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Conselho de Segurança ONU

Boris Johnson. Alterações climáticas ameaçam a segurança "de todas as nações"

23 fev, 2021 - 23:21 • Lusa

Primeiro-ministro britânico lembra os 16 milhões de pessoas deslocadas anualmente na sequência de desastres climáticos, os agricultores que perdem as colheitas por causa da seca e o impacto da subida do nível do mar e dos fogos florestais.

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O presidente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), Boris Johnson, declarou esta terça-feira que as alterações climáticas ameaçam a segurança de todas as nações, durante uma reunião que contou com a participação de David Attenborough.

Em mensagem vídeo passada antes de Johnson abrir a reunião, Attenborough preveniu: “se se continuar no rumo atual, vamos enfrentar o colapso de tudo o que nos dá segurança”, incluindo ar, água, temperatura amena e alimentação do oceano.

Depois de considerar que já se saiu do “período climático estável e seguro” que permitiu a civilização humana, do qual “nada resta”, Attenborough apelou a uma “ação rápida, para atingir um novo estado estacionário”, considerando que a conferência da ONU, em Glasgow, em novembro, “pode ser a última oportunidade”.

Boris Johnson, para ilustrar a gravidade da situação, criticou os que dizem que este problema “é um assunto ecologista de um bando de abraçadores de árvores, de comedores de tofu, impróprio de ser considerado na política internacional”.

Para reforçar a sua argumentação, aludiu aos 16 milhões de pessoas deslocadas anualmente pelos desastres climáticos, algumas que se tornam alvos fáceis de recrutamento de extremistas, aos agricultores que perdem as colheitas pela seca e mudam para as da papoila de ópio e às meninas forçadas a abandonar a escola para ir biscar água, que se tornam vítimas dos traficantes de pessoas. Mencionou ainda o impacto da subida do nível do mar e os fogos florestais.

“Goste-se ou não se goste, é uma questão de quando, não se, o vosso país vai ter de lidar com estes impactos das alterações climáticas na segurança”, afirmou, durante a abertura da reunião do Conselho de Segurança dedicada aos riscos que a rutura climática coloca à segurança e à paz internacionais.

A temperatura média do planeta aumentou 1,2 graus centígrados desde meados do século XIX e o objetivo é evitar um agravamento de 0,3 graus.

O enviado presidencial dos EUA para as questões do clima, John Kerry, afirmou que “não há um momento a perder” e que o governo de Joe Biden quer colocar os EUA em uma rota de corte de emissões de uma forma que, enfatizou, “seja irreversível para qualquer presidente, qualquer demagogo, no futuro”.

Depois de classificar a crise climática como “uma questão do Conselho de Segurança, sem qualquer dúvida”, Kerry afirmou eu o Pentágono já a considerou um “multiplicador de ameaças”.

No mesmo sentido, o presidente francês, Emmanuel Macron, preveniu que “um falhanço (nas negociações do clima) iria minar os esforços para prevenir conflitos e consolidar a paz”.

Apelou ainda ao secretário-geral da ONU, António Guterres, para designar um enviado especial para o clima, que deveria fazer um relatório anual. “O que está em causa é a nossa saúde, as nossas vidas e a estabilidade do nosso planeta”, disse Macron.

O enviado especial da China para as alterações climáticas, Xie Zhenhua, considerou, por seu lado, que “as alterações climáticas se tornaram uma ameaça séria e prioritária para a sobrevivência, desenvolvimento e segurança da humanidade”.

Mas a China e a Federação Russa têm objetado a que o Conselho de Segurança discuta o tema.

Xie considera-o “uma questão de desenvolvimento” e o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, disse que deveria ser discutir em outros organismos da entidade.

“Concordamos que as alterações climáticas e os problemas ambientais podem exacerbar os conflitos, mas são elas a raiz desses conflitos?”, questionou Nebenzia, para responder: “Temos sérias dúvidas sobre isso”.

Kerry contestou a secundarização do envolvimento do Conselho, classificando a ameaça climática como “tão massiva, tão multifacetada”. E insistiu: “É tempo de começar a tratar a crise climática como uma urgente ameaça de segurança que é”.

O presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, realçou o impacto da crise em África, “que vai sofrer o pior, apesar de ser quem menos contribuiu para os gases com efeito de estufa”.

Apontou que a seca no Corno de África, a seca progressiva na bacia do Lago Chade, a redução do Sahel e da vegetação das savanas, “e o agravamento das debilidades económicas criaram dinâmicas políticas, demográficas e migratórias que aumentam a ameaça da insurgência e da violência extremista”.

Guterres apelou a um “aumento dramático” dos investimentos na proteção de países, comunidades e pessoas “dos impactos climáticos cada vez mais frequentes e severos, ao aumento dos sistemas de alerta e à resolução dos problemas da pobreza, falta de alimentação e deslocações causadas pela rutura climática, que contribui para os conflitos.

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