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Explosão em Beirute faz um ano. Conferência de doadores quer “socorrer o povo libanês”

04 ago, 2021 - 07:58 • Lusa

A pequena comunidade portuguesa no Líbano está a passar fome e a viver um clima de apreensão face a uma crise económica que se agrava diariamente.

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Um ano depois das explosões, Beirute ainda tenta reerguer-se da catástrofe
Um ano depois das explosões, Beirute ainda tenta reerguer-se da catástrofe

A conferência internacional de doadores para o Líbano, que decorre esta quarta-feira e organizada pela França e pelas Nações Unidas, visa recolher 295 milhões de euros em ajuda de emergência, precisamente um ano após a explosão no porto de Beirute.

As autoridades libanesas têm atribuído a explosão a um incêndio num depósito onde se encontravam armazenadas 2.750 toneladas de nitrato de amónio. O incidente deixou cerca de 300.000 pessoas desalojadas, mais de 200 mortos e de 6.500 feridos, além de mais de duas dezenas de desaparecidos.

Ao anunciar a reunião de doadores, a Presidência francesa sublinhou tratar-se de “voltar a socorrer o povo libanês”, depois de terem sido arrecadados 280 milhões de euros durante uma primeira conferência internacional, em agosto de 2020, realizada cinco dias após a explosão que matou mais de 200 pessoas e traumatizou o país.

“Enquanto a situação se agravou, as Nações Unidas avaliam em mais de 350 milhões de dólares [295 milhões de euros] as novas necessidades que terão de ser atendidas nas áreas da alimentação, educação, saúde e saneamento de água”, segundo o comunicado do Eliseu.

A escolha da data coincide com o primeiro aniversário da tragédia e, além de fazer um balanço da situação atual, visa aumentar a pressão para a formação de um governo libanês.

O Líbano, nas mãos de um governo interino há quase um ano, passou pela renúncia de dois líderes desde o verão passado devido à falta de consenso político: Mustafa Adib, que durou apenas um mês no cargo, e Saad Hariri, que se demitiu no passado dia 15 de julho após nove meses de desentendimentos com o Presidente libanês, Michel Aoun.

O novo primeiro-ministro designado, Najib Mikati, anunciou, também segunda-feira, que um novo governo só será formado depois do dia de hoje, mas sem avançar uma data precisa.

Sexta-feira passada, o bloqueio da situação levou os países da União Europeia (UE) a aprovaram o quadro jurídico que lhes permite sancionar pessoas ou entidades que considerem responsáveis por obstruir ou minar o processo político democrático.

As prioridades são a alimentação, saúde, educação e a reconstrução, pretendendo também garantir que os mecanismos de distribuição da ajuda ofereçam a eficácia e transparência necessárias.

Comunidade portuguesa apreensiva

A pequena comunidade portuguesa no Líbano está a passar fome e a viver um clima de apreensão, inquietação, sofrimento, incerteza, face a uma crise económica que se agrava diariamente e que está a deixar o país sem classe média.

A perceção foi dada à agência Lusa por dois representantes da cerca de uma centena de elementos da comunidade portuguesa no Líbano (metade deles tem dupla nacionalidade), a antiga advogada Rita Dieb e o fotojornalista João Sousa, que salientaram as "enormes e reais dificuldades para se sobreviver", agravadas com a pandemia.

"Há dificuldades enormes e reais em sobreviver. Há a desvalorização da moeda, não há acesso aos dólares nos bancos, uma hiperinflação, os ordenados não foram atualizados, instabilidade política e social, medos de uma guerra civil e de uma invasão de Israel. Há um cessar-fogo oficial, mas há sempre esse medo real de que possa haver um conflito armado entre os dois países", sintetizou João Sousa à Lusa.

O português, natural de Lisboa trabalha como fotojornalista no diário libanês L'Orient-Le Jour, o único jornal em língua francesa no país, adicionou a estas dificuldades a falta, por um lado, e o aumento por outro dos combustíveis, a falta de energia elétrica e os preços cada vez mais caros mesmo nos alimentos de primeira necessidade.

Também à Lusa, Rita Dieb, luso-guineo-libanesa de 49 anos, antiga advogada natural de Mansoa (60 quilómetros a leste de Bissau) e hoje doméstica, há 17 anos em Beirute, sublinhou que o país está na "bancarrota" e vive uma situação "catastrófica", em que "parte da população vive na miséria e outra na pobreza".

"Tem sido muito complicado, a todos os níveis. Tem havido uma hiperinflação nos preços, quer nos alimentos quer nos medicamentos que, além de serem caríssimos, também não se encontram com facilidade. Não temos tido medicamentos nas farmácias, não tem havido distribuição. Um simples analgésico não se consegue encontrar com facilidade. O leite para as crianças tem sido muito difícil de encontrar e, quando se encontra, tem preços exorbitantes", exemplificou.

"No que diz respeito à comunidade luso-libanesa, pelos contactos que vamos tendo uns com os outros, nas nossas conversas telefónicas, estamos todos a viver num clima de apreensão, inquietação, sofrimento, incerteza. É complicado para todos. Estamos todos dentro do mesmo mar revolto", acrescentou.

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