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Pandemia de Covid-19

Como a poluição pode ter ajudado a propagar o novo coronavírus

07 abr, 2020 - 13:37 • Maria João Costa

O alerta é deixado pelo presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, Manuel João Ramos. A Covid-19 pode permanecer viva cerca de três horas em micropartículas emitidas por automóveis ou indústria. A poluição pode ter contribuído para a propagação do vírus na China e em Itália.

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“Um chapéu de poluição carregado de micropartículas em suspensão” onde “o vírus se agarra” pode ser responsável pela rápida propagação do novo coronavírus em países como a China, Itália ou mesmo em cidades como Madrid, Barcelona e Nova Iorque. A convicção é avançada à Renascença por Manuel João Ramos. O presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados tem vindo a alertar para o facto de ser necessário ouvir a voz da medicina ambiental nesta pandemia.

“É pena que a medicina ambiental não esteja a ser ouvida”, diz o docente do departamento de antropologia do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, que critica também o silêncio dos “ministérios do Ambiente”.

Manuel João Ramos afirma que “toda a gente sabe, olhando para o céu, que a redução da poluição tem efeitos importantes” e sublinha que “a questão da poluição não está desligada da pandemia” da Covid-19.

É preciso perceber, explica Manuel João Ramos, que “a poluição, em condições climatéricas específicas, foi fulcral para o espalhamento inicial da pandemia, tanto em Wuhan, na China, como no norte de Itália”. O também diretor da Aliança Global de ONGs para a Segurança Rodoviária escuda-se em vários estudos que estão a ser feitos a nível internacional que corroboram a sua tese.


“Nevoeiros pesados fizeram com que o vírus, que não sobrevive na atmosfera normalmente, possa ter sobrevivido no ar graças às micropartículas de diesel e da poluição industrial”, explica Manuel João Ramos. Em causa estão, como escreve num artigo de opinião recentemente publicado no jornal Público, “as PM10 e PM2.5, partículas inaláveis com diâmetro inferior a 10 µm, conhecidas como «micropartículas». São, entre os vários poluentes atmosféricos, as que causam maior risco para a saúde porque penetram profundamente os pulmões e atingem os alvéolos pulmonares, causando, não só, perturbações graves no sistema respiratório como nos outros órgãos, dado que se infiltram na circulação sanguínea”.

“A poluição de micropartículas está mais do que provado que provoca doenças respiratórias, diabetes, asmas e doenças cardiovasculares”, alerta Manuel João Ramos. Para este académico, é por isso preciso fazer a ligação entre a questão da poluição e a pandemia.


Em entrevista à Renascença, e questionado sobre o atual momento em que o planeta travou a fundo a sua atividade económica com reflexos já visíveis na melhoria do estado ambiental, Manuel João Ramos diz esperar que sejam tiradas lições. “Espero que possa abrir as consciências”.

Como o vírus se propagou na China e Itália

“Wuhan é um dos centros nevrálgicos da industrial pesada chinesa. Curiosamente, a zona do mercado de Wuhan é a mais poluída”, aponta Manuel João Ramos, que refere que foram as “condições de poluição e climatéricas especiais naquela altura que levaram ao surto explosivo”.

Questionado sobre o caso italiano, este académico explica que se passou o mesmo. “Em Milão e na Lombardia a poluição era tanta em janeiro que o governo italiano declarou um quase estado de emergência para a região. Foi proibida a circulação de automóveis a diesel e foram introduzidas medidas para reduzir a poluição”, explica Manuel João Ramos.

Mas uma greve dos ferroviários impediu que as pessoas pudessem parar os carros, diz Ramos que acrescenta que, “em janeiro e fevereiro, o ambiente era altamente poluído, na Lombardia, e altamente propiciador do espalhamento de uma pandemia”.

O problema da poluição e dos seus efeitos nefastos na saúde não é uma questão de agora, aponta Manuel João Ramos, que dá como exemplo o caso italiano. “Em 2017 morreram 25 mil pessoas com gripe, em Itália, a maior parte delas na zona da Lombardia e Veneto”. A poluição, conclui este académico, vai “enfraquecendo os sistemas imunitários das pessoas”.

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