06 ago, 2024 - 22:11 • Lusa
O Presidente do Bangladesh, Mohammed Shahabuddin, nomeou esta terça-feira o economista Muhammad Yunus, reconhecido em 2006 com o Prémio Nobel da Paz, líder do governo interino, após o nome ter sido proposto pelos líderes dos protestos antigovernamentais.
Yunus vai liderar o executivo após a demissão e fuga do Bangladesh, na segunda-feira, da ex-primeira-ministra Sheikh Hasina, adiantou à agência Efe o assessor de imprensa de Shahabuddin, Mohammad Joynal Abedin.
"O Presidente afirmou que o país atravessa um período de transição. É importante formar um Governo interino o mais rapidamente possível para ultrapassar esta crise", acrescentou o gabinete presidencial, em comunicado.
Representantes dos movimentos estudantis, organizadores das semanas de protestos antigovernamentais que derrubaram Hasina e causaram mais de 400 mortes, indicaram, em conferência de imprensa, que a decisão foi tomada após uma reunião com o chefe de Estado do Bangladesh e os responsáveis pelas forças de segurança.
"Demos uma lista inicial do Governo interino, com representação da sociedade civil e dos estudantes. Muito em breve manteremos conversações com os diferentes partidos políticos para o finalizar", realçou um dos líderes estudantis, Nahid Islam.
Yunues, de 84 anos, conhecido como o "banqueiro dos pobres", recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2006 por ter fundado e concebido o Banco Grameen para combater a pobreza no Bangladesh através do desenvolvimento do conceito de microcrédito, através do qual são concedidos empréstimos a pessoas de baixo rendimento que normalmente seriam rejeitadas no sistema financeiro.
Tentou fundar o seu próprio partido em 2007 para ultrapassar a dualidade entre as duas forças mais importantes do país asiático, a Liga Awami de Hasina e o Partido Nacional do Bangladesh (BNP).
Em 2010, o vencedor do Nobel do Bangladesh e o Grupo Grameen começaram a enfrentar críticas ao seu sistema de microcrédito, e o Governo de Hasina lançou então uma investigação contra ambos.
O prémio Nobel foi condenado a seis meses de prisão por um tribunal do Bangladesh, em janeiro, por violações da legislação laboral.
Muhammad Yunus já tinha garantido estar pronto para substituir a primeira-ministra, enquanto líder de um governo provisório, numa declaração escrita à agência noticiosa France-Presse (AFP).
"Estou comovido com a confiança dos manifestantes que me querem à frente do governo provisório. Sempre mantive a política à distância (...) Mas hoje, se for necessário agir no Bangladesh, pelo meu país e pela coragem do meu povo, então fá-lo-ei", garantiu o laureado, apelando à organização de "eleições livres".
O governo interino terá como prioridade repor a situação da lei e da ordem nas ruas, depois dos protestos que começaram há um mês para exigir o cancelamento de um sistema de quotas para empregos públicos e acabaram por exigir a demissão de Hasina após a brutal repressão das manifestações.
Pelo menos 99 pessoas morreram desde segunda-feira, segundo um balanço elaborado pela Efe, elevando o número de mortos desde o seu início, no início de julho, para mais de 400.
Hasina, a líder mais antiga do sul da Ásia, demitiu-se na segunda-feira e trocou o país pela Índia, pondo fim ao seu Governo de 15 anos.