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opinião de joão cunha

Valência: o caos de uma guerra onde as armas deram lugar à lama e ao entulho

08 nov, 2024 - 11:28 • João Cunha , enviado a Valência

Parece claro que existe um pacto público de não agressão entre o governo central e o da Generalitat.

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Foto: Biel Alino/EPA
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oto: Europa Press/ABACA via Reuters Connect
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Foto: Ana Escobar/EPA
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Foto: Kai Forsterling/EPA
Foto: Kai Forsterling/EPA

A contagem de vítimas está longe de encerrada, mas as inundações na Comunidade de Valência são já um dos piores desastres na história de Espanha. Há centenas e centenas de desalojados, largas dezenas de desaparecidos, milhões e milhões de euros de prejuízos materiais e muitos meses de espera até que as infraestruturas danificadas sejam recuperadas. Até que as vidas voltem ao normal.

Do Estado central não houve nenhum apontar de dedo ao presidente da Comunidade Valenciana pela falta de resposta imediata à emergência. Nem da Generalitat para com o executivo de Pedro Sanchez, que anunciou 10.600 milhões de euros de ajudas diretas às famílias e empresas, assim como benefícios fiscais e linhas de crédito.

Parece claro que existe um pacto público de não agressão entre o governo central e o da Generalitat. Mas os dias passam, aumentando o desespero dos que ainda desconhecem o paradeiro dos seus familiares e que continuam sem eletricidade ou água e sem terem uma casa onde se refugiarem.

Com o desespero, aumentam também as críticas e as perguntas sobre os recursos disponíveis e sobre a demora em chegar.

Depois do desastre, a Generalitat valenciana ativou o nível 2 de emergência, que lhe dá o comando do socorro e exclusividade sobre a gestão da tragédia. Pode, contudo, solicitar a ajuda que considerar necessária ao governo central, como já fez, e já tem no terreno militares do exército enviados de várias zonas de Espanha. Mas Carlos Mázon, o presidente valenciano, podia ter subido a emergência para o nível 3, o que faria com que todo o controle da situação transitasse para o governo central. Mas até agora não o fez.

Ainda assim, o executivo de Pedro Sanchéz podia decretar uma emergência de interesse nacional, assumindo toda a direção da operação e dispositivo. Mas também não o fez nem parece que o vá fazer. E ainda ninguém conseguiu justificar, de forma explicita, porque não chegou atempadamente a ajuda a todos os que dela necessitam.

No meio do cataclismo, valeu o impulso solidário extremo de milhares de valencianos que se fizeram à estrada e atravessaram o rio Túria, a caminho das zonas afetadas. Levaram pás, vassouras, baldes e esfregonas, carregando mochilas com garrafas de água, fruta, comida e medicamentos para os mais afetados. Foram tantos, todos os dias, que a Generalitat chegou a pedir que regressassem a casa, para não entupirem os acessos, essenciais para a mobilidade das equipas de emergência dos bombeiros e dos militares do exército no terreno.

Solidariedade que se estendeu à cidade de Valência. No regresso a casa, os milhares de voluntários tinham, á porta de muitos edifícios, os residentes a oferecer-lhes o mesmo que tinham transportado, horas antes, para o lado de lá: fruta, água e alguma comida. E alguns taxistas ofereciam-se para transportar, gratuitamente, os afetados nos tais municípios da margem direita do Túria.

A maturidade de um país vê-se nas tragédias. No caso de Espanha, o que se vê é a fragilidade da estrutura governativa, aliada à divisão administrativa do país. A única união que se percebe, nas ruas, é a do povo.

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