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Português luta contra o comunismo em acampamento "bolsonarista"

09 jan, 2023 - 23:29 • Lusa

Amilcar, de 76 anos, dormiu mais de dois meses na rua para protestar contra aquilo que considera ser o início de uma ditadura comunista no Brasil.

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Entre as dezenas de "bolsonaristas" que ocuparam até esta segunda-feira a zona em frente ao Comando Militar do Sudeste, São Paulo, estava um português há 71 dias a dormir na rua para protestar contra aquilo que considera ser o início de uma ditadura comunista no Brasil.

Desmontando uma tenda com poucos objetos pessoais, algumas cadeiras, garrafas de água, caixas, um capacete e uma placa pendurada criticando movimentos e correntes ideológicas de esquerda, Amílcar explicou que sairia do acampamento e voltaria para casa pacificamente porque os "bolsonaristas" respeitavam os militares com quem fizeram um acordo logo no início da mobilização.

"Eu estou simplesmente cumprindo aquilo que foi combinado porque eu sou um homem de palavra", afirmou.

Aos 76 anos, nascido em Bragança e a viver há 40 anos no Brasil, Amílcar só autorizou a divulgação do seu primeiro nome, com receio de represálias dos apoiantes de Lula da Silva, atual Presidente brasileiro, que considera ilegítimo.

Apoiantes de Bolsonaro deixam rasto de destruição em Brasília
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Visivelmente emocionado, o "bolsonarista" disse que esteve no acampamento logo a seguir à segunda volta das eleições brasileira (31 de outubro), dormindo numa tenda ou num automóvel para tentar impedir que aconteça no Brasil "o que aconteceu em Angola", um país que é, no seu entender, um exemplo dos danos causados pelos comunistas.

"Portugal, que mesmo ainda hoje que se diz democrático, é democrático entre aspas, porque quem manda lá mesmo são os socialistas", disse à Lusa, acrescentando: "Eu estou vivendo aqui como mendigo para que os meus filhos amanhã não precisem mendigar o pão de cada dia".

"Eu não quero ver os meus filhos serem obrigados a comer cachorro, como acontece na Venezuela", acrescentou.

Na área externa do Comando Militar do Sudeste, localizado nas proximidades do parque do Ibirapuera, zona nobre de São Paulo, o clima de hoje era de desmobilização e tranquilidade, um dia depois de, na capital, vários apoiantes de Bolsonaro terem invadido e vandalizado os edifícios que simbolizam os três poderes do Estado (legislativo, judicial e executivo).

Cerca de 50 "bolsonaristas" que lá estavam desmontavam suas barracas e guardavam as coisas que lá estavam indicando que sairiam pacificamente do local depois que as autoridades da Polícia Militar e do Exército lhes pediram para irem embora.

Os agentes de segurança acompanhavam tudo com calma sem interferir. Alguns jornalistas permaneceram distantes, outros entraram na área para observar a desmobilização do movimento "bolsonarista" em São Paulo.

Invasão a Brasília. Imagens mostram aparente conivência da polícia
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Ronaldo Mota, empresário que participa do movimento em apoio ao ex-presidente brasileiro aos finais de semana, dormindo numa caravana, disse à Lusa que era um patriota e grande admirador de Jair Bolsonaro, mas iria respeitar os militares, até porque acredita que as forças armadas irão derrubar o vencedor das eleições de outubro, Lula da Silva.

"Eles pediram para sair. Eu diria que eles insinuaram, na minha interpretação, eles colocaram assim: agora é connosco", afirmou referindo-se a uma suposta ação que estaria a ser planeada pelos militares em apoio aos pedidos dos "bolsonaristas" que defendem uma intervenção militar e uma auditoria no resultado das urnas eletrónicas por não acreditarem na vitória do líder progressista e Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

"Eu falei para eles [companheiros "bolsonaristas" que estavam acampados]: nós vamos continuar fazendo o quê? Ficar gritando feito uma besta até quando? Nós, civis, já fizemos a nossa parte. Agora cabe a eles [militares]. Eles entregaram. O que nós vamos fazer? Se eles entregarem os pontos, o que é que nós vamos fazer?" - questionou. .

Amílcar, por sua vez, prometeu que, embora estivesse a desmontar o acampamento, continuará na luta política atuando em vários grupos de mensagens e online, onde articular ações com outros "bolsonaristas".

"Eu tenho vários grupos de ativistas, portanto, vou continuar com eles, porque o comunismo não para e nós não podemos parar (...) Eu não sei aonde isto vai parar", contou o português.

Acampamentos mantidos por apoiantes do ex-presidente brasileiro estão a ser desmobilizados em todo o Brasil nesta segunda-feira por ordem do Supremo Tribunal Federal numa resposta das autoridades a atos de vandalismo protagonizados por alguns grupos em Brasília.

Apoiantes de Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram no domingo as sedes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem e suscitando a condenação da comunidade internacional.

A Polícia Militar conseguiu recuperar o controlo das sedes dos três poderes, numa operação de que resultaram em centenas de detidos.

A invasão começou depois de militantes da extrema-direita brasileira apoiantes do anterior presidente, derrotado por Lula da Silva nas eleições de outubro passado, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios.

Entretanto, o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afastou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por 90 dias, considerando que tanto o governador como o ex-secretário de Segurança e antigo ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres terão atuado com negligência e omissão.

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