07 ago, 2024 - 19:50 • Jaime Dantas
É num parque de estacionamento nas profundezas da cidade de Haifa, no norte de Israel, que nasceu, em apenas três dias, o maior hospital subterrâneo do mundo.
Passados poucos dias do 7 de outubro — dia do ataque do Hamas a Israel —, foram estacionadas centenas e centenas de camas preparadas para receber as vítimas do conflito naquela zona do Médio Oriente. Naquelas paredes, por onde está empilhado o material médico, nasceram ainda salas de operações e uma maternidade.
Ainda sem doentes, a instalação tem capacidade para mais de 2000 camas. Condições que permitem que os médicos se sintam preparados para o pior, numa altura em que a ameaça de uma guerra regional generalizada aumenta na sequência da morte do líder político do Hamas, Ismael Haniyeh, e do comandante supremo do Hezbollah, Fuad Shukr, na semana passada.
"Quando, quando, quando é que isso vai acontecer? Ninguém sabe. Falamos muito sobre isso", diz em entrevista à BBC o diretor médico do hospital, Avi Weissman. O clínico acrescenta que a população está ansiosa e espera que a escalada da violência não dure muito tempo.
Haifa é uma cidade reconhecida pela beleza das suas águas mas, ao mesmo tempo, a proximidade ao Líbano, país onde impera o Hezbollah, torna-a vulnerável a ataques armados. Algo natural para as pessoas que vivem na cidade, que estão habituadas a simulacros de emergência de poucos em poucos meses. As crianças das escolas ensaiam regularmente o que fazer no caso de um ataque.
Um casal encontrado pela BBC descreve a realidade como "uma bomba-relógio". "A qualquer momento pode haver um alarme. Será que vou morrer? Terei tempo para ir ter com a minha família?", questiona-se.
Ainda assim, enquanto serve um café, um comerciante diz: "As pessoas têm medo. Eu não tenho medo".
Mas na Câmara Municipal de Haifa, o autarca admite ter noites sem dormir. Yono Yahav está na casa dos 80 anos e o peso da responsabilidade vê-se nos seus olhos, escreve a BBC. Mas não a primeira vez que o sente, porque já chefiava a cidade durante a guerra de 2006.
"Estou muito triste com isto. Há uma bifurcação no Médio Oriente. Os líderes só se preocupam em destruir, matar, lutar, em vez de construir.", afirma o governante.
Haifa é a chamada "cidade mista", um local onde um número significativo de árabes israelitas vive ao lado de judeus israelitas. Yahav diz que é uma comunidade pacífica, o que torna o atual conflito ainda mais doloroso, mas acredita que a paz ainda é possível.
Enquanto a diplomacia internacional continua, os médicos de Haifa preparam o seu hospital-fortaleza na esperança de que nunca tenham de o usar.