13 mai, 2024 - 09:21 • Lusa
O Escritório das Nações Unidas para a Droga e Crime Organizado em Moçambique alertou esta segunda-feira para o crescimento de um mercado lusófono de tráfico ilícito, denunciando a existência de "cartéis" brasileiros com contactos em países de língua portuguesa.
"Nós estamos a ver como os cartéis brasileiros já estão a traficar com grupos organizados moçambicanos, assim como com outros países de expressão portuguesa", declarou o representante do Escritório das Nações Unidas para a Droga e Crime Organizado (UNODC), António De Vivo, em entrevista à Lusa em Maputo.
Segundo aquele responsável, as ligações entre grupos que se dedicam ao tráfico de drogas começaram a ser registadas nos últimos anos, apontando, a título de exemplo, a detenção em Moçambique, em 2020, de Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como 'Fuminho', um dos traficantes de droga mais procurados pelas autoridades de justiça do Brasil, além de várias apreensões de drogas provenientes do Brasil feitas pelas autoridades em Moçambique.
"É possível que isto seja uma consequência, digamos, das necessidades dos cartéis brasileiros de diversificar o risco do negócio", declarou António De Vivo.
Moçambique, prosseguiu, permanece como um corredor para o tráfico de drogas internacional, o que eleva o risco de surgimento de novos mercados.
"Quando um país tem um mercado de trânsito acaba também por criar mercados nacionais, porque muitos dos operadores que trabalham, digamos, na logística a nível nacional, muitas vezes são pagos em mercadoria", acrescentou António De Vivo.
A localização geográfica de Moçambique, na chamada "rota do Sul", e a guerra contra o terrorismo no norte deixa o país mais vulnerável, observou o responsável.
"Moçambique é conhecido por estar no meio da chamada rota do Sul, que é uma rota de tráfico de estupefacientes, principalmente anfetaminas, metanfetaminas e heroína, que partem do Afeganistão. Portanto, a confluência da crise no norte e o tráfico de drogas faz com que o país enfrente uma situação complicada", explicou António De Vivo, lembrando, no entanto, que se trata de um desafio que o país não está a enfrentar sozinho.
Moçambique é apontado por várias organizações internacionais como um corredor de trânsito para o tráfico internacional de estupefacientes com destino à Europa e Estados Unidos da América, sobretudo de heroína oriunda da Ásia, mas as apreensões de cocaína oriunda da América do Sul têm também aumentado.
Dados da Procuradoria-Geral da República de Moçambique referem que foram instaurados 1.251 processos-crime relativos a tráfico de droga em 2023, contra 1.035 em 2022, alertando para um aumento do comércio e consumo de estupefacientes no país.
A UNODC é uma agência das Nações Unidas especializada nos assuntos de justiça criminal, droga e crime, estando a colaborar com o Governo de Moçambique ao abrigo de um acordo quadro para as áreas da criminalidade organizada transnacional.