18 out, 2022 - 16:34 • Pedro Valente Lima , Hugo Monteiro
Os protestos de milhares de trabalhadores dos transportes, das refinarias e da educação na capital francesa, que reclamam contra os baixos salários e a inflação, estão a ser marcados por vários episódios de confrontos com a polícia.
A greve reivindica, sobretudo, aumentos salariais. Além da violência registada, também já se verificaram atos de vandalismo, pelo que as autoridades parisienses já confirmaram a detenção de seis pessoas e haverá registo de um ferido até ao momento.
A polícia de Paris também já identificou a presença de um 'black bloc' de cerca de 200 pessoas na cidade, assim como 60 elementos de movimentos de extrema-esquerda.
Em declarações à Renascença, Hermano Sanches Ruivo, antigo vereador na Câmara de Paris, frisa que o protesto é "uma réplica do que acontece sistematicamente quando há uma manifestação à volta dessas temáticas".
"Sabemos que dentro dessas manifestações há pessoas que vêm só para desacatos", salienta.
Pelo menos, um terço dos postos de abastecimento f(...)
Para Sanches Ruivo, o principal receio do governo francês é que este movimento se alastre a outros setores e classes profissionais.
Ainda assim, o antigo vereador não pretende desvalorizar as motivações da mobilização verificada, face a uma "situação em que as pessoas mostra, realmente, fadiga com o que está a acontecer" na economia do país.
A manifestação, de cariz nacional, estende-se a outras das principais cidades francesas, como Marselha, Rennes, Toulon ou Estrasburgo. No total, a Confederação Geral do Trabalho francesa (CGT) confirma mais de 200 protestos por todo o país.
Esta terça-feira, o ministério da Educação francês contabiliza trinta escolas fechadas, não só em apoio à greve intersindical, mas também em protesto contra a reforma das escolas profissionais e da Parcoursup, plataforma digital do Ensino Superior de França.
No total, o mesmo ministério confirma que quase 6% dos profissionais da área de Educação se encontram em greve. Os números ganham relevância nas escolas profissionais, onde a percentagem de grevistas ascende aos 23%.
Os protestos dos trabalhadores do setor energético já duram há três semanas e, entretanto, terão surtido efeito. Esta manhã, a CGT reuniu-se com a TotalEnergies sobre eventuais atualizações salariais nas refinarias. A petrolífera propõe um aumento de 7%, mas o sindicato exige um mínimo de 10%.
Esta paralisação nas refinarias já se fez sentir nas últimas semanas, num momento em que 30% dos postos de combustível franceses não conseguem responder às necessidades dos consumidores.
Ainda no setor das energias, a Rede de Transporte de Eletricidade de França (RTE) teme que “o prolongamento da mobilização” dos trabalhadores das centrais nucleares possa ter “consequências pesadas” no fornecimento de eletricidade durante o inverno.
Entretanto, a gestora já elevou o risco de segurança da aprovisionamento de eletricidade para “moderado”.
No capítulo dos transportes, a greve da ferrovia francesa paralisou metros e comboios em Paris e noutras cidades do país esta terça-feira. No entanto, a Sociedade Nacional de Caminhos de Ferro Francesa (SCNF) já comunicou um esperado regresso à normalidade esta quarta-feira.
Já durante esta tarde, o ministro da Função Pública, Stanislas Guerini, mostrou abertura para a negociação dos salários na administração pública francesa a partir de 2023. “Foi essa a exigência das organizações sindicais”, aponta.