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Abandono, lixo e medo em centros de acolhimento de imigrantes nos EUA

24 mai, 2021 - 12:12 • Olímpia Mairos

Em março e abril, mais de 36.000 crianças chegaram aos Estado Unidos completamente sozinhas, um recorde nos últimos anos.

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O Governo dos Estados Unidos mantém um vasto número de locais de detenção espalhados pelo país, com mais de 20.000 crianças migrantes.

Segundo uma investigação especial da BBC, nas instalações onde se encontram as crianças há negligência, lixo, piolhos e as temperaturas são demasiado baixas.

A estação de televisão britânica esteve no Rio Grande, o imponente rio que forma a fronteira entre o Texas e o México, e assistiu, durante a noite, à chegada de uma pequena jangada.

“À medida que a balsa aparecia do lado dos EUA, os rostos dos migrantes tornaram-se visíveis. Mais da metade deles eram crianças”, indica a BBC, dando nota que “em março e abril, mais de 36.000 crianças cruzaram os EUA, sem a companhia de qualquer adulto, um recorde nos últimos anos”.

Muitas das crianças viajaram sozinhas, na esperança de se reunirem com um dos pais. De acordo com o Governo, “mais de 80% já têm um membro da família no país”.

“Dois primos jovens chegam de mãos dadas. Outro jovem, Jordy, de 17 anos, disse que havia fugido da Guatemala, porque tinha medo de gangues violentos que operavam lá. Mas nesta noite ele estava assustado com o que poderia esperar nos centros de detenção de migrantes nos EUA. Ele disse que tinha ouvido várias histórias”, escreve a cadeia de televisão.

“Eles vão colocar-nos num frigorífico e fazer-nos perguntas”, disse o jovem citado pela BBC.

Os chamados "frigoríficos", conhecidos entre os migrantes, são salas extremamente frias ou cubículos nas instalações de processamento de migrantes da Patrulha de Fronteira dos EUA.

Crianças referem comida fora de prazo, falta de higiene e frio

Apesar de os jornalistas não terem sido autorizados a falar com as crianças dentro dos centros de detenção, a BBC dá conta de vários relatos de crianças que já foram libertadas.

Ariany, de 10 anos, que atravessou para os EUA sozinha, passou 22 dias detida, a maior parte do tempo no campo de Donna, contou que que viveu amontoada em um cubículo de plástico, assim como dezenas de outras crianças, enroladas em um cobertor de emergência prateado.

“Estávamos muito gelados”, disse, referindo que que não tinham onde dormir e que eram divididos por tapetes, ficando cinco meninas em dois tapetes.

Já Cindy, de 16 anos, contou que esteve com 80 meninas e que ela e a maioria das crianças acordavam todas molhadas, devido a canos que pingavam em cima dos cobertores.

Segundo a criança, dormiam todas abraçadas para não terem frio.

Várias crianças, incluindo Ariany e Paola, uma jovem de 16 anos, também libertada de Donna, disseram à BBC que receberam comida que expirou ou estava podre ou não cozida corretamente e que muitas crianças adoeceram.

Contaram ainda que algumas crianças, em Donna, podiam tomar banho uma vez por semana, enquanto outras ficavam sem tomar banho por várias semanas.

Já Jennifer, que tinha 17 anos na altura da sua detenção, contou que viveu no meio de lixo e que um dia começou a sentir comichão na cabeça e percebeu que não era normal.

“Eles verificaram a minha cabeça e disseram-me que eu tinha piolhos”, contou a adolescente.

Há também relatos de falta de pessoal e de comida, e as crianças que testaram positivo à Covid-19 não estarão separadas das que não estão infetadas.

Segundo a agência noticiosa Associated Press (AP), o Governo dos Estados Unidos detém dezenas de milhares de crianças migrantes, numa opaca rede de 200 instalações distribuídas por 12 estados, dando nota que o número de crianças migrantes sob custódia governamental mais do que duplicou nos dois últimos meses.

Um vetor do plano governamental para controlar os milhares de crianças que atravessam as fronteiras entre os EUA e o México inclui cerca de uma dezena de abrigos, construídos de emergência e sem licença no interior de instalações militares, estádios e centros de congressos, que evitam os regulamentos estatais e não requerem inspeções legais.

Os republicanos têm acusado Joe Biden de encorajar milhares de migrantes, muitos deles menores não acompanhados, a tentarem entrar nos EUA, ao relaxar as políticas migratórias de Trump (republicano).

Biden tem argumentado que o aumento do fluxo migratório já tinha começado antes da sua entrada na Casa Branca.

De acordo com dados publicados em finais de março, mais de 15 mil menores desacompanhados estavam sob a custódia das autoridades norte-americanas, mas, atualmente, serão pelo menos o dobro.

Entre estes menores, quase 5.000 permaneciam em instalações junto da fronteira, que não reuniam as condições adequadas para acolher crianças e jovens.

Na ocasião, Joe Biden encarregou a gestão deste difícil e sensível dossier à vice-Presidente norte-americana, Kamala Harris.

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