07 nov, 2016 - 17:55 • Carlos Calaveiras
Francisco Semião é norte-americano, filho de pai português e director da Organização Nacional de Portugueses Americanos (National Organization of Portuguese Americans – NOPA). Votará em Donald Trump nas eleições desta terça-feira.
“Para mim, Trump é um pouco melhor que Hillary e não vou mudar de opinião”, afirma ao telefone com a Renascença desde Falls Church, na Virgínia.
Francisco Semião considera que “estas eleições são muito importantes para o futuro do país” até porque, acredita, os Estados Unidos “estão cada vez pior, com a dívida a aumentar”.
Mas porquê Trump? “É um ‘outsider’, não vive do dinheiro do Governo, não foi eleito, é um homem de negócios que sabe o que a economia precisa para o país ficar melhor.”
A defesa das políticas de Trump
O luso-norte-americano defende várias das políticas de Trump. Por exemplo, o reforço de fronteiras: “Quer melhorar as fronteiras, não para discriminar. Se uma pessoa quer entrar no país, tem de vir para produzir e não para causar problemas. O sistema que existe agora não garante que uma pessoa de um país perigoso não entre e cause problemas”.
Defende que “no sul do país estão a entrar pessoas que não sabemos quem são e muitas delas são criminosos, vendem drogas”. Uma das propostas mais polémicas de Trump é a construção de um muro entre os Estados Unidos e o México para travar a imigração ilegal.
Francisco Semião conta à Renascença que a sua mãe é de El Salvador e, por isso, conhece “situações de pobreza” e compreende que “queiram sair e arriscar fazer uma viagem muito perigosa até à América. Mas não se pode dizer ‘Venham, venham porque temos aqui um cheque que vos ajuda’”.
“E depois dizem: ‘Os Estados Unidos são um país de imigrantes’. Sim. Mas antes havia quotas e as pessoas que entravam tinham de ser saudáveis e tinham de ter um trabalho e não ficar a viver da assistência pública”.
“Não há orçamento que aguente, a dívida é enorme”, argumenta.
Os casos
Sobre as constantes polémicas em que o seu candidato à Casa Branca se tem visto envolvido, Francisco Semião culpa em boa parte os principais média norte-americanos – “mudam as palavras de Trump”, “não contam toda a verdade” ou escondem os “podres” de Hillary Clinton.
Semião explica a sua versão de alguns dos casos que têm perseguido Donald Trump nos últimos meses.
“As mulheres que acusam o Trump demoraram todo este tempo porquê? Não falaram antes porquê? Se é uma acusação verdadeira – e não um plano do Partido Democrata - então devem levar o senhor Trump a tribunal. Ainda não aconteceu”, diz o luso-descendente.
“Quanto aos impostos, numa altura, Trump perdeu muito dinheiro com imobiliário e beneficiou de uma lei que dizia que se alguém perde dinheiro aí, deixa de pagar impostos pessoais. Mas sempre pagou os impostos das empresas de que é dono”, acrescenta.
Semião recorda até o que Trump perguntou a Hillary durante um dos debates entre ambos: ‘Se não gostas desta lei porque não a mudaste enquanto estiveste no Senado?’. E dá a resposta: “Porque ela tem muitos doadores que também beneficiaram dessa lei”.
O ataque a Hillary
É nesta altura da conversa com a Renascença que o líder da National Organization of Portuguese Americans aproveita para atirar algumas “farpas” contra a candidata democrata.
Recorda que “a senhora Clinton foi muito activa a silenciar e arruinar a reputação das mulheres que acusaram o seu marido” na altura em que Bill Clinton foi Presidente dos Estados Unidos e se viu envolvido em alguns escândalos de infidelidade.
“E se a senhora Clinton quer falar de finanças, porque não fala das finanças da Fundação Clinton que, por exemplo, teve muitos donativos para o Haiti, mas só uma percentagem mínima chegou lá?”.
E há também o verdadeiro “calcanhar de Aquiles” da campanha democrata: o caso dos emails do tempo em que Hillary Clinton era secretária de Estado. “Já houve casos em que pessoas fizeram menos que a senhora Clinton e estão na cadeia ou, pelo menos, com processos judiciais.”
E se Trump ganha?
O milionário Donald Trump já deixou a ameaça no ar: pode não aceitar o resultado das eleições presidenciais de terça-feira se houver algum tipo de dúvida eleitoral.
Francisco Semião recua até às presidenciais de 2000 para recordar que o candidato democrata da altura [Al Gore] “não aceitou os resultados finais, passaram meses até se finalizar o processo e foram feitas várias recontagens”. Houve recontagem no estado da Florida depois de vários problemas nos boletins de voto e os 25 delegados acabaram por sorrir a George W. Bush e foram decisivos para a atribuição do vencedor.
“O que Donald Trump queria dizer é que, se se provar que houve fraude eleitoral, ele vai queixar-se. Sabemos que há mortos que estão a votar, pelo menos, em dois estados. Mas, se ganhar a senhora Clinton por um resultado muito óbvio, ele vai aceitar”, acredita Semião.
Nos Estados Unidos a dúvida permanece sobre quem será o próximo inquilino da Casa Branca e boa parte do mundo treme só de pensar na possibilidade de Donald Trump chegar a Presidente dos Estados Unidos. Francisco Semião desdramatiza.
“Donald Trump não é refinado, mas todos os que o conhecem dizem que ele é incrível. Toda a gente gostava de Trump até começar a sua campanha presidencial e os média não falam de coisas que o beneficiam e, realmente, a percepção internacional não é boa. Mas acho que se ele chegar a Presidente e começar a viajar para outros países vão ver outro Trump. O interesse dele enquanto Presidente vai ser, primeiramente, como favorecer a América. Bush e Obama não foram Presidentes decisivos internacionalmente e, por isso, agora vir alguém como Trump, decisivo e forte, pode deixar os países com algum medo. Mas acredito que depois de chegar à administração vão acabar por gostar dele”, disse.
Obama dividiu a América
Francisco Semião votou em Obama há oito anos, mas sentiu-se defraudado.
“Prometeu unir o país, mas usou a administração para dividir a América, mentiu sobre o sistema de saúde, aumentou os preços a muitos produtos. A ideologia de Obama é marxista. Respeito isso, mas lamento que tenha dito uma coisa na campanha e feito outra. O país não está pronta a aceitar que se mude para um sistema socialista.”
E os portugueses estão mobilizados para votar no dia 8 de Novembro? O presidente da National Organization of Portuguese Americans garante que sim.
“Temos uma comunidade muito diversa e, por isso, a NOPA não apoia nenhum dos candidatos. O que a NOPA apoia é que a nossa comunidade tenha voz, esteja esclarecida e vote. A comunidade está mobilizada para votar”.
No futuro, Francisco Semião tem um objectivo: apoiar luso-descendentes dos dois partidos a chegar ao Congresso e ao Senado.