03 nov, 2024 - 08:30 • João Cunha
De sacolas vazias na mão, entra na igreja onde já batizou os netos e casou os filhos. Olha para o altar, que mal se vê da entrada principal, sorri e benze-se. E, pelo meio de um ruido pouco comum naquele espaço, lá segue para a fila no interior da Igreja de Nossa Senhora das Graças, no bairro de La Torre, que estava encerrada devido a obras de recuperação. Agora, está transformada num local de recolha e entrega de ajuda aos necessitados.
“É na periferia, mas muito próxima”, diz Salvador Pastor Abril, sacerdote há quase 30 anos, que passou os últimos treze a liderar aquela paróquia e que não hesitou, quando desafiado a abrir as portas da igreja aos afetados.
“Não tivemos nenhuma dúvida, a comunidade paroquial e eu”, garante o sacerdote, que lembra que o Papa Francisco nos diz que “a igreja deve ser como um hospital de campanha, e aqui, converteu-se de forma literal”, sublinha o pároco, sentado num pequeno muro no adro da igreja, que na sua opinião, não deve ser fechada e deve solidarizar-se.
“Não teria sentido nem lógica evangélica ser de outra forma”
A decisão de abrir as portas á comunidade, nesta altura de emergência, deixou todos muito satisfeitos. De coração cheio.
“Dentro do drama e do sofrimento, sentimo-nos muito contentes”, explica Salvador, “no que significa de empatia, de partilha, de caminhar juntos, de acompanhar e de acolher. Verbos todos muito importantes na fé”.
Fé que reúne paroquianos e voluntários na entrega de comida, produtos de higiene pessoal, fraldas, comida para bebés e roupa. Entre eles, os voluntários, está a jovem Mar Gazùia. Veste um colete laranja fluorescente que quase ofusca o piercing que tem no nariz. Está ali por uma razão simples.
“Porque creio que é muito bom contribuir para o mundo, e sobretudo porque tenho o privilégio da minha zona ter ficado bem, mas com as que não ficaram, essas pessoas precisam de ajuda”. Por isso, diz, “quis colaborar com uma migalhita de pão, fazendo o que pudesse”.
E estão a fazer. Toda a diferença.