30 nov, 2024 - 15:07 • Lusa
Algumas dezenas de mulheres marcharam este sábado, no centro de Maputo, em repúdio pelo atropelamento, na quarta-feira, de uma jovem durante as manifestações contra o resultado eleitoral em Moçambique.
"Não estamos só a marchar contra o caso dela, que foi bastante explícito, estamos a marchar em repúdio ao facto de existirem tantas outras mulheres que perderam a vida neste contexto das manifestações (...)", declarou à Lusa Nzira de Deus, diretor do Fórum Mulher, uma coligação de organizações da sociedade civil que organizou o protesto.
Empunhando dísticos com mensagens de repúdio contra violência e entoando hinos de exaltação à mulher moçambicana, o grupo, maioritariamente composto por ativistas, percorreu menos de dois quilómetros da avenida Eduardo Mondlane, a mesma estrada em que a jovem foi atropelada na quarta-feira, sempre sob escolta policial.
"No dia 27, fui atropelada por quem devia proteger-me", lia-se num dos cartazes do grupo, que, a escassos metros de onde a jovem foi atropelada, fez uma oração.
A jovem, que ainda está a receber assistência médica, foi atropelada por uma viatura militar blindada que circulava em alta velocidade por volta das 09h30 locais (07h30 em Lisboa), num cenário de extrema violência -- não sendo claro se o condutor avistou a manifestante do outro lado da barricada.
O episódio, cujas imagens foram captadas pela comunicação social e diversas pessoas que estavam no local, revoltou os manifestantes, que até ao momento do incidente estavam apenas a cortar a circulação automóvel em praticamente todas as artérias centrais de Maputo, na sequência dos protestos convocados por Venâncio Mondlane, candidato presidencial que rejeita os resultados das eleições de 9 de outubro.
As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) assumiram, na quarta-feira, terem atropelado a jovem na capital moçambicana, esclarecendo que o veículo se encontrava "numa missão de proteção de objetos económicos" contra manifestantes e que a vítima foi socorrida.
Tensão em Moçambique
Em entrevista exclusiva à Renascença - a partir de(...)
A Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) apresentou, na sexta-feira, ao Ministério Público uma queixa-crime contra os militares que atropelaram uma jovem durante protestos pós-eleitorais, classificando a ação de "criminosa, violenta, bárbara e gratuita".
Várias entidades internacionais condenaram o episódio, incluindo as Nações Unidas e a União Europeia, que exigiram uma investigação ao atropelamento.
A onda de manifestações em Moçambique, com cerca de 70 mortos e mais de 200 feridos a tiro num mês, em resultado dos confrontos com a polícia, tem sido convocada por Venâncio Mondlane, que contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo nas presidenciais, com 70,67% dos votos, e, nas legislativas, da Frelimo, que reforçou a sua maioria absoluta, segundo os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Nesta fase, que começou na quarta-feira e terminou na sexta-feira, pelo menos três pessoas morreram e outras cinco ficaram feridas devido ao disparo de tiros em Moçambique, indicou a Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana Plataforma Eleitoral Decide.