Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Líder da Igreja Anglicana renuncia ao cargo após escândalo de abusos

12 nov, 2024 - 14:25 • Daniela Espírito Santo , Vítor Mesquita , Ana Catarina André com agências

​Arcebispo da Cantuária, Justin Welby, abandona o cargo "com tristeza" após acusações de encobrimento de um caso de abusos sexuais durante um acampamento cristão.

A+ / A-

O líder espiritual da Igreja Anglicana renunciou ao cargo, esta terça-feira. O arcebispo da Cantuária, Justin Welby, anunciou a renúncia na sequência da publicação, na semana passada, de um relatório independente sobre o alegado encobrimento de centenas de abusos por parte de um advogado, nos anos 70.

O documento, conhecido no Reino Unido como o relatório Makin, conclui que a inação do arcebispo terá permitido a continuação de alegados crimes cometidos ao longo de décadas por um advogado canadiano - entretanto já falecido - que terá, alegadamente, sido autor de abusos sexuais, físicos e psicológicos a mais de uma centena de menores, enquanto líder de um acampamento cristão.

O relatório levou milhares de pessoas a assinarem uma petição a pedir a demissão de Welby por este não ter denunciado o caso às autoridades quando tomou posse, em 2013. O relatório acusa diretamente o arcebispo de falhar na sua "responsabilidade pessoal e moral".

Ainda na semana passada, Welby pediu desculpa por "falhas e omissões" e reconheceu que deveria ter agido quando ficou a saber do caso. Há dias, Welby disse ter descartado a ideia de se demitir, mas acabou por fazê-lo esta terça-feira.

"Os últimos dias renovaram o meu longo e profundo sentimento de vergonha pelas falhas históricas de proteção da Igreja da Inglaterra", disse Welby, em comunicado.

"Espero que esta decisão deixe claro o quão seriamente a Igreja da Inglaterra entende a necessidade de mudança e o nosso profundo compromisso em criar uma igreja mais segura. Ao renunciar, faço-o com pesar por todas as vítimas e sobreviventes de abuso", escreve Justin Welby, num comunicado divulgado nas redes sociais.

Welby renunciou, assim, cinco dias após o relatório independente ter sido crítico da sua forma de lidar com os abusos em causa, que terão ocorrido na década de 70.

No relatório, é dito que um advogado britânico, John Smyth, terá submetido mais de cem crianças a abusos "brutais e horríveis" durante um período de quarenta anos. Smyth, que era presidente do Iwerne Trust - que financiava os acampamentos cristão em Dorset, Inglaterra -, mudou-se para a África do Sul em 1984 e, diz o relatório, terá continuado a cometer abusos até perto da sua morte, em 2018.

Smyth é considerado o pedófilo mais prolífico associado à Igreja Anglicana. Se as acusações tivessem sido relatadas à polícia, defende o inquérito independente pedido em 2019, poderia ter havido uma investigação mais completa e Smyth poderia ter enfrentado acusações antes de morrer.

Justin Welby era, até agora, o líder espiritual de 85 milhões de anglicanos em todo o mundo.

Em declarações à Renascença, D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana da Comunhão Anglicana, em Portugal, lembra o Arcebispo de Cantuária, que conheceu em 2013, como “um homem íntegro e um homem de grande compromisso com a Igreja”.

Alguém que “se distinguiu pelo seu empenhamento no cumprimento de medidas de prevenção”. A renúncia é, por isso, “uma posição muito corajosa”.

“Mostra que todos temos de assumir as nossas responsabilidades diretas ou indiretas, mesmo sendo figuras cimeiras da Igreja. E, portanto, é um exemplo de coerência a sua resignação e ao mesmo tempo, é um exemplo de grande exigência para o tratamento desta questão”, diz.

[Notícia atualizada às 19h20 com as declarações de D. Jorge Pina Cabral.]

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+