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Morreu Colin Powell, antigo secretário de Estado norte-americano

18 out, 2021 - 13:12 • Ricardo Vieira e João Carlos Malta, com agências

Foi o primeiro afroamericano a assumir o cargo de secretário de Estado nos EUA. O seu prestígio era amplamente reconhecido pelo povo norte-americano e ficou marcado pelo discurso na ONU a justificar a intervenção no Iraque.

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Morreu Colin Powell, antigo secretário de Estado dos EUA durante a intervenção militar do Iraque, anunciou a família.

O general tinha 84 anos e morreu devido a Covid-19.

"O general Colin L. Powell, antigo secretário de Estado norte-americano e chefe do Estado-Maior Conjunto, faleceu esta manhã devido a complicações provocadas pela Covid-19", revelou a família numa mensagem divulgadas nas redes sociais.

Powell foi o primeiro secretário de Estado afroamericano na história dos Estados Unidos. Tomou posse em 2000 durante a administração do Presidente George W. Bush.

"Nós perdemos um notável e adorável marido, pai e avô, e um grande americano", escreve a família Powell.

Serviu várias administrações e ajudou a moldar a política externa norte-americana nos últimos anos do século XX e início do século XXI.

O percurso de Colin Powell fica marcado pelos ataques de 11 de setembro de 2001, contra as Torres Gémeas e o Pentágono, que provocaram mais de três mil mortes.

Após a intervenção no Afeganistão, em retaliação contra os terroristas da Al-Qaeda, o general defendeu da intervenção militar no Iraque, que levou à queda de Saddam Hussein, baseada em falsas informações das agências de inteligência de que o regime de Bagdad possuía armas de destruição massivas.

Numa entrevista à estação NBC, em 2015, Colin Powell declarou que, se soubesse que as informações estavam erradas, a administração Bush não teria avançado com uma intervenção militar no Iraque.

"Se soubéssemos que os serviços de inteligência estavam errados, não teríamos ido para o Iraque. Mas a comunidade de inteligência, todas as 16 agências garantiram-nos que era certo. O meu discurso nas Nações Unidas baseou-se nessa informação", disse o antigo secretário de Estado norte-americano.

Colin Powell argumentou que a administração Bush "tentou evitar" a invasão do Iraque, levou o caso às Nações Unidas, mas Saddam Hussein não colaborou.

"Tudo o que Saddam tinha que fazer naquela altura era cumprir com as determinações das Nações Unidas. Ele optou por não o fazer e o Presidente decidiu, com base na informação de inteligência e com o que sabia sobre a situação em geral, que era necessário usar a força militar", disse o general.

O ex-presidente George W. Bush disse em comunicado, esta segunda-feira, que Powell era "um grande servidor público" que era "de tal forma o preferido dos presidentes que ganhou a Medalha Presidencial da Liberdade - duas vezes. Ele era altamente respeitado em casa e no exterior. E o mais importante, Colin era um homem de família e um amigo".

Mais tarde na sua vida pública, Powell mostraria a desilusão com a guinada à direita do Partido Republicano e usaria o seu capital político para ajudar a eleger democratas para a Casa Branca, nomeadamente Barack Obama, o primeiro presidente negro que Powell apoiou nas semanas finais da campnha de 2008.
O anúncio foi visto como um impulso significativo para a candidatura de Obama devido ao amplo apelo popular de Powell que era visto publicamente como um dos negros americanos mais proeminentes e bem-sucedidos.
Powell deixa a esposa, Alma Vivian (Johnson) Powell, com quem se casou em 1962, bem como três filhos.

A CNN escreveu uma nota biográfica em que relembra que Colin Luther Powell nasceu a 5 de abril de 1937, no Harlem, Nova York, filho de imigrantes jamaicanos. Depois de crescer no South Bronx, Powell frequentou a escola no City College de Nova Iorque. Liderou a equipa de perfuração de precisão alcançando o posto máximo oferecido pelo corpo, o de coronel cadete.

"Gostei da estrutura e da disciplina dos militares", disse Powell, no início dos anos 2000. "Eu sentia-me diferente quando vestia um uniforme. Não tinha sido diferente em muitas outras coisas."

Powell ingressou no Exército dos Estados Unidos depois de se formar em 1958, e mais tarde serviu em duas missões no Vietname durante a década de 1960, onde foi ferido duas vezes, incluindo durante um acidente de helicóptero no qual resgatou dois soldados.

Permaneceu no Exército depois de voltar a casa, frequentando o National War College e ascendendo à liderança. Foi promovido a brigadeiro-general em 1979, nomeado como último conselheiro de segurança nacional de Reagan em 1987 e foi escolhido pelo Bush pai, em 1989, para chefiar o Estado-Maior Conjunto.

Com um perfil nacional proeminente, Powell foi apontado como potencial candidato à presidência na eleição de 1996. Numa decisão muito aguardada na época, ele recusou participar na disputa, alegando falta de "paixão" pela política eleitoral.

"Essa vida requer um chamamento que ainda não ouço", disse aos jornalistas em 1995. "Se fingisse não seria honesto comigo mesmo, não seria honesto com o povo americano".

Powell foi novamente incentivado a concorrer à eleição presidencial de 2000, mas rejeitou os apelos. Em vez disso, apoiou George W. Bush, fazendo um discurso na Convenção Nacional Republicana em que argumentou que o então governador do Texas "ajudaria a reduzir nossas divisões raciais".

Ele foi a primeira escolha de Bush para o gabinete quando foi anunciado como a indicação do 43º presidente para secretário de Estado e, com sua experiência em política externa e ampla popularidade, foi unanimemente confirmado pelo Senado.

Depois de deixar o governo Bush, Powell voltou ao setor privado. Ingressou na renomada empresa de capital de risco Kleiner Perkins em 2005, onde trabalhou como consultor estratégico até à sua morte. Deu também palestras no "Motive-se!", seminários de negócios, e escreveu as suas memórias em 2012.

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