18 jul, 2017 - 17:45 • Kieran Guilbert, Fundação Thomson Reuters
Dezenas de milhares de crianças na região do Lago Chade, em África, estão a ter aulas pela rádio, depois de o Boko Haram lhes ter negado a hipótese de irem à escola.
O programa de rádio inclui aulas para aprender a ler, a escrever e a fazer contas. São também transmitidos conteúdos sobre formas de as crianças se protegerem dos ataques do grupo extremista.
De acordo com a UNICEF, os destinatários deste programa são as cerca de 200 mil crianças que se encontram deslocadas das suas casas e fora da escola, na região a norte dos Camarões e a sul do Níger, na zona central do continente africano.
O Boko Haram é um grupo extremista islâmico, cujo nome significa “a educação ocidental é um pecado”. Um dos objectivos do grupo, que já matou mais de 20 mil pessoas, é eliminar as iniciativas educativas das regiões que ocupa. Cerca de 2,7 milhões de pessoas foram retiradas à força das suas casas, desde 2009, como resultado da tentativa de criação de um Estado Islâmico pelo grupo extremista.
Desde a fundação do grupo extremista, há oito anos, os membros do Boko Haram já mataram mais de 600 professores e forçaram o encerramento de mais de 1.200 escolas, na Nigéria, no Níger, nos Camarões e no Chade, de acordo com a agência das Nações Unidas dedicada às crianças.
“Os níveis de tédio entre as crianças nos campos para deslocados são enormes”, diz o porta-voz da UNICEF. “Com este programa educativo na rádio, as crianças têm aulas de uma forma estruturada. Assim, quando voltarem à escola, não estão tão atrasadas” nas aprendizagens, explica Patrick Rose, numa conversa por telefone com a Fundação Thomson Reuters.
Os líderes comunitários têm-se mobilizado para encontrar e partilhar aparelhos de rádio e para reunir grupos de crianças para as sessões radiofónicas.
As aulas são emitidas em francês e nas línguas locais (kanouri, fulfulde e hausa). Neste momento, há já 150 aulas a serem transmitidas pela rádio.
“Num futuro próximo, esperamos que estas crianças possam receber um certificado e passar de ano”, diz a directora regional da UNICEF, Marie-Pierre Poirier.
O projecto é apoiado pela União Europeia e pelos Governos dos Camarões e do Níger.