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Como é a corrupção vista no mundo?

14 set, 2015 - 20:19

Depois de uma década a cair na tabela, Portugal conseguiu em 2014 uma ligeira recuperação no ranking mundial de percepção de corrupção, segundo os últimos dados do índice da Transparency International.

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Depois de uma década a cair na tabela, Portugal conseguiu em 2014 uma ligeira recuperação no ranking mundial de percepção de corrupção, segundo os últimos dados do índice da Transparency International (TI). Mas o mundo é enorme visto de Portugal.

O tema da corrupção foi abordado na entrevista que o Papa concedeu à Renascença e que foi divulgada esta segunda-feira. Francisco afirma que as pessoas estão desiludidas com o fenómeno global da "corrupção a todos os níveis". Manifestou “confiança nos políticos jovens” para atacar o problema.

Quando olhamos para o mapa da percepção global da corrupção, vemos como se distribui geograficamente por blocos e como existem áreas mais “quentes” que outras, de acordo com o índice da TI.

Entre os 175 países alvo de análise, Portugal surge no 31º lugar. Ganhou dois pontos neste índice, que mostra como especialistas das principais organizações internacionais vêem a transparência dos Estados e a corrupção no mundo.

Numa lista que tem nos três primeiros lugares a Dinamarca, a Nova Zelândia e a Finlândia, os resultados dos países lusófonos são particularmente maus. Só Portugal e Cabo Verde ficam entre os 50 primeiros, sendo que Angola - um dos países que mais desceu - e a Guiné-Bissau, por exemplo, ocupam o lugar número 161.

Mais de dois terços dos países analisados ficaram abaixo de 50, sendo que 0 significa “altamente corrupto” e 100 significa “muito limpo”. Através desta escala podemos ver como a “imaculada” Dinamarca sai por cima com uma pontuação de 92, enquanto a Coreia do Norte e Somália partilham o último lugar, com apenas oito pontos.

Apesar de serem países com uma média de crescimento económico de mais de 4% ao longo dos últimos quatro anos, a China (com uma pontuação de 36 em 100), Turquia (45) e Angola (19) estavam entre as maiores quedas, a cair 4 ou 5 pontos.

As maiores quedas foram na Turquia (-5), Angola, China, Malawi e Ruanda (todos -4) e as maiores subidas foram Costa do Marfim, Egipto, São Vicente e Granadinas (5), Afeganistão, Jordânia, Mali e Suazilândia (4).

Países no topo não devem exportar corrupção para os subdesenvolvidos

“A ‘Corruption Perceptions Index 2014’ mostra que o crescimento económico é prejudicado e os esforços para impedir a corrupção desvanecem-se quando os líderes e funcionários de alto nível abusam do poder para se apropriar de fundos públicos para obter ganhos pessoais", disse José Ugaz, o presidente da Transparency International.

Como, por exemplo: “funcionários corruptos a contrabandear activos em paraísos fiscais ilícitos através de empresas ‘offshore’ com absoluta impunidade."

Para este especialista, os "países na parte inferior precisam de adoptar medidas anti-corrupção radicais a favor do seu povo", e “os países no topo do índice devem-se certificar de que não exportam práticas corruptas para países subdesenvolvidos”.

Portugal: “Chegámos ao limite do que podemos fazer sem estratégia”

Voltando a Portugal, a associação cívica Transparência e Integridade (TIAC), representante nacional para o combate à corrupção, faz uma análise dos dados que mostra uma ligeira melhoria, mas que ainda não significa uma inversão da tendência de descida que se vinha acentuando nos últimos anos.

Será, isso sim, o máximo que Portugal consegue para já alcançar, disse em Dezembro do ano passado o director-executivo da TIAC, João Paulo Batalha.

"Uma estagnação já não é mau, tendo em conta que na última década Portugal caiu de forma significativa neste índice. O que isto indica é que, essencialmente, chegámos ao limite daquilo que Portugal consegue fazer em matéria de transparência sem ter, como não tem, uma estratégia integrada ao combate à corrupção, com meios para verdadeiramente seguir o rasto do dinheiro roubado e punir os responsáveis pela corrupção.”

Este ranking foi elaborado ainda antes de serem conhecidos os mais recentes, e muito mediáticos, casos judiciais em Portugal, a maioria deles envolvendo suspeitas de crimes de corrupção.

Se tiverem alguma influência, será este ano. Falta saber se realçando positivamente o trabalho do sistema de Justiça, ou se, pela negativa, destacando a fragilidade das instituições.

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