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Guerra na Ucrânia

Mercenários fora de Bakhmut? "A mentira é a regra na retórica russa", alerta especialista

26 mai, 2023 - 08:16 • André Rodrigues

General Rodolfo Bacelar Begonha diz ter dúvidas de que Putin queira enviar tropas para Bakhmut. Sobre os ataques em Belgorod por paramilitares russos anti-Putin, diz que são um sinal do descontentamento que cresce na Rússia por causa da guerra. O problema é a "enorme repressão". Mas "os russos não são parvos".

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A retirada de Bakhmut, anunciada pelos mercenários do grupo Wagner, deve ser encarada com reservas, admite à Renascença o general Rudolfo Bacelar Begonha.

Segundo este especialista em contrainformação militar, "é normal que eles anunciem isto e façam exatamente o seu contrário", porque "a mentira é a regra na retórica russa e, portanto, pode acontecer que eles queiram criar aqui alguma distração" para confundir a Ucrânia e as opções que o governo de Kiev venha a tomar em relação à anunciada contraofensiva.

No anúncio da retirada de Bakhmut, o empresário Yevgeni Prigozhin, que comanda as forças mercenárias, adiantou que a retirada das suas forças dará lugar à entrada do exército regular russo para assumir o controlo da cidade estratégica.

Bacelar Begonha olha para esta afirmação com reservas: "é difícil, de repente, termos tropas pouco formadas outra vez numa situação complicada".

E lembra que "os Wagner perderam milhares de indivíduos e, portanto, tenho muitas dúvidas de que a Rússia esteja interessada nesta altura em mandar mais milhares de indivíduos para aquela posição", até porque, "se a Ucrânia entender que é assim, ataca na altura em que entender que Rússia está mais fraca e tem mais dificuldade".

Ataques a Belgorod? "Os russos não são parvos"

Noutro plano, os últimos dias da guerra trouxeram uma novidade: a cidade russa de Belgorod, junto à fronteira com a Ucrânia, a poucos quilómetros de Kharkiv, tem sido alvo de ataques, alegadamente perpetrados milícias voluntárias compostas por soldados russos anti Putin, que estarão a combater ao lado do exército ucraniano, situação que levou as autoridades russas a desencadear operações antiterroristas na região.

Questionado se estes acontecimentos poderão ter impactos na opinião pública russa, Bacelar Begonha admite que, apesar da repressão, "os russos não são parvos" e "quanto mais indivíduos morrerem, é evidente que os russos não estão, não podem estar de acordo com a guerra".

Apesar de serem, aparentemente, os acontecimentos que melhor indiciam o descontentamento na Rússia por causa da guerra, Bacelar Begonha admite que os acontecimentos de Belgorod não serão atos isolados.

"Em vários sítios da Rússia tem havido problemas graves de sabotagem, não bem explicados, às vezes com explicações inadmissíveis", diz.

Embora admita que estas ações podem fazer aumentar a verbalização de um sentimento antiguerra na sociedade russa, o militar lembra que "a repressão é enorme, o que torna a vida extremamente difícil para esses grupos, que também não sei se têm organização suficiente".

"Mas estão a acontecer muitas coisas... infelizmente, não sabemos o que é que vai acontecer até que consigamos ver a mudança política para acabar com a guerra e a Rússia poder ocupar o lugar que devia ter na cena internacional", remata.

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