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Martins da Cruz

Tensão Polónia-Bielorrússia é "grave", mas "não acredito que isto dê um conflito armado"

09 nov, 2021 - 19:12 • Pedro Mesquita , André Rodrigues

Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz, acusa a Polónia de se vitimizar e a Bielorrússia de manipulação dos imigrantes. Amnistia Internacional lamenta que os refugiados estejam a ser usados em jogos de poder.

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O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Martins da Cruz, exclui, por agora, o risco de um conflito armado, na sequência da pressão migratória na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, numa altura em que Varsóvia está a impedir a entrada de três mil a quatro mil migrantes.

O diplomata, que já presidiu à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) reconhece a gravidade da situação, e, excluindo um cenário de escalada armada, admite na Renascença que esta situação, “provavelmente, vai ficar assim durante alguns dias” mas insere-se num quadro de “vitimização da Polónia, uma encenação para as televisões e para a imprensa”.

“É óbvio que há tensões, mas não acredito que isto dê um conflito armado, ainda que local e regional”, assegura o antigo chefe da diplomacia portuguesa.

Aliás, Martins da Cruz defende que os acontecimentos na fronteira polaca com a Bielorrússia – e que se replicam nas fronteiras lituana e letã com o país de Lukashenko – se resume a um encadeamento de circunstâncias que se complementam: “em primeiro lugar, como lhe compete, a Polónia está a vitimizar-se; a Bielorrússia está a manipular os imigrantes, os refugiados e está a transformá-los numa arma política de arremesso; a Alemanha está preocupada, porque, dada a vizinhança com a Polónia, os refugiados acabam por ir parar todos à Alemanha, que é um mundo mais apetecível para os refugiados do que a Polónia; e a União Europeia está impotente porque foi incapaz, até agora, de ter uma política comum de migração”.

Amnistia lamenta “vítimas de um jogo de poder”

No plano humanitário, a Amnistia Internacional (AI) olha para esta crise com enorme preocupação, dado que já se arrasta há mais de um mês e com um número crescente de refugiados na fronteira entre a Bielorrússia e a União Europeia.

Em declarações à Renascença, Pedro Neto, da secção portuguesa da AI, fala de “uma jogada de Lukashenko, que atraiu os refugiados para a Bielorrússia, dizendo-lhes que lhes dava passagem para a União Europeia e, agora, está a usar essas pessoas para os seus jogos de poder e de chantagens com a Europa”.

Enquanto isso, aumenta o número de refugiados concentrados na fronteira da Bielorrússia com os limites territoriais da União Europeia, em condições deploráveis.

Pedro Neto defende, por isso, uma resposta que “tem de ser dada no âmbito do direito humanitário internacional. As pessoas que têm de ser-lhes permitido pedir asilo, o seu caso deve ser analisado e se de acordo com a lei humanitária internacional, esse asilo deve ser dado e as pessoas devem ter o direito de entrar”.

“O que não deve acontecer é deixar essas pessoas no limbo, onde estão a passar frio, fome, sem acesso à saúde. Isso é muito grave e tanto os responsáveis do governo da Polónia como da Bielorrússia têm responsabilidades humanitárias quanto a isso”, conclui o presidente da secção portuguesa da AI.

Comentários
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  • Cidadao
    10 nov, 2021 Lisboa 09:40
    Não haverá qualquer conflito armado. O Lukashenko para se vingar das sanções e talvez na mira de um acordo ao género do da Turquia, manipulou migrantes da Asia, fazendo-lhes querer que "por razões humanitárias" a UE acabaria por deixá-los entrar. Isso não aconteceu - nem podia, ou amanhã teriamos não milhares, mas milhões à porta para entrarem - e como a Polónia reagiu com músculo, o Lukashenko com as costas quentes da Russia fala num conflito que não acontecerá, pois a Russia provoca o caos, mas tira a equipa de campo quando as coisas aquecem mesmo e não está disposta a embarcar numa aventura bélica que não se sabe onde leva, pelas parvoíces do Lukashenko.
  • Corram com eles
    10 nov, 2021 Voltem para os vossos Países 09:27
    A única resposta é metê-los em aviões e recambiá-los para os Países de origem e depois apresentar a conta à Bielorussia. Vendo bem, vieram para cá (UE) porquê, se não tinham vistos de entrada, contratos de trabalho, etc? Quem é que lhes disse que podiam entrar livremente na UE? Ah, forma manipulados e enganados... Deixaram-se foi manipular e enganar, foi o que foi, pois sabiam muito bem que a entrada lhes ia ser barrada e muito bem. É que a moda pega, agora são 4 000. Amanhã são 400 000. E depois são aos milhões a querer entrar à viva força na UE que ouviram dizer que é um dos melhores sítios para viver. O problema é que nessa altura, deixa de o ser, e isso não é bom nem para os naturais, nem para o que até podem vir.

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