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EUA. Documentos confidenciais acusam Guterres de estar "demasiado disposto" a acomodar interesses russos

13 abr, 2023 - 09:44 • Pedro Valente Lima

A mais recente fuga de informação dos "Discord Leaks" aponta para a monitorização de comunicações privadas do secretário-geral da ONU por parte da inteligência norte-americana.

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A fuga mais recente de documentos confidenciais do Pentágono revela informação sensível relativa à monitorização e avaliação das ações do secretário-geral da ONU, António Guterres.

Segundo a BBC, os relatórios vazados apontam para uma vigilância apertada ao líder das Nações Unidas, incluindo comunicações privadas entre Guterres e uma secretária adjunta, Amina Mohammed. A guerra na Ucrânia e as relações com líderes africanos terão sido algumas das matérias espiadas.

De acordo com os leaks, Washington está descontente com a atuação de António Guterres sobre o conflito na Ucrânia, mais concretamente, ao estar "demasiado disposto" a acomodar interesses russos.

A estação britânica dá o exemplo do acordo sobre a exportação de cereais entre a Rússia e a Ucrânia, mediado pelo secretário-geral da ONU e pela Turquia em julho do ano passado.

"Guterres enfatizou esforços para melhorar a capacidade de exportação da Rússia, mesmo que isso envolvesse entidades e pessoas russas sancionadas", descreve um dos relatórios.

Para os EUA, a postura de Guterres "minava os esforços mais amplos para responsabilizar Moscovo pelas suas ações na Ucrânia".

Num outro relatório, os leaks desvendam outra conversa entre António Guterres e a secretária adjunta, em meados de fevereiro deste ano, na qual o secretário-geral mostra "desalento" depois de uma chamada com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sobre a decisão europeia de investir na produção de armas e munições.

Os altos representantes da ONU mostraram-se "claramente insatisfeitos" com estas revelações da avaliação norte-americana sobre as ações do secretário-geral, salientando que António Guterres sempre vincou a sua oposição à Rússia.

Em declarações à mesma estação britânica, um alto representante da ONU recusou comentar a fuga dos documentos em si, mas refutou as acusações contidas na informação vazada online, realçando que a ONU agiu "pela necessidade de mitigar o impacto da guerra nos [países] mais pobres do mundo".

Face à ameaça à cadeia global de abastecimento de cereais, o mesmo representante salienta que o objetivo era "fazer o que conseguissem para reduzir os preços dos alimentos" e "garantir que os fertilizantes estavam acessíveis aos países que mais precisavam".

EUA estão a investigar "Discord Leaks"

O porta-voz da Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, já disse à BBC que as autoridades já estão a proceder à investigação da fuga de documentos confidenciais, que têm vindo a ser publicados há mais de um mês na plataforma online Discord - e noutras redes sociais.

"É um conjunto de fugas perigosas. Não sabemos quem é o responsável, não sabemos o porquê. Estamos a avaliar as implicações [das fugas] na segurança nacional."

Nesse sentido, Washington tem estado a contactar os seus aliados "ativamente" para os esclarecer sobre o teor dos relatórios vazados. Kirby não garante a autenticidade de todos os documentos, mas afirma que tudo aponta que "terão vindo de várias fontes da inteligência no Governo".

As informações desvendadas recentemente provêm de um conjunto mais vasto de documentos que têm sido publicados online desde o início de março, conhecido como "Discord Leaks". Os relatórios têm exposto várias ações de espionagem dos EUA sobre países aliados e as perspetivas de Washington sobre a guerra na Ucrânia.

Embora a investigação oficial ainda não tenha apurado a identidade de um eventual responsável, o Washington Post aponta para um "jovem, entusiasta de armas carismático", que trabalhava numa base militar e que partilhou os documentos confidenciais "para fazer amigos" no Discord.

"Se tivesses documentos confidenciais, quererias exibir-te um pouco, do tipo: 'Olá, sou o maior'. Existe um pouco de exibicionismo entre amigos, mas [foi] também a vontade de nos manter informados", confessou um dos membros do grupo desta rede social, no qual as informações foram partilhadas.

Aliás, a nascente da fuga recente de informações confidenciais remonta já ao final de 2022, momento em que o suposto leaker começou a partilhar documentos semanalmente, num servidor de Discord que juntava "sensivelmente duas dúzias de homens e rapazes", "unidos pelo amor comum por armas, equipamento militar e Deus".

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