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Indústria da moda

Vestimos 7.000 litros de água numa simples camisa de algodão

30 nov, 2020 - 19:34 • André Rodrigues

Do campo de cultivo à prateleira da loja, a produção de uma camisa de algodão é responsável por 2,6 quilogramas de dióxido de carbono, o correspondente a 14 quilómetros de condução de um automóvel.

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A pandemia fechou muitas lojas, mas, nesta Black Friday, isso não diminuiu a correria às mais recentes tendências da moda, cada vez mais eférmeras, a preços baixos.

A chamada ‘fast fashion’ é, num certo sentido, o lado negro da indústria da moda, em que grandes cadeias internacionais desviam a produção para países onde a produção é massiva e o custo da mão de obra é quase simbólico.

T-shirts, calças de ganga, vestidos e camisas que usamos diariamente são produtos de uma indústria que é responsável por 10% das emissões globais de dióxido de carbono.

Tomando o exemplo de uma simples camisa que se troca todos os dias, a maior parte é feita de algodão, cultivado em 80 países por 25 milhões de agricultores que, entre 2018 e 2019, produziram aproximadamente 26 milhões de toneladas de fibra.

O setor da produção de algodão consome 6% dos pesticidas em todo o mundo, apesar de utilizar, apenas, 2,4% das superfícies de cultivo à escala global.

São produtos químicos que controlam pragas, salvaguardando a qualidade da matéria-prima, ao mesmo tempo que contribuem para a degradação dos solos e das águas, prejudicando espécies selvagens e o próprio ser humano.


Secas extremas fustigam os maiores produtores de algodão

Por outro lado, a produção de algodão é responsável por uma utilização exaustiva de recursos hídricos.

Mais de 70% da produção global desta matéria-prima têm origem em explorações agrícolas com sistemas de irrigação que consomem o correspondente a uma piscina olímpica e meia, qualquer coisa como 3,75 milhões de litros de água.

Um contrassenso, considerando que os campeões da produção global de algodão são, igualmente, líderes do ranking das regiões mais afetadas por secas extremas e prolongadas, como, por exemplo, a Austrália, o México e grande parte do continente africano, onde, todos os dias, cada agricultor tem entre 10 e 20 litros de água disponíveis para higiene pessoal e para cozinhar.

Mas o gasto excessivo de água não fica por aqui: invariavelmente, todos os processos de junção de cor aos tecidos necessitam de água doce e consomem elevadas quantidades de energia, uma vez que a água necessita de estar a uma temperatura mínima de 60 graus Celsius.

Além disso, os tingimentos contaminam as águas com fibras minúsculas de produtos químicos que, em muitos casos, são dispensados diretamente no meio ambiente, sem qualquer tratamento.

É o que acontece, por exemplo, no Camboja, onde a produção de peças de roupa representa 88% da produção industrial e é responsável por 60% da poluição da água.


Uma camisa = 7.000 litros de água

Desde o campo de algodão até à prateleira da loja, a produção de uma camisa consome sete mil litros de água e é responsável por 2,6 quilogramas de dióxido de carbono libertados na atmosfera, o correspondente a 14 quilómetros de condução de um automóvel.

No entanto, apesar de todos os consumos associados a este circuito complexo, o número médio de vezes que uma roupa é usada antes de ir para o lixo está a cair.

No caso do Reino Unido, todos os anos, 350 mil toneladas de roupa em perfeitas condições para serem reutilizadas acabam despejadas em aterros sanitários.

90% das roupas doadas a instituições de caridade estão em perfeitas condições para continuarem a ser utilizadas.

Comentários
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  • João Oliveira
    02 dez, 2020 Lisboa 23:44
    Porque não o cânhamo como alternativa ecológica???
  • Cidadao
    30 nov, 2020 Lisboa 20:14
    Por alguma razão desapareceu o Mar de Aral, vitima da irrigação forçada de enormes campos de algodão, pela antiga União Soviética. Porque não usam água das estações de dessalinização da água do Mar?

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