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Eleições EUA. “Algo a que não estamos habituados vai acontecer e isso significa a não aceitação dos resultados”

06 nov, 2024 - 06:06 • Marisa Gonçalves

Ana Santos Pinto admite que os resultados eleitorais podem vir a ser contestados pelas candidaturas de Donald Trump e Kamala Harris.

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A investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI), Ana Santos Pinto, olha para uma sociedade norte-americana demasiado polarizada na sequência das eleições presidenciais desta terça-feira, mas não se mostra surpreendida.

“Estas eleições mostram dois modelos de sociedade muito diferentes e não conseguem encontrar um ponto de diálogo entre si. Foram, entretanto, explorando essa divisão de forma a tornar-se até pessoal, na maneira como se encara estas eleições”, aponta à Renascença.

A investigadora admite que os resultados podem vir a ser contestados por ambas as candidaturas.

“Algo a que não estamos habituados vai acontecer e isso significa a não aceitação dos resultados eleitorais. Aquilo que no discurso da campanha de Donald Trump tem sido visível ao longo das últimas semanas é assumir a vitória, independentemente da validação final dos resultados, e isso tem consequências imprevisíveis porque até agora não vivenciámos uma experiência dentro desse género. Como não temos padrão de comportamento para comparar, resta-nos esperar, observar e tentar perceber qual é o comportamento institucional dos candidatos dos partidos e depois, naturalmente, dos apoiantes”, afirma.

Por estas razões, Ana Santos Pinto admite que os resultados podem ser conhecidos mais tarde do que o esperado.

“Não tenho dúvidas de que existirão processos judiciais, porque isso acontece em todo os atos eleitorais, com mais ou menos intensidade. A verdade é que este processo é mais político do que jurídico e também para o partido democrata. Dependendo dos resultados, que podem ser bastante renhidos e com empates técnicos em algumas circunstâncias, creio que será um processo muito longo."

Europa pode ficar mais isolada

Ana Santos Pinto aponta que os Estados Unidos são o maior aliado da Europa no mundo, do ponto de vista político, militar e no contexto da Aliança Atlântica e também do ponto de vista económico e militar.

“Cresceu muito a dependência dos países europeus em relação aos Estados Unidos em matéria energética, depois da guerra na Ucrânia e com o maior afastamento do fornecimento do gás russo. Tudo o que sejam medidas protecionistas que vão acontecer, independentemente de uma vitória de Donald Trump, vai ter impacto em todas as dimensões das políticas públicas”, sustenta.

Apesar de qualquer cenário pós-eleitoral que venha a verificar-se, a ex-secretária de Estado da Defesa Nacional diz ter uma certeza: “Perante ambas as candidaturas, os países europeus ficarão mais sozinhos na resolução dos seus problemas e em particular no caso da Ucrânia”.

Ana Santos Pinto foi uma das investigadoras convidadas de um debate organizado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), para acompanhar as eleições presidenciais nos Estados Unidos, na noite desta terça-feira, em Lisboa.

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