07 out, 2024 - 17:00 • Lusa
Os ataques de Israel na fronteira Líbano-Síria, que aumentaram nos últimos dias, representam um "grande risco" para os civis que tentam entrar no território sírio e dificultam as operações humanitárias, alertou esta segunda-feira a organização Human Rights Watch (HRW).
Na sexta-feira, o exército israelita realizou um ataque no leste do Líbano, perto da passagem fronteiriça de Masnaa, na Síria, cortando a estrada principal entre os dois países.
Um responsável do Ministério dos Transportes sírio, Sleiman Khalil, disse esta segunda-feira, citado pela agência de notícias francesa AFP, que "o tráfego rodoviário ainda é impossível neste eixo", embora os peões já consigam utilizá-lo.
Israel acusa o movimento paramilitar xiita libanês Hezbollah de fazer circular armas por esta via.
Os ataques de Israel "impedem a fuga de civis e dificultam as operações humanitárias", afirmou a HRW, num comunicado.
"Um ataque israelita a um alvo militar legítimo pode ser ilegal se for suscetível de causar danos a civis desproporcionais aos ganhos militares", acrescentou a organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos.
O exército israelita afirmou ter atingido "um túnel subterrâneo utilizado para contrabandear armas através da fronteira", recordou a organização.
Se o Hezbollah utiliza a fronteira para transportar armas, o movimento xiita, que é pró-iraniano, também "não toma todas as precauções possíveis para proteger os civis", escreveu ainda a HRW.
O Alto-comissário da ONU para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, que realizou no domingo uma visita a Beirute, estimou que este ataque tenha "bloqueado, de facto, muitas pessoas que procuram abrigo na Síria".
Segundo as autoridades libanesas, mais de 370 mil pessoas, a maioria das quais sírias, atravessaram a fronteira para aquele país desde o início da intensificação dos ataques israelitas no Líbano, a 23 de setembro.
Mais de 774 mil refugiados sírios que fugiram da guerra civil no seu país foram registados no Líbano pela ONU antes da escalada do conflito entre o Hezbollah e Israel. As autoridades libanesas, por seu lado, estimaram o número em dois milhões.
O movimento xiita libanês Hezbollah declarou esta segunda-feira que vai continuar a combater a "agressão" de Israel, quando se assinala o primeiro aniversário do ataque do grupo extremista palestiniano Hamas ao sul de Israel, em 07 de outubro de 2023, uma ação sem precedentes que causou cerca de 1.200 mortos e 251 reféns que foram levados para a Faixa de Gaza.
Israel respondeu ao ataque com uma ofensiva na Faixa de Gaza que, desde então, provocou cerca de 42.000 mortos, segundo o governo do enclave controlado pelo Hamas desde 2007.
Também mais de 740 palestinianos foram mortos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, sob ocupação israelita.
O grupo libanês, um aliado do Hamas, classificou Israel como uma entidade "cancerosa" que deve ser erradicada.
Desde outubro de 2023, Israel e o Hezbollah têm estado envolvidos num fogo cruzado quase diário, hostilidades que se agravaram nas últimas semanas.
A formação xiita, que é apoiada pelo Irão, afirmou ter aberto uma frente contra Israel no sul do Líbano, com o objetivo de "defender o Líbano", embora tenha reconhecido que "pagaram um preço elevado".
Desde outubro de 2023, mais de 2.000 pessoas foram mortas no Líbano, incluindo mais de mil desde a intensificação dos bombardeamentos israelitas a 23 de setembro, segundo as autoridades libanesas, que também apontam para cerca de 1,2 milhões de deslocados no país.
Israel prometeu combater o poderoso movimento armado libanês até "à vitória", de forma a permitir o regresso às regiões fronteiriças dos 60.000 habitantes deslocados pelos incessantes disparos de 'rockets' vindos do lado libanês.