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​"Há uma desorientação absolutamente incompreensível no Reino Unido"

09 jul, 2016 - 22:41 • José Pedro Frazão

O rescaldo político do referendo europeu no Reino Unido causa perplexidade a Pedro Santana Lopes. O problema do “Brexit” não são os mercados mas a incerteza na economia, acrescenta António Vitorino. As ondas de choque na finança e na política em análise no programa “Fora da Caixa”.

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​"Há uma desorientação absolutamente incompreensível no Reino Unido"

O “Brexit” ganha, as caras da vitória anunciam saídas de cena, adiam-se procedimentos, sugere-se um segundo referendo que o Governo rejeita. O que se passa com a política britânica?

"É uma desorientação absolutamente incompreensível. Fala-se da falta de liderança da União Europeia, mas o que se passa no sistema político do Reino Unido é confrangedor. Não foge tudo por acaso, senão corria-se o risco de Westminster ficar vazio com tudo a fugir dali para fora. É uma “ressaca” muito pesada para o lado do Reino Unido", afirma Pedro Santana Lopes no programa "Fora da Caixa" da Renascença.

Os estilhaços do “Brexit” atingem os principais partidos britânicos. Nos conservadores, a batalha vai ser travada entre a ministra do Interior, Theresa May, e a secretaria de Estado da Energia, Andrea Leadsom.

"É muito interessante. O ‘Brexit’ ganhou mas a candidata que está à frente nos prognósticos, Theresa May, é aquela que de alguma forma aparece podendo limitar os estragos do ‘Brexit’. A ministra do Interior não é uma entusiasta europeia, longe disso, mas apoiou o ‘Remain’ e o primeiro-ministro, David Cameron", assinala o antigo comissário europeu António Vitorino.

O jurista, militante do PS, reconhece que a turbulência nos trabalhistas ainda está a começar, com notícias de filiações em massa.

"Estão a contar espingardas e a direcção do Partido Trabalhista está a ‘arrebanhar’ apoiantes, para se preparar para o enfrentamento que vai acontecer. Já foi assim no passado. Corbyn ganhou porque fez uma eleição aberta, onde muita gente não tradicional do Partido Trabalhista inscreveu-se pagando três libras para poder ter o direito a votar na escolha do líder do partido", assinala Vitorino que admite que o líder trabalhista Jeremy Corbyn está já a garantir uma base de apoio para o momento em que a liderança for discutida internamente voto a voto. Santana provoca: "Um pouco de segurismo…".

É a economia, estúpido

A última semana foi marcada por forte instabilidade nos mercados de capitais e sobretudo na cotação da libra, que desceu para valores sem paralelo nos últimos 30 anos.

António Vitorino não se impressiona. " Isto vai ser o primeiro impacto, que resulta em larga medida da responsabilidade dos próprios mercados e dos investidores, convencidos que o ‘Remain’ ia ganhar. Estando convencidos de uma coisa e tendo sucedido outra, é natural que imediatamente a seguir se faça a recuperação e o ajustamento da imprevisibilidade. Os mercados acabarão por tender a estabilizar", prevê o antigo comissário europeu que vê o problema económico do “Brexit” noutra vertente.

"Ele está na incerteza prolongada que vai ser gerada até haver um novo primeiro-ministro britânico no Outono", adverte o comentador socialista, acrescentando que algumas empresas internacionais começam a considerar a hipótese de transferir parte da sua operação para o resto da União Europeia.

"Não sei ainda as consequências de cada um dos países da União Europeia vai tirar de tudo isto", confessa Santana Lopes. Certo é que começou já a batalha pelos despojos dos serviços financeiros de Londres.

"Há quatro cidades que estão neste momento numa luta desesperada. Paris e Frankfurt, como é clássico nestas coisas, mas atenção à propaganda que está a ser feita pelos irlandeses por Dublin ou pela praça financeira do Luxemburgo", analisa António Vitorino.

Choque fiscal?

O Governo britânico anunciou, entretanto, a intenção de baixar o imposto sobre empresas para 15% para travar o impacto negativo do “Brexit”.

António Vitorino encara a medida como um incentivo para que os empresários não tomem decisões precipitadas.

Mas é um "horizonte de expectativa que não resolve o problema de fundo", acrescenta o antigo comissário europeu para quem a questão essencial passa por conhecer as condições em que as empresas no Reino Unido vão passar a poder aceder ao mercado interno europeu. "Essa questão não vai ser resolvida no curto prazo", avisa o comentador da Renascença.

Para Santana Lopes, a baixa do IRC "esconde" outra medida fiscal a prazo. " Um dia destes dias vão ter que aumentar a taxa sobre o rendimento das pessoas. Então se a libra continua baixa, de algum lado tem que vir o financiamento para sustentação do equilíbrio orçamental económico. Não é que a baixa do IRC produza um dano irreversível. Mas acho que vai ter esse contrapeso porque os prejuízos vão ser durante algum tempo do lado do Reino Unido", remata o antigo primeiro-ministro.

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