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França

Filha de mulher violada enquanto dormia descreve o pai como um "criminoso" e diz que "desceu aos infernos"

06 set, 2024 - 17:14 • Miguel Marques Ribeiro

Dominique Pélicot, um reformado de 71 anos, confessou ter drogado a mulher inúmeras vezes entre 2011 e 2020 e depois recrutado dezenas de estranhos para a violarem na sua própria casa.

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A filha do francês que recrutou dezenas de homens para violar a mulher descreveu-o esta sexta-feira em tribunal como “um dos piores criminosos sexuais nos últimos 20 anos”.

Dominique Pélicot, um reformado de 71 anos, confessou ter drogado a mulher inúmeras vezes entre 2011 e 2020 e depois recrutado dezenas de estranhos para a violarem na sua própria casa.

O caso, que horrorizou a França, está a ser julgado em Avignon, no sul do país, e as marcas deixadas na família por estes atos macabros têm vindo ao de cima nos últimos dias.

“Depois de saber algo assim temos que nos recriar”, afirmou a filha de Pélicot, de 45 anos, que se apresentou sob o pseudónimo de Caroline Darian.

Pélicot, explica o The Guardian, manteve registos meticulosos do abuso infligido à mulher, Gisèle Pélicot, agora com 71 anos, de quem se está, neste momento, a divorciar.

Foi o que se chama um ponto de viragem, o início de uma descida lenta aos infernos, sem saber até que ponto me afundaria - Caroline Darian, filha da vítima

Durante o período em que decorreram os abusos, Giséle de nada desconfiou, mas queixava-se de ter apagões de memória inexplicáveis, dificuldade em concentrar-se e uma perda de controlo do braço direito.

Agora sabe-se que foi drogada de forma continuada. O marido chegou a encomendar 450 comprimidos para dormir em apenas um ano.

Exames médicos realizados durante a investigação revelaram ainda que Gisèle tinha sido infetada com várias doenças sexualmente transmissíveis (DST).

Pai guardava pasta com fotos da filha nua

A polícia acabou por descobrir os crimes em 2020 quase por acaso, depois de o acusado ter sido apanhado a filmar saias femininas num supermercado.

Em declarações feitas ao tribunal, nesta sexta-feira de manhã, Darian explicou como a sua vida desabou depois de ter tido conhecimento dos abusos.

“A minha vida foi literalmente virada de cabeça para baixo”, disse. “Foi o que se chama um ponto de viragem, o início de uma descida lenta aos infernos, sem saber até que ponto me afundaria”.

No entanto, ela própria viria a ser uma das vítimas, pois o pai, para além de vídeos das violações feitas à mulher, mantinha no seu computador uma pasta com diversas fotos da filha nua.

Darian, em 2022, escreveu um livro chamado Et j’ai cessé de t’appeler papa (“E eu deixei de te chamar pai”) sobre os impactos que o caso teve na família.

"Olharam para mim como uma boneca de trapos, como um saco do lixo"

Foi a própria mulher de Pélicot que solicitou que o julgamento fosse público para aumentar a consciencialização sobre o utilização de drogas para cometer abusos sexuais.

Os investigadores contaram cerca de 200 casos de violação, a maioria deles pelo marido de Gisèle Pélicot e mais de 90 por estranhos. Desenharam uma lista de 72 suspeitos para além do marido, e até agora conseguiram identificar 50 deles, entre 26 e 74 anos, estando todos em julgamento.

A vítima só reconheceu um dos seus alegados violadores, um homem que tinha vindo discutir o ciclismo com o marido na sua casa e que mais tarde a costumava cumprimentar na padaria.

Durante o seu testemunho em tribunal, Gisèle afirmou ter sido "sacrificada no altar do vício", acrescentando que quase não se reconheceu quando viu os vídeos, nos quais surgia imóvel. "Olharam para mim como uma boneca de trapos, como um saco do lixo."

A maioria dos suspeitos enfrenta até 20 anos de prisão por violação agravada, caso haja condenação.

Dezoito dos 51 acusados estão sob custódia, incluindo Dominique Pélicot. Trinta e dois outros réus estão a participar no julgamento em liberdade. Há ainda um acusado que está a ser julgado à revelia.

O julgamento deve prolongar-se até 20 de dezembro.

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