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Myanmar não aceita decisão da ONU de processar generais por ataques aos rohingya

29 ago, 2018 - 14:17

Alegam que os militares responderam a uma ameaça legítima dos militantes Rohingya, que atacaram postos da polícia em todo o estado de Rakhine.

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Myanmar rejeitou esta quarta-feira um relatório dos investigadores das Nações Unidas que pedia que os principais generais do país fossem processados por genocídio, afirmando que a comunidade internacional estava a fazer "falsas alegações".

O relatório da ONU marca a primeira vez que a ONU pede explicitamente às autoridades de Myanmar para enfrentarem as acusações de genocídio devido à repressão brutal contra os muçulmanos rohingya no ano passado.

"A nossa posição é clara e quero dizer que não aceitamos nenhuma resolução conduzida pelo Conselho de Direitos Humanos", disse o principal porta-voz do governo, Zaw Htay, em entrevista publicada nos média estatais.

Esta missão de esclarecimento sobre Myanmar foi estabelecida em março de 2017 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Myanmar não permitiu que investigadores da ONU entrassem no país, disse Zaw Htay, acrescentando: "É por isso que não concordamos nem aceitamos quaisquer resoluções feitas pelo Conselho de Direitos Humanos".

A mesma fonte disse que o país tem "tolerância zero a qualquer violação dos direitos humanos" e criou uma Comissão de Inquérito para responder às "falsas alegações" feitas pela ONU e "outras comunidades internacionais".

Myanmar tem negado a maioria das alegações, dizendo que os militares responderam a uma ameaça legítima dos militantes Rohingya, que atacaram postos da polícia em todo o estado de Rakhine.

"Se houver algum caso em que os direitos humanos estejam em causa, basta-nos ter uma forte evidência, registro e data para que possamos tomar medidas legais contra aqueles que violarem as regras", disse Zaw Htay.

Malásia quer medidas

Já o Ministério das Negócios Estrangeiros da Malásia disse na quarta-feira que é responsabilidade de Myanmar tomar medidas contra os culpados pelo alegado genocídio.

Se Myanmar se mostrar "pouco disposto ou incapaz de garantir a justiça", o Conselho de Segurança da ONU deveria intervir e estabelecer um mecanismo judicial internacional para julgar os indivíduos mais responsáveis pelos crimes.

"A Malásia vai continuar a falar sobre o sofrimento dos rohingyas. Continuaremos também a pedir apoio internacional ao governo de Bangladesh, país em que cerca de um milhão de rohingyas encontraram refúgio", disse Saifuddin Abdullah, presidente da Malásia, em comunicado.

Cerca de 700 mil rohingya fugiram da repressão militar no Estado de Rakhine, no oeste do país, para o vizinho Bangladesh, segundo agências da ONU. Juntaram-se a quase 200.000 rohingya que já viviam em acampamentos há anos.

Na capital do Bangladesh, Daca, o ministro de Estado dos Negócios Estrangeiros Shahriar Alam disse a repórteres que a ONU produziu "o relatório mais abrangente, factual e crucial desde o ataque de agosto do ano passado".

Alam disse que era natural que Myanmar rejeitasse o relatório, mas acrescentou: "Isso não importa. O mundo sabe de tudo".

No mesmo dia em que a ONU divulgou o relatório, o Facebook fechou a conta do general do exército Min Aung Hlaing e de outros altos oficiais militares, acusando-os de usar sua plataforma para espalhar "ódio e desinformação".

Na entrevista publicada na quarta-feira, Zaw Htay disse que o governo não ordenou qualquer proibição e estava a questionar o Facebook sobre a ação, afirmando que a mesma causou "crescentes críticas e medo entre as pessoas".

O governo civil de Myanmar partilha o poder com os militares, que controlam os principais ministérios, incluindo assuntos internos e imigração.

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