 2015 COIMBRA 15:47
    É MUITO FÁCIL CULPAR OS OUTROS AGORA...CONCORDO COM O PAULO MENDES, EM COIMBRA QUE EU SAIBA NÃO SE PASSA ISSO...PELO QUE PERCEBI A BASE QUE FOI CONSULTADA FOI SÓ AO NIVEL DE LISBOA OU ESTOU ENGANADA? SERÁ QUE OS PROPRIOS NEURO CIRURGIÕES NÃO FICAM COM A CONSCIENCIA PESADA???!!! "GOSTARIA" DE VER SE FOSSE UM FILHO DELES..IRIAM BUSCAR O NEURO CIRURGIÃO AO FIM DO MUNDO OU ENTÃO FARIAM UM FAVOR UNS AOS OUTROS...DEMITIREM SE E COLOCAREM A CULPA NOS OUTROS SO MOSTRA QUE SÃO COBARDES...TOMEM DECISÕES! SEJAM HOMENS! AS DESCULPAS NÃO SE PEDEM, EVITAM SE...
  • Carlos Fontes
    23 dez, 2015 Coimbra 15:06
    Os motivos desta situaçao trágica irão ser apurados e, ou mto me engano, ou o Santa Maria terá q assumir a responsabilidade de não ter informado o Hospital de Santarém q não estava em condiçoes de receber um doente desta gravidade e que deveria ser enviado para outro hospital da região. Em qualquer outro hospital de referência do país , nomeadamente, em Lisboa Norte, Porto, Coimbra, Braga...) o Ministério da Saúde é o mesmo e os serviços trabalham 24 sobre 24 horas, todos os dias do ano e o doente teria sido operado. Esta situação trágica não pode pôr em causa a qualidade do SNS, que ocupa, tão somente, o 12º lugar a nível mundial, bem à frente de países mais desenvolvidos como o Reino Unido, a Bélgica, a Holanda, a Suiça, a Suécia, a Dinamarca, a Áustria, a Austrália, o Canadá ou os EUA. Aliás, o reconhecimento da excelência dos nossos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) é de tal ordem que a Inglaterra e a Alemanha vêm cá requisitá-los a troco de salários bem mais altos. E tenho a certeza de que se tivesse sido chamada, e se se apercebesse da gravidade da situaçao, a equipa iria operar o doente mesmo sem receber qualquer honorário.
  • Ana
    23 dez, 2015 Coimbra 15:03
    certamente estas demissões muito pouco tiveram a ver com este triste caso, que todos lamentamos, acho que foi mais um ajuste de contas do ministro aldraberto...
  • fanã
    23 dez, 2015 aveiro 14:54
    Sem contornos e em poucas palavras, este caso tornado publico "fora os que nos são silenciados", é um caso que tem que acabar em Tribunal, "NÃO ASSISTÊNCIA A PESSOA EM PERIGO DE VIDA", em unidade hospitalar, o que se torna mais agravante,e prisão para todos os responsáveis ao mais alto nível. Não basta demitirem-se e sacudir a agua do capote. O ministro Paulo Macedo em prisão preventiva ........Já!!!!!!
  • Americo
    23 dez, 2015 Ansiao 14:52
    Boa tarde. É de loucos justificar o ocorrido com cortes na área da saúde.Só quem não passa por hospitais na condicção de utente. É lastimável no mínimo.
  • Paulo Mendes
    23 dez, 2015 Porto 14:23
    Convenhamos: o MS é o mesmo em todo o país e nos HUC em Coimbra, em Braga, no S. João no Porto, isto nao se passa. Portanto a responsabilidade é, antes de mais, do Hospital de S. José (se não informou o Hospital de Santarém de que não estava em condições de receber o doente e que o mesmo deveria ser encaminhado para outra Unidade de Saúde, nomeadamente de Lisboa Norte); depois é da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, se não esteve atenta a esta falha nos Hospitais de Lisboa e se não informou a tutela de tal situação. Se o Ministério da Saúde resolveu o problema no Porto, em Coimbra ou em Braga, tb o resolveria em Lisboa. Além disso, como diabo é que no mesmo dia em que as administraçoes se demitem já o problema está resolvido, segundo palavras de um dos seus directores?
  • joao gil
    23 dez, 2015 lisboa 13:27
    É uma vergonha que se argumente com os cortes no orçamento para se justificar que não se opera um doente numa emergência, seja a que horas for de que dia do ano for. No estado as pessoas habituaram-se a exigir muito e a servir pouco. Falta-lhes a noção de que quem paga o estado são os contribuintes, com os seus impostos. O resultado a que assistimos não é o do corte dos orçamentos, mas o do corte promovido na responsabilidade individual e colectiva e no do sentido de serviço aos outros. Mas agora já há dinheiro para operar doentes, de maneira que com dinheiro toda a gente é dedicada, organizada, empenhada e responsável. médicos, ministros, enfermeiros, administradores hospitalares, administradores da ARS, varredores do chão dos hospitais, etc.. toda a gente nos hospitais públicos é boa quando o ministro garantir que paga horas a preços que o resto dos portugueses não pode almejar. Porque o resto dos portugueses vive na vida real, onde essas coisas não acontecem. Trabalham em empresas privadas e se não forem diligentes, competentes e prestarem bons serviços aos seus clientes ajudam a levar as empresas para o fundo e com isso candidatam-se mas é ao fundo de desemprego (com sorte..)
  • Conceição Teixeira
    23 dez, 2015 Mondim de Basto 13:15
    E no resto do país também não vão faltar médicos ou o resto é só paisagem?
  • Manuel Carlos Pinto
    23 dez, 2015 Braga 13:05
    O que tem que ser apurado é saber se a Administração do Hospital sabia desta emergência e se algo fez para chamar a equipa médica, mesmo que não estivessem de serviço, por um lado; e por outro se , eventualmente, a equipa médica foi chamada e se recusou a aparecer porque não estava de serviço. Acredito que houve antes inépcia e negligência , pois sendo sobrinho de um médico (infelizmente já desaparecido) sempre me habituei a ter em consideração o papel desses profissionais e , por isso, recuso-me a acreditar que a equipa não apareceu só porque não ganhava no fim de semana.Se assim foi, meu tio morreria outra vez ....mas agora de vergonha! É certo que o trabalho tem que ser pago, mas ouvir , neste caso, os Administradores quase só falarem nesse aspecto, fico estupefacto e desiludido , mais uma vez , com este tipo de dirigentes. Se fosse familiar deste infeliz jovem jamais pararia até saber a total verdade.Afinal não estamos no deserto ou no sertão africano, onde os meios deste tipo são inexistentes.Passar-se em Lisboa e num hospital de referência assusta qualquer um.Peço ao Sr.Ministro que não deixe a culpa morrer solteira!

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