09 jul, 2024 - 06:30 • Fábio Monteiro
Há um novo diplomata no tabuleiro geopolítico mundial: Masoud Pezeshkian. Reformista, disposto a “dar voz aos marginalizados”, o recém-eleito Presidente do Irão pretende abrir - na medida do possível - o país ao Ocidente. Mas não irá também, tudo indica, esquecer antigas alianças. Afinal, na segunda-feira, o seu primeiro telefonema a título oficial foi para Vladimir Putin.
Em declarações à Renascença, Mohsen Ghasemi, especialista em Relações Internacionais da Universidade Nova, admite ter ficado surpreendido com a vitória de Masoud Pezeshkian, na segunda volta das presidenciais do Irão, na passada sexta-feira. Até porque, lembra, em 2021, o aiatola Khaimeini não deixou "nenhum reformista" concorrer.
“Agora vamos ter uma abertura, poder respirar um pouco”, diz.
A eleição da semana passada (que os EUA dizem não ter sido “livre”) no Irão ocorreu em circunstâncias particulares. “Foi uma surpresa porque, antes das eleições, a situação económica do país estava muito mal, a inflação muito alta, a população insatisfeita com o rumo político do Irão. As pessoas não queriam participar das eleições”, nota Mohsen Ghasemi.
O aparecimento em cena de Masoud Pezeshkian foi uma opção do aiatola (que autoriza quem ou não pode candidatar-se) para chamar as pessoas a votar. “Para dar um pouco mais motivação ao povo iraniano a entrar nas eleições.”
Durante a campanha, Pezeshkian deu sinais de querer fazer mudanças na política externa do país. Por exemplo, retomar o acordo nuclear com os EUA, de modo a minimizar impactos económicos do embargo.
“Irá trazer de volta muitos responsáveis que estiveram envolvidos no acordo nuclear com o Ocidente. Estiveram todos envolvidos na campanha.”
Ao nível regional, Mohsen Ghasemi acredita também que possam surgir mudanças. “O novo presidente poderá adotar uma estratégia diplomática muito mais visível. Progressista na região. Poderá desempenhar um papel mais importante em Gaza no futuro. Não entrar em tensão com Israel”, aponta.
A capacidade de ação de Pezeshkian, em todo o caso, estará sempre limitada pelo aiatola Ali Khamenei.
“Quem manda dentro e fora do Irão é o Líder Supremo, e também os grupos militares que controlam uma parte importante da economia e defesa.”