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Sampaio lança apelo contra populismo que trave "corrida para o abismo"

14 nov, 2016 - 08:02

Ex-Presidente da República defende que, no actual contexto europeu e internacional, “reconstruir a confiança” constitui “um desafio grande, moroso, complexo, mas incontornável”.

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O ex-Presidente Jorge Sampaio lançou um apelo para travar a "corrida para o abismo" potenciada pelo ‘Brexit’ e pela vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas, alertando que não haverá paz duradoura se a desconfiança persistir.

Num ensaio para o jornal “Público”, o ex-chefe de Estado refere-se ao resultado das presidenciais da semana passada nos Estados Unidos, que deram a vitória ao magnata republicano Donald Trump, para advertir que é “impossível não olhar já para as eleições de 2017 em França e na Alemanha como próximas etapas prováveis desta corrida para o abismo”.

Sampaio defende que, no actual contexto europeu e internacional, “reconstruir a confiança” constitui “um desafio grande, moroso, complexo, mas incontornável”.

“Não há economia, nem mercado, nem política, nem democracia sem esse cimento de base, a confiança. Não há paz duradoura se a desconfiança minar as relações entre comunidades, povos e nações, se o pacto social for rompido”, alerta.

O ex-Presidente da República sublinha que é preciso proceder à “recapacitação” das democracias ocidentais ao nível nacional, central e local, o que passa pelo “resgate da democracia representativa na Europa”.

“Tenho a convicção de que cabe à Europa contribuir para reinventar a democracia para a nossa era da globalização, até porque a Europa não é só parte dos problemas, mas é também da solução, dando aos países mais controlo sobre políticas que se tornaram globais”, preconiza.

Confiança abalada

Antes de lançar um “apelo veemente” para que se trave aquilo que designa por “corrida para o abismo”, Jorge Sampaio identifica problemas, começando desde logo por recordar que “os fundamentos da crise continuam presentes”, como mostra o “baixo crescimento, o alto desemprego e a elevada dívida pública e privada”.

“A crise das dívidas soberanas não foi resolvida, mas basicamente está apenas suspensa devido à intervenção do Banco Central Europeu”, assinala o ex-Presidente.

Sampaio atribui a este contexto de crise o surgimento de “partidos políticos fora do ‘mainstream’, partidos de franjas e extremos”, bem como “o reforço dos partidos antieuropeus e populistas que advogam o encerramento das fronteiras, o proteccionismo e o regresso dos nacionalismos”.

“A mim parece-me que a confiança está hoje abalada de forma sistémica e sistemática – e, no fundo, a questão que se coloca é se esta desconfiança está já demasiado cimentada para ser reversível e evitar o alastramento dos populismos de toda a sorte”, sublinha, apontando a saída do Reino Unido da União Europeia (‘Brexit’), que classifica de “ponto de não retorno no projecto europeu”, ou a eleição de Trump como Presidente dos Estados Unidos.

Além disso, Jorge Sampaio considera que “ninguém parece acreditar que Bruxelas (ou Berlim) tenha qualquer iniciativa para responder à crise da Eurozona, para alterar a ortodoxia financeira dos credores ou para criar as condições institucionais e orçamentais que tornem possíveis programas de reforma nas economias mais frágeis”.

Comentários
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  • Éborense
    15 nov, 2016 Évora 00:43
    É um recado do Dr. Jorge Sampaio ao seu amigo e camarada Costa, o qual está vivo politicamente graças a dois partidos populistas.
  • alarme
    14 nov, 2016 Santarém 22:45
    Enquanto temos passado o tempo a escorregar para o abismo com más governações, globalizações e desemprego, emigrações vindas de todo o lado para sermos simpáticos a regimes, credos e governos que nada nos dizem o senhor Sampaio não se assustou, agora que começa a verificar que o povo começa a estar enjoado de tanto desaire e a ver que outros irão tomar as rédeas disto tudo já está preocupado porque o abismo poderá dar-lhe resultados inversos ao que antes esperava.
  • joao
    14 nov, 2016 barreiro 19:07
    quando estes banas do politicamente correcto , começarem a ouvir o povo , terei consideraçao por eles , ate la nao lhes dou ouvidos .
  • Americo
    14 nov, 2016 Leiria 18:20
    "...para criar as condições institucionais e orçamentais que tornem possíveis programas de reforma nas economias mais frágeis...” Pois tivemos essa hipótese, mas o sr. dizia que havia vida para além do défice. Pois esbanjamos recursos e continuamos na mesma. Estes srs. não conhecem o País em que vivemos. Há cada vez mais uma clivagem entre os povos. Não é por acaso que constantemente ouvimos esta frase nas mesas do café...." havia de vir cá outro Salazar"...... É muito preocupante isto.
  • rogerio
    14 nov, 2016 setubal 11:58
    o tempo que o sr leva a cagar postas de pescada era melhor fazer como o sr Trump deixar de chular o português e passar a não receber nada do nosso suor
  • JAIME
    14 nov, 2016 ALMADA 11:50
    Sim ILUMINADOS é o que como se sente a nossa classe politica da esquerda à direita, muito iguais. O que se passou com Trump não é diferente do que se passou com o aparecimento dos "Podemos" ou mesmo com o nosso governo Populista pois foi o povo que decidiu! Os interesses de quem vota são sempre idênticos proteger-se a si aos seus, afinal aquilo que os partidos tão bem sabem fazer e que todos vamos aprendendo, PRIMEIRO NÓS!
  • Pobres
    14 nov, 2016 Marco 11:10
    Para o Sr Martins : Estou verdadeiramente esclarecido. O que é que se obteve de relevante do sujeito que possa ser mencionado.Os políticos têm transformado Portugal num país que cada vez menos corresponde àquilo que se pretende. Um país com uma dívida assustadora que para ser paga tem implicado sacrifícios sem precedentes aos portugueses . Basta referir que as vistas e sol . O populismo através das declarações que fazem dá-lhes o protagonismo que é necessário para se manter em alta. Os votos são imprescindíveis e como tal implicam propaganda.
  • António
    14 nov, 2016 Nesperal 10:31
    Sim, lá experiência tem o rapazinho...
  • Luis B.
    14 nov, 2016 Para cá da muralha da China 10:24
    O Dr.º Sampaio, uma das pessoas que ao longo da vida beneficiou deste sistema politico de blá-blá e de andar tudo ao "deus-dará", uma pessoa que nunca exerceu na privada e sempre beneficiou das regras que os políticos fazem, para eles próprios (maiores salários, maiores regalias, pensões vitalícias acumuladas com outros rendimentos, etc) está preocupado com o povo!!! Pasme-se: foi eleito pelo povo e agora está preocupado com o povo, porque este povo já não decide como ele e a nomenklatura politico-partidária entendem que devia decidir! Deviam decidir dentro do "mainstream", do "centro" politico e não nas "franjas".. Estranho conceito de democracia têm este tipo de gente (vá lá saber-se porquê, são todos de esquerda)... Contudo, pela positiva, identifica um conjunto de razões que levam o povo a votar fora do "mainstream".. e quais são elas? São as que a esquerda não consegue resolver e nunca deixa a direita resolver... O caso de Portugal é evidente: com a direita, houve cortes nos rendimentos, mas havia uma estratégia para o desenvolvimento do país que estava dar resultados e que prometia reposição lenta e gradual dos rendimentos tirados por via da crise socialista (Sócrates é do PS correcto?) em funçao do crescimento económico e do aumento da produtividade. A esquerda sempre esteve contra a ordem, o rigor e disciplina da direita porque onde ganha votos é prometendo o contrário!!!! E o contrário é isto que se vê: há rendimentos mas não condições para os sustentar...
  • Pedro
    14 nov, 2016 Braga 10:18
    A "Confiança abalada" está do povo em relação ao "político normal" e a política em geral. Como se pode permitir que alguém seja eleito com base num projeto para governação futura e que depois possa fazer o contrário sem ser responsabilizado ou demitido? Como querem confiança do povo, se prometem aumentar o salário e condições de vida, mas ao contrário cortaram nos rendimentos? Como o anterior governo. Fez campanha num sentido, governou para outro. E durante o tempo que lá esteve, nada aconteceu. Temos que ter uma democracia por objetivos. Quem é eleito, ser obrigado a cumprir maior parte do que prometeu, ou ser demitido. Ter metas anuais. Se falhar, eleições.

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