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Reportagem na América

Ana, a eleitora indecisa por um homem "que já não pode ouvir"

05 nov, 2024 - 09:57 • José Pedro Frazão, enviado aos EUA

Democrata desde que chegou aos Estados Unidos, nos anos 60, Ana Viçoso chega ao dia das eleições sem decidir em quem vota. A culpa é de Trump pois "a nação estava tão boa quando ele lá estava". Mas o coração desta mulher do distrito de Aveiro pode sobrepor-se à razão mais logo na cabina de voto.

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Durante muitos anos nada mudou na cor política desta comunidade portuguesa na Pensilvânia. Os regulamentos do Clube Português de Bethlehem proíbem apoios declarados a políticos, mas as gerações de portugueses que chegaram para as fábricas no início do século XX caíram no caldeirão do Partido Democrata.

Vinham de Nova Iorque para trabalhar na Siderurgia Bethlehem, fábrica de aço que marcou uma era até 2003 na Pensilvânia. Quando o pai de Ana chegou, nos anos 60, era o tempo do senhor Lisboa, que dominava os contratos de instalação de esgotos para as ruas e dava emprego a todo o português que quisesse trabalhar. O Clube Português, fundado em 1928, era o ponto de encontro de todos e o Partido Democrata era o reduto dos trabalhistas.

Ana chegou há 68 anos, com dois irmãos e a mãe, costureira de profissão. Embrenhou-se no clube que chegou a liderar quando não ficava apenas a liderar o salão. Quem a vê agora, decidida a andar para trás e para a frente no mais antigo clube luso da Pensilvânia, não imagina que ainda não está segura do seu voto. " Só quando chegar à cabina de voto é que vou decidir", confessa á Renascença.

O início da fratura

Foi Donald Trump que começou a dar a volta à cabeça dos portugueses de Bethlehem. "Quando ele foi Presidente, esta nação estava boa de dinheiro. No início, ele tratou da gente" Ana diz que os juros estavam bons no banco, "agora não rendem nada" e está tudo caro. É essa memória de Trump na Casa Branca que está a moer o espírito desta mulher da freguesia da Branca, Albergaria-a-Velha.

"Ele talvez seja bom para a nação. Mas a língua dele que estraga tudo. Eu não aguento a língua dele", desabafa Ana, que trabalha num hospital ao lado de muitos porto-riquenhos que não gostaram de se ver associados a lixo por um comediante num comício de Trump. Ficaram muito sentidos com Trump. " Só os ricos é que não, porque gostam de ser ricos"

Ana garante que ninguém gosta da maneira como Trump fala. E é isso que a faz duvidar se Trump é o melhor para a América, pois até concorda com as posições do candidato republicano sobre imigração.

"Não tenho nada contra as pessoas que vêm das outras nações, mas é demais também. A América está dar-lhes tudo de graça: dinheiro, está a dar seguro. A mim nem ninguém me deu nada, tive que trabalhar por tudo o que tenho", sustenta à hora de jantar no Clube de Bethlehem.

Pela boca deve morrer o voto em Trump

Outra coisa é o discurso de Trump em relação às mulheres. Em linha com as sondagens , é aqui que o voto pode ir para Kamala Harris.

Pela boca deve morrer o voto em Trump, concluímos: "Vou votar para a outra[ Harris]. Quando chegar a hora, pensarei o que é o melhor. E vou pedir que ela que faça tudo o que que pode para mudar a nação, para melhor."

Quando saímos do Clube que fará cem anos em 2028, ficámos convencidos que a decisão de Ana foi tomada a falar em voz alta com a reportagem da Renascença.


A Renascença nos Estados Unidos com o apoio da TAP Air Portugal.

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