10 out, 2022 - 08:31 • Vasco Grandra
Durante seis meses, uma equipa de cerca de 20 psiquiatras de Bruxelas vai prescrever aos pacientes visitas grátis com a família a museus da capital, em complemento das terapias. As prescrições abrangem casos de stress, burn out, depressão, mas, não só.
Este projeto-piloto foi lançado recentemente pela vereadora da Cultura e um grupo de médicos psiquiatras de uma rede de hospitais da capital.
O médico psiquiatra Vincent Lustygier é um dos participantes no projeto. Em entrevista à Renascença explica as razões desta iniciativa. "A primeira é levantar o estigma sobre o paciente e de lhe dizer que tem o direito de ir ao museu como qualquer pessoa, que não tem que se esconder por causa da doença. O facto de não estar bem, ou de estar doente, ou de não ter trabalho não deve impedir de viver como toda a gente. A segunda, é o lado terapêutico da arte. Efetivamente, estar em contacto com o belo, com uma qualidade emotiva, com um despertar das emoções, pode ser muito útil."
O psiquiatra informa o paciente sobre o projeto e decide em que momento da terapia deverá ocorrer a visita. Com a prescrição médica, a visita é grátis em cinco museus de Bruxelas.
Cada paciente pode convidar até três pessoas para o acompanhar - um fator importante, sobretudo para os pacientes em reinserção social com baixos rendimentos.
O museu a visitar é escolhido em função do perfil de cada paciente, já que alguns espaços podem não ser apropriados para certas situações, explica Vincent Lustygier. "Vai ser uma experiência. Já que um dos museus é o Museu dos Esgotos. Podemos imaginar que um paciente muito ansioso sentir-se-á mal num longo túnel sem luz. Portanto, não vamos prescrever esse local a esses pacientes, mas sim a outros com um espírito mais aventureiro que querem descobrir o que se passa debaixo de terra. Noutros casos vamos escolher museus mais artísticos, nomeadamente o Centro de Arte Moderna."
Este especialista lembra que os pacientes são livres e podem recusar a prescrição.
O projeto ganhou força no atual contexto pós-pandemia com uma vaga de casos de stress, burn out e depressão.
É uma experiência inédita na Europa, inspirada num projeto semelhante no Canadá e também defendida pela Organização Mundial de Saúde.
Assenta na ideia de que a arte, a cultura e o conhecimento despertam emoções que podem ajudar na terapia e complementar os tratamentos.
Dentro de seis meses, esta equipa de psiquiatras de Bruxelas deverá apresentar os resultados do projeto piloto.