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Encontro "O Futuro do Planeta"

John Kerry em Lisboa zangado com os políticos. "Esta é a luta das nossas vidas"

15 set, 2019 - 19:31 • José Pedro Frazão

O antigo candidato democrata à Casa Branca anunciou uma plataforma global para colocar os temas ambientais em todas as campanhas eleitorais do mundo em 2020.

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O antigo secretário de estado norte-americano John Kerry pede uma mobilização global dos governantes para acelerar o combate às alterações climáticas. No encontro "O Futuro do Planeta". organizado em Lisboa pelas Fundações Oceano Azul e Francisco Manuel dos Santos, o antigo candidato à presidência dos Estados Unidos mostrou indignação com a inação dos governos para pelo menos cumprir os compromissos rubricados no Acordo de Paris em 2015.

"Não estamos a vencer. Ninguém está a fazer o que prometeu em Paris. Estou zangado! Estou cansado desta conversa", declarou John Kerry perante a plateia que encheu o Teatro Camões, no Parque das Nações. O ex-senador democrata lembra que esteve presente nas Cimeiras de Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, Copenhaga, Quioto e Paris e conclui que "estas reuniões não podem servir de pretexto apenas para falar e precisamos de nos galvanizar para acertar as questões específicas para elevar este esforço".

Kerry anunciou o lançamento de um movimento de antigos governantes e senadores à escala global para que em 2020 a questão climática esteja presente em todas as eleições que se realizem no planeta.

Democracia requer acção

Questionado por um jovem estudante da plateia sobre a melhor forma de combater a crise climática no quadro de múltiplas crises no mundo, Kerry respondeu rápido: "Começar por ter um novo Presidente dos Estados Unidos em 2020", seguido de palmas da plateia.

Vinte minutos antes, o político tinha deixado outro remoque a Trump. "É importante ter um presidente de um pais que acredite na ciência", declarou, acrescentando que "esta é a luta das nossas vidas". A liderança é vital, repetiu por diversas vezes entre diversos apelos à participação democrática "porta-a-porta, rua a rua", porque "a democracia é uma benção, não tem piloto automático". Kerry assegura que os candidatos à nomeação democrata para as presidenciais de 2020 estão qualificados para esse combate.

O antigo governante mostrou compreensão em relação à mobilização global estudantil sobre as alterações climáticas. "Tivemos o julho mais quente de sempre. Não é um sinal? Não agir é absurdo. É por isso que os miúdos fazem greve às aulas", declarou John Kerry, casado com Teresa Heinz Kerry, nascida em Moçambique e crítica do sotaque português de Kerry. "Ela acusa-me de o aproximar de um certo italiano", gracejou, numa passagem em que lembrou que Portugal, feito 97% de mar, "conhece visceralmente" o desafio dos Oceanos.

Novos tratados são necessários

Preocupado com a quebra do empenho internacional no cumprimento do Acordo de Paris - "tudo no mundo de hoje é rápido menos os governos" -, Kerry confessou que Paris foi sobretudo um sinal para os mercados, porque "sabia que não conseguíamos ter um acordo obrigatório e não podíamos garantir a limitação do aumento das temperaturas".

O antigo candidato presidencial norte-americano defende uma nova gama de acordos internacionais. Sobre o alto mar - "o wild west dos tráficos de hoje" -, sobre o nuclear, o ciberespaço. "Negociámos com os russos, com o Irão e hoje não há ninguém com quem negociar sobre o alto mar", acrescentou Kerry, que diz não ouvir ninguém na política a falar destes temas com urgência. " É por isso que as pessoas procuram extremos na direita, na esquerda ou até no centro", complementou o antigo Secretário de Estado norte-americano, que anuncia a compra em breve de um carro eléctrico para uso pessoal.

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