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Major general Arnault Moreira: “Vamos ver se este passo de Putin na Ucrânia não acelera a queda do regime na Rússia”

27 fev, 2022 - 18:51 • Ana Carrilho

Putin tem “em carteira” um passo seguinte mais ameaçador. Mas Putin também pode estar a fazer bluff, explica o Major General Arnault Moreira, em entrevista à Renascença.

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Vladimir Putin colocou as forças russas de dissuasão nuclear em estado de alerta em resposta ao aumento das sanções e à atitude que considera “agressiva” por parte dos países membros da NATO.

Em entrevista à Renascença, o major General Arnault Moreira considera que este pode ser um passo seguinte no patamar da guerra, mais ameaçador. Mas também pode ser uma manobra. Ainda assim, considera o militar, a ameaça não pode ser descurada. Mas também pode querer dizer que Putin não está a atingir os seus objetivos da forma e no tempo que tinha previsto.

Significativo é o facto de haver cada vez mais manifestações na Rússia, contra o regime, contra o presidente e contra a invasão. Para o Major General, o agudizar das tensões na Rússia é certo e põe a hipótese da questão da Ucrânia acelerar a queda do regime de Moscovo.

Numa estratégia de dissuasão, é sempre preciso ter mais alguma coisa e mais forte. Ao nível da gestão de crise, serviu a ameaça de invasão; agora, no patamar de guerra, Putin tem “em carteira” um passo seguinte mais ameaçador. Mas Putin também pode estar a fazer bluff, explica o Major General Arnault Moreira, em entrevista à Renascença.

E recorda que os conflitos de natureza nuclear surgem em relação a opositores em pequeno número, como seria, por exemplo, da Rússia (e antiga união Soviética) em relação aos Estados Unidos. No entanto, por esta altura, o número de países que apoia a Ucrânia e o seu exército cresce cada vez, “de forma exponencial” no Ocidente.

Ou seja, a Rússia pode ter um arsenal nuclear muito grande, mas o seu efeito distribuído por uma vastidão enorme de estados é certamente mais diminuto. Mas isto não significa que não tenhamos de levar em linha de conta este tipo de ameaça, alerta o militar.

Aliás, o Major General Arnault Moreira considera que, do ponto de vista da NATO, este anúncio não é uma boa notícia.

No entanto diz que pode haver uma segunda interpretação e “revelar um certo estado de desespero de Putin, perante a impossibilidade de, em tempo útil, conseguir os objetivos político-militares a que se propunha nos primeiros dias de combate na Ucrânia”.

Além do crescente apoio dos estados ocidentais, em muitos casos, indo atrás dos movimentos espontâneos das populações no apoio aos ucranianos, há cada vez mais manifestações por todo o mundo em que milhões de pessoas condenam a invasão da Ucrânia e Putin.

No entanto, também os russos se manifestam cada vez mais contra o presidente, o regime e a guerra contra a Ucrânia. Ainda hoje decorreram várias manifestações, nomeadamente em Moscovo e São Petersburgo, em que participaram milhares de pessoas, gritando slogans que as forças de segurança russas tentaram abafar com a transmissão, bem alto, de músicas patrióticas. Detiveram ainda cerca de um milhar de manifestantes.

Arnault Moreira frisa que “as pessoas, na Rússia, não estão completamente bloqueadas no acesso à informação, sabem o que se passa no Ocidente” e o que é publicado sobre a intervenção russa na Ucrânia, bem diferente do que é divulgado pelos média controlados por Putin. O militar português especialista em geoestratégia diz que começam a surgir dúvidas no interior da sociedade russa de que o discurso do regime seja coerente e faça sentido.

“Isto vai levar, certamente, a um agudizar de tensões dentro da sociedade russa. Vamos ver se este passo de Putin na Ucrânia não está a acelerar a queda do regime na Rússia”, diz Arnault Moreira.

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